Sugestão aos governantes, autarcas e afins, deste país:
E que tal decorar as placas indicativas das várias localidades de Portugal, com pinturas ou artefactos da zona, dando um colorido e maior personalização local às placas feitas por uma empresa francesa desde há uns 10 anos?
O melhor seria ter placas mais identificadas com o estilo português, feitas por uma empresa portuguesa (até podiam ser de cortiça, por exemplo), mas já nem falo nisso só para não inflacionar os custos.
Até se podia fazer concursos pelas regiões para escolher o melhor trabalho e artista para cada zona.
sábado, fevereiro 28, 2015
domingo, fevereiro 22, 2015
de cordeiro a lobo, labirinto ikea
Um tipo vai ao Ikea, senta-se num confortável sofá e sente-se em casa.
Até que começa a ser incomodado pelas dezenas de estranhos que vão invadindo o nosso conforto. E já estava eu prestes a dormir uma siesta... Quando olho para o lado e tenho uma velhota ao lado a medir o sofá ou a minha cabeça, parecia.
Um tipo entra no Ikea cordeiro e sai lobo assassino, capaz de morder quem se atravesse no nosso caminho. Especialmente ao fim‑de‑semana, dia de romaria familiar ao mega labirinto do consumo para o lar.
Os últimos metros de Ikea são de sofreguidão para mim. Pessoas lentas por todo o lado e o fim parece nunca mais chegar... Ao estilo Blair Witch Project, mas a floresta já está na forma de móveis e em vez de fantasmas que aparecem de onde menos se espera, temos zombies barulhentos e com gosto pela discussão por todo o lado. Uff.
sábado, fevereiro 21, 2015
os filmes dos óscars
Os filmes candidatos a Melhor Filme dos Óscares, por mim:
patriota e nem por isso anti-guerra
génio à força
me stephen, you jane. a vida dos Hawking com e sem ELA
Uma história impressionante e bem contada, muitíssimo
bem interpretada mas que podia ser mais arrebatadora na forma como é realizada
e na forma como a história se desenvolve e como nos aproxima das personagens.
boyhood, 12 anos de vida num filme notável
birdman, um homem passáro a voar de emoção em emoção
patriota e nem por isso anti-guerra
American Sniper
génio à força
whiplash
me stephen, you jane. a vida dos Hawking com e sem ELA
A Teoria de Tudo. A Theory of Everything.
The Imitation Game –
O Jogo da Imitação –
a Selma de Martin Luther King
Grand Hotel Budapest
Um filme tão cómico, com as típicas personagens
cativantes,
divertidas e interessantes do seu realizador, quanto sério e intenso.
Wes
Anderson consegue um belo equilíbrio numa boa história sobre o concierge
lendário de um hotel numa república ficcional e as suas aventuras,
sempre com o
seu fiel paquete a seu lado, passado entre a primeira e segunda guerra
mundial.
Um vasto, peculiar e bem conseguido elenco alimenta um filme que nos faz
rir, sorrir e nos chega a emocionar. Wes Anderson ao seu melhor.
boyhood, 12 anos de vida num filme notável
Linklater filmou ao longo de 12 anos Ellar Coltrane a tornar-se adolescente e Ethan Hawke e Patricia Arquette como pais num filme único e notável: Boyhood: Momentos de Uma Vida.
Imagine um drama onde acompanhamos uma criança (Ellar Coltrane) a crescer, dos 6 aos 18. Pelo meio assistimos às vicissitudes da vida dos pais, divorciados, da mãe a tentar encontrar um rumo, da irmã (filha de Linklater) desde os tempos em que lhe faz a vida negra à maioridade.
Já houve muitos (e bons) filmes com esta temática. Nunca houve um como Boyhood: Momentos de Uma Vida, de Richard Linklater.
O que o realizador de Antes do Amanhecer concretiza é uma experiência de vida a ocorrer à frente dos olhos do espectador da forma mais real e natural possível numa espécie de cápsula do tempo.
O filme foi gravado ao longo de 12 anos de vida real dos atores – vemos as crianças a crescer de uma forma inédita. Todos os anos o realizador filmava cerca de uma semana com os atores.
O resultado desses 12 anos somados em filme é algo muito mais natural e sociologicamente relevante do que qualquer filme até agora conseguiu. O que Linklater consegue é uma vivência íntima, emocionante e tocante (sem ser lamechas) num filme único e notável.
Os anos passam de cena em cena, de uma forma tão natural quanto bem conseguida. Linklater abre-nos janelas para a vida desta família, a fazer lembrar a saga de filmes Antes do Amanhecer/Anoitecer/da Meia Noite.
E nesses momentos de vida destas personagens intensas brilham os atores: Ellar Coltrane (que vemos atuar como criança e adolescente), Patricia Arquette, Ethan Hawke e Lorelei Linklater (a filha do realizador e que é irmã mais velha do jovem protagonista).
Imagine um drama onde acompanhamos uma criança (Ellar Coltrane) a crescer, dos 6 aos 18. Pelo meio assistimos às vicissitudes da vida dos pais, divorciados, da mãe a tentar encontrar um rumo, da irmã (filha de Linklater) desde os tempos em que lhe faz a vida negra à maioridade.
Já houve muitos (e bons) filmes com esta temática. Nunca houve um como Boyhood: Momentos de Uma Vida, de Richard Linklater.
O que o realizador de Antes do Amanhecer concretiza é uma experiência de vida a ocorrer à frente dos olhos do espectador da forma mais real e natural possível numa espécie de cápsula do tempo.
O filme foi gravado ao longo de 12 anos de vida real dos atores – vemos as crianças a crescer de uma forma inédita. Todos os anos o realizador filmava cerca de uma semana com os atores.
O resultado desses 12 anos somados em filme é algo muito mais natural e sociologicamente relevante do que qualquer filme até agora conseguiu. O que Linklater consegue é uma vivência íntima, emocionante e tocante (sem ser lamechas) num filme único e notável.
Os anos passam de cena em cena, de uma forma tão natural quanto bem conseguida. Linklater abre-nos janelas para a vida desta família, a fazer lembrar a saga de filmes Antes do Amanhecer/Anoitecer/da Meia Noite.
E nesses momentos de vida destas personagens intensas brilham os atores: Ellar Coltrane (que vemos atuar como criança e adolescente), Patricia Arquette, Ethan Hawke e Lorelei Linklater (a filha do realizador e que é irmã mais velha do jovem protagonista).
birdman, um homem passáro a voar de emoção em emoção
A comédia negra Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância, o filme de Alejandro González Iñárritu, com Edward Norton e Michael Keaton ao melhor nível de sempre é, com justiça, um dos favoritos aos Óscares - é um dos mais nomeados: melhor filme, ator (Michael Keaton), actor secundário (Edward Norton), actriz (Emma Stone), realizador, argumento original, cinematografia, mistura de som e edição de som. Aqui fica a crítica.
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O intricado, emocional, egocêntrico e perturbado mundo de um ator acabado que vive há décadas à sombra de um blockbuster de super-herói da década de 80 (Birdman) é exposto de uma forma intensa, emotiva e, diga-se, brilhante em Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância (um belo título).
O filme do mexicano Alejandro González Iñárritu, um dos favoritos aos Óscares e nomeado para sete Globos de Ouro, mostra sem medo de arriscar a preparação para uma peça de teatro que é nada mais nada menos do que a tentativa desesperada de Riggen Thomson, interpretado na perfeição por um revigorado Michael Keaton, de mostrar que ainda é alguém, que é capaz de surpreender. A decadência e caos parece estar a um pequeno passo do brilhantismo e do sucesso no mundo dos artistas atores.
À sua frente tem vários desafios: o ‘fantasma’ do super-herói da trilogia que interpretou, Birdman, que lhe segreda ao ouvido (ao estilo alter-ego) que ele é bom demais para o teatro e devia era voltar a tentar o sucesso com novo filme de Birdman; o agente preocupado e que tenta manter tudo sob controlo (Zach Galifianakis); a filha problemática com problemas de droga (a sarcástica Emma Stone) que é sua assistente; o genial no palco e extremamente problemático e instável fora dele ator de teatro Mike (Edward Norton); a sua namorada atriz na peça; a estreante na Broadway e namorada do instável Mike (Naomi Watts); uma crítica de teatro do New York Times anti-atores de Hollywood capaz de erguer ou destruir uma peça com uma crítica.
O resultado? Iñárritu usa de forma notável a técnica plano-sequência – que dá a ilusão que todo o filme é filmado em movimento contínuo da câmara com um só plano que se move de local em local, de personagem em personagem, de emoção em emoção. A ajudá-lo, para além da fotografia brilhante de Emmanuel Lubezki, tem uma banda sonora repleta de batimentos e sons bizarros de Antonio Sanchez.
Num filme repleto de dilemas emocionais representados de forma única e visceral por atores a interpretar atores, este tipo de realização não só assenta que nem uma luva à história caótica da psique de atores inseguros que estão com os nervos à flor da pele, como dá ritmo constante ao filme, mantendo o espetador sempre alerta, de discussão emotiva em dilema pessoal. É justo dizer que o elenco é notável e há verdadeira química intensa e visceral entre todos os atores nas várias cenas emocionais que partilham.
Michael Keaton e Edward Norton têm dos melhores desempenhos das suas carreiras já de si ‘cheias’ de momentos brilhantes.
Comédia negra. Montanha russa de emoções. Fábula teatral. Desvario psicológico. Energia vibrante de acção em acção. Birdman é tudo isto e muito mais. É certo que não vai agradar e todos mas promete ser uma experiência intensa e que mantém todos na sala de cinema alerta dando uma perspetiva das emoções que um grupo de atores no limite estão a experienciar.
Não deixa de ser curioso ver como o filme retrata na perfeição, numa espécie de bailado emocional, o caos que os atores vivem instantes antes da cortina subir, e são perfeitos e coordenados – tudo faz sentido e o caos torna-se em ordem – assim que a cortina do teatro sobe e eles entram naquele espaço ‘sagrado’ e mágico que parece ser o palco. Iñárritu, que também co-assina o guião, ilustra ainda vários dilemas no mundo do espectáculo, não só a ‘luta’ entre atores de cinema e de teatro mas também o mundo da internet VS o mundo do espectáculo convencional, entre outras dicotomias.
[Alerta de SPOILER]
Só o final do filme é menos intenso, vibrante e surpreendente – contrasta com o resto do filme e é, diríamos, ‘leve’ –, mas essa parece ser uma escolha/contraste consciente dos autores que parece tirar força ao fim mas tem algum sentido na história que parece tentar entrar na psique dos atores.
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Sabe-se agora que o realizador Alejandro Gonzalez Inarritu e o co-argumentista Alexander Dinelaris tinham planeado inicialmente que o fim do filme seria com Johnny Depp, sentado no camarim sozinho, enquanto tentava desesperadamente soltar-se das amarras de Pirata das Caraíbas e da personagem do Capitão Jack Sparrow.
Inarritu já tinha admitido o mês passado que tinha alterado o fim do filme porque decidiu que era «um fim embaraçoso». Agora Dinelaris revelou que final é que era:
«A câmara iria passear-se pelos corredores do backstage, como fez todo o filme, entrávamos no camarim onde estaria Johnny Depp sentado, a olhar-se no espelho, enquanto poria a peruca de Riggan Thomson (a personagem de Michael Keaton. Atrás estaria um poster do Pirata das Caraíbas. E na voz de Jack Sparrow, iria-se ouvir: 'O que é que estás aqui a fazer, mate?' Iria ser um fim em sátira.».
A explicação foi dada por Dinelaris no podcast 'The Q&A'. Este fim iria sugerir que Depp também teria problemas em ver-se livre da personagem de Jack Sparrow, tal como Thomson, a personagem central do filme.
a Selma de Martin Luther King
Pode ter alguns clichés e abordar um tema que já foi várias
vezes retratado no cinema, mas Selma coloca-nos numa das alturas mais
importantes dos direitos civis norte-americanos, na perspectiva de um dos
heróis mais importantes na igualdade entre seres humanos nos EUA: Martin Luther
King.
Uma história sobre decência humana. Sobre os valores básicos
e a forma como se pode e deve combater aqueles que os espezinham persistindo.
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Um dos oito candidatos ao Óscar de Melhor Filme é este
Selma: a dura luta pelos direitos civis no Alabama em 1965.
Os direitos civis norte-americanos já foram retratados
noutros filmes de Hollywood mas Selma – sobre a histórica marcha de 1965 na pequena localidade do
Alabama – oferece uma visão cativante e emotiva, sobre a dor e a crueldade de
uma espécie de guerra civil no sul dos EUA tendo como protagonista Martin
Luther King Jr.. A realizadora Ava DuVernay mostra-nos sem paternalismos um
Luther King multidimensional com defeitos e virtudes (o sonho pela igualdade) e
permite-nos refletir sobre o quanto a humanidade já evoluiu desde 1965. A
ajudá-la tem uma notável interpretação do britânico David Oyelowo.
O filme produzido por personalidades como Oprah (também
entra como atriz) e Brad Pitt é a história de um movimento liderado por Luther
King, num ambiente tenso e complexo, pela defesa do direito ao voto da
comunidade negra no Alabama.
Depois de um primeiro protesto que acaba em violência sem
limites e morte, Luther King organiza uma marcha de milhares de pessoas, vindas
de todo o país, contra as autoridades locais e que acabou por obrigar o
presidente norte-americano (desempenhado por Tom Wilkinson) a permitir uma das
maiores vitórias dos direitos civis norte-americanos.
Uma história sobre a persistente luta pela decência humana.
a margem errada... do douro
Por algum motivo estranho sempre que fui ao Douro percorri sempre a zona pela margem Sul do rio. Aconteceu isso quando passei por lá com os meus pais nos anos 90, repetiu-se o mesmo há uns dois anos quando fui ao Douro - fiquei no Pinhão - em trabalho e voltou a acontecer a semana passada, em lazer... Só que neste regresso recente tomei a liberdade (com influências conjugais) de passar para o lado Norte para passear desse lado ao longo do Douro.
Foi nesse sábado 14 de fevereiro que percebi porque até ali tinha andado sempre pela margem Sul. A lado Norte é um deserto de trânsito, em contraste claro com as estradas do lado Sul. Boas notícias, certo? Errado. As estradas estão vazias porque estão em bem pior estado, são mais estreitas e entram serra adentro e serra para fora de uma forma bem mais violenta e dura do que no lado Sul. Em vez de estradas novas e curvas moderadas ali junto ao rio, de forma relativamente plana, no lado Norte subimos, descemos, e curvamos de dúzia de metros em dúzia de metros. A paisagem tem zonas bem bonitas e... altas, mas são poucas e não valem todo o esforço.
Vale pela experiência e com um bom carro nas mãos, equilibrado, um motor capaz, uma direcção directa e que transmite bem as sensações da estrada até nos podemos divertir pelas curvas. Pena algumas estradas de dois sentidos só terem espaço para um carro e incluirem curvas cegas... ou seja... convém não abusar na velocidade (pena!) porque na possibilidade remota de encontrarmos um outro carro (em mais de 30 quilómetros 'lentos' de serra só encontrei três e eram de locais) em zona proibitiva, o mais provável e descermos à força entre 50 a 300 metros para um banho no Douro.
Na margem Norte do Douro chegamos a perder a vista ao próprio Douro, tal é o desvio que certas serras nos obrigam a fazer para o interior. Passado um pouco já estamos novamente ao pé do rio, mais acima na serra ou mais abaixo, junto ao rio. Chega a haver nesta estrada principal parte de terra, tal é a qualidade do piso. Passamos por umas quantas aldeolas onde reina a calma e mal se vê gente na rua. Todos olham para os forasteiros que por ali passam. Devem pensar: 'o que é que estes totós vêem fazer para esta margem do rio?' O facto do carro ser de cor azul marinho claro (ou Blue Magnetic) e ter um aspecto peculiar e pouco visto naquelas partes também deve contribuir para tantos olhares.
Para ser justo do lado Norte também há quintas de vinho do Porto e algumas delas, pelo menos uma, tem um restaurante de luxo, com aqueles preços proibitivos. Chegados ao Peso da Régua, suspiramos de alívio... demorou, curva a curva, subida a descida, entrada pela cordilheira adentro e para fora, mas chegámos a bom porto. Na Régua já há boas hipóteses para o muito desejado e apetecido almoço (sem ser com preços de 50 euros por pessoa). A barriga já dá horas. O caminho de volta? Esse é inevitavelmente feito pela margem Sul, onde demoramos uma dúzia de minutos para percorrer a distância de rio que demorámos uma hora do outro lado. Lição aprendida, experiência acumulada e barriga cheia, como se quer. O Mini ajudou.
Foi nesse sábado 14 de fevereiro que percebi porque até ali tinha andado sempre pela margem Sul. A lado Norte é um deserto de trânsito, em contraste claro com as estradas do lado Sul. Boas notícias, certo? Errado. As estradas estão vazias porque estão em bem pior estado, são mais estreitas e entram serra adentro e serra para fora de uma forma bem mais violenta e dura do que no lado Sul. Em vez de estradas novas e curvas moderadas ali junto ao rio, de forma relativamente plana, no lado Norte subimos, descemos, e curvamos de dúzia de metros em dúzia de metros. A paisagem tem zonas bem bonitas e... altas, mas são poucas e não valem todo o esforço.
Vale pela experiência e com um bom carro nas mãos, equilibrado, um motor capaz, uma direcção directa e que transmite bem as sensações da estrada até nos podemos divertir pelas curvas. Pena algumas estradas de dois sentidos só terem espaço para um carro e incluirem curvas cegas... ou seja... convém não abusar na velocidade (pena!) porque na possibilidade remota de encontrarmos um outro carro (em mais de 30 quilómetros 'lentos' de serra só encontrei três e eram de locais) em zona proibitiva, o mais provável e descermos à força entre 50 a 300 metros para um banho no Douro.
Na margem Norte do Douro chegamos a perder a vista ao próprio Douro, tal é o desvio que certas serras nos obrigam a fazer para o interior. Passado um pouco já estamos novamente ao pé do rio, mais acima na serra ou mais abaixo, junto ao rio. Chega a haver nesta estrada principal parte de terra, tal é a qualidade do piso. Passamos por umas quantas aldeolas onde reina a calma e mal se vê gente na rua. Todos olham para os forasteiros que por ali passam. Devem pensar: 'o que é que estes totós vêem fazer para esta margem do rio?' O facto do carro ser de cor azul marinho claro (ou Blue Magnetic) e ter um aspecto peculiar e pouco visto naquelas partes também deve contribuir para tantos olhares.
Para ser justo do lado Norte também há quintas de vinho do Porto e algumas delas, pelo menos uma, tem um restaurante de luxo, com aqueles preços proibitivos. Chegados ao Peso da Régua, suspiramos de alívio... demorou, curva a curva, subida a descida, entrada pela cordilheira adentro e para fora, mas chegámos a bom porto. Na Régua já há boas hipóteses para o muito desejado e apetecido almoço (sem ser com preços de 50 euros por pessoa). A barriga já dá horas. O caminho de volta? Esse é inevitavelmente feito pela margem Sul, onde demoramos uma dúzia de minutos para percorrer a distância de rio que demorámos uma hora do outro lado. Lição aprendida, experiência acumulada e barriga cheia, como se quer. O Mini ajudou.
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e se todos os carros fosse iguais? seria triste.
Graças ao deus dos automóveis (seja lá o que isso for) que há muitas marcas e modelos diferentes, com designs e estilos bem distintos. Tive uma visão aterradora ontem, enquanto passeava numa das maiores fábricas de automóveis da Europa - a da Seat, de Martorell, na zona de Barcelona.
E se todos os carros fossem iguais, da mesma marca e praticamente do mesmo modelo?
O que vi não foi bonito. Mesmo com carros bem desenhados e modernos como os Ibiza e Leon que se vêem aos milhares dentro e fora da fábrica da Seat, a constância de carros iguais é um enjoo doentio e cansativo.
Há um certo cinzentismo perturbador numa sucessão de automóveis totalmente iguais. Se na teoria existir um automóvel tipo para todos, uma linha de roupa para todos (e com as 'modas' isso até se vê, muitas miúdas e miúdas parece saídos da mesma página de catálogo fashion, inclusive nos penteados), ou outro tipo de acessório humano, pode parecer lógico, ver isso na realidade é simplesmente demasido castrador e limitado.
Existem produtos mais pequenos (no espaço que ocupam na rua e na sociedade) que um carro e menos pessoais do que a roupa que vestimos que até podiam ser todos padronizados e iguais que não daríamos muito pela repetição constante. É possível que sim (vou arriscar e dizer a Apple e alguns dos seus produtos). Mas se os iPhone passam mais despercebidos, uma sala cheia de MacBooks também pode ser um exagero masturbatório de igualdade tecnológica... só maçãs iluminadas umas atrás das outras.
Ainda assim uma visão bem menos surreal e intensa que dezenas de carros iguais por todo o lado. A diversidade automobilística é saudável, bem vinda e desejável não só no estilo próprio de cada marca mas também no propósito de cada modelo, entre o pequeno citadino, o sonoro e agressivo desportivo e o gigante monovolume.
E se todos os carros fossem iguais, da mesma marca e praticamente do mesmo modelo?
O que vi não foi bonito. Mesmo com carros bem desenhados e modernos como os Ibiza e Leon que se vêem aos milhares dentro e fora da fábrica da Seat, a constância de carros iguais é um enjoo doentio e cansativo.
Há um certo cinzentismo perturbador numa sucessão de automóveis totalmente iguais. Se na teoria existir um automóvel tipo para todos, uma linha de roupa para todos (e com as 'modas' isso até se vê, muitas miúdas e miúdas parece saídos da mesma página de catálogo fashion, inclusive nos penteados), ou outro tipo de acessório humano, pode parecer lógico, ver isso na realidade é simplesmente demasido castrador e limitado.
Existem produtos mais pequenos (no espaço que ocupam na rua e na sociedade) que um carro e menos pessoais do que a roupa que vestimos que até podiam ser todos padronizados e iguais que não daríamos muito pela repetição constante. É possível que sim (vou arriscar e dizer a Apple e alguns dos seus produtos). Mas se os iPhone passam mais despercebidos, uma sala cheia de MacBooks também pode ser um exagero masturbatório de igualdade tecnológica... só maçãs iluminadas umas atrás das outras.
Ainda assim uma visão bem menos surreal e intensa que dezenas de carros iguais por todo o lado. A diversidade automobilística é saudável, bem vinda e desejável não só no estilo próprio de cada marca mas também no propósito de cada modelo, entre o pequeno citadino, o sonoro e agressivo desportivo e o gigante monovolume.
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quinta-feira, fevereiro 19, 2015
divagações sobre sorrisos pelo ar
Da série: coisas/divagações que um tipo escreve durante um voo...
--
A muitas milhas acima da superfície terrestre, num avião a caminho de alguma cidade europeia nessa mesma superfície, dou por mim a pensar no que irá na cabeça de um outro ser humano. É uma rapariga, nos seus trintas, loura, bonita, e com um sorriso constante, contagiante e bonito.
Está cá em cima, no ar, a cumprir um trabalho, uma missão, protocolos e regras especificas. É a sua ocupação, aquilo que faz para ter os meios para viver a sua vida, comprar as suas coisas.
Quando olho para ela vejo dever, obrigação, e fico indeciso sobre o que aquele sorriso brilhante esconde por trás. Analisando o sorriso e a linguagem corporal, vejo um misto de obrigação e algum prazer no trabalho. Não vejo o sorriso 100% genuíno, alterna entre o 10% - para certas pessoas menos afáveis ou parvas – e o 90 a 100%, para pessoas ou situações mais próprias se sorrir genuinamente.
Acabei por contar, nas operações de distribuição de comida aos passageiros deste pássaro mecânico voador, uns 5 a 10% de tempo em que assistente de voo (antiga hospedeira de bordo – designações leva-as os vento, ao estilo fiscal de linha vs árbitro assistente) não estava a sorrir. É obra. Deve ser difícil conseguir sorrir tanto tempo. Só uma pessoa de sorriso fácil conseguiria tamanha tarefa hércula. Ainda assim com o passar dos anos pergunto-me quanto se perdeu de sorriso genuíno e o acto de sorrir não passou a ser mais obrigação.
Claro que nem todas as assistentes de bordo sorriem assim, há algumas mal encaradas, pouco sorridentes (ou com sorrisos bem mais forçados e pouco credíveis). Este sorriso é credível, mas deixa margem para me questionar quem é esta rapariga, quão genuíno é o seu sorriso e porque é que as pessoas têm o dever de sorrir em certas ocupações. É perceptível que se incentive a simpatia.
O sorriso é um bem que não devia ser transaccionado. Será que neste caso está a ser. Provavelmente vem mais da pessoa do que da mera obrigação. Não me queixo do belo sorriso da rapariga loura, bem pelo contrário. Mas um sorriso tão duradouro deixou-me na dúvida.
Lembro-me de um estudo que dizia, com alguma propriedade, presumo, que sorrir é contagiante e as humanos deviam tentar sorrir mais porque só esse acto pode ser positivo para a sua alegria e felicidade diárias. Eu sou daqueles que acha que um sorriso constante, ininterrupto, esconde qualquer coisa mais negra em algumas situações, pode funcionar como uma capa, máscara, pouco real e que mascara a realidade.
Mas uns quantos sorrisos por dia, nem sabem o bem que vos fazia (ok, até sabem, foi só para rimar). Despeco-me como comecei:
Muitos sorrisos para todos.
--
A muitas milhas acima da superfície terrestre, num avião a caminho de alguma cidade europeia nessa mesma superfície, dou por mim a pensar no que irá na cabeça de um outro ser humano. É uma rapariga, nos seus trintas, loura, bonita, e com um sorriso constante, contagiante e bonito.
Está cá em cima, no ar, a cumprir um trabalho, uma missão, protocolos e regras especificas. É a sua ocupação, aquilo que faz para ter os meios para viver a sua vida, comprar as suas coisas.
Quando olho para ela vejo dever, obrigação, e fico indeciso sobre o que aquele sorriso brilhante esconde por trás. Analisando o sorriso e a linguagem corporal, vejo um misto de obrigação e algum prazer no trabalho. Não vejo o sorriso 100% genuíno, alterna entre o 10% - para certas pessoas menos afáveis ou parvas – e o 90 a 100%, para pessoas ou situações mais próprias se sorrir genuinamente.
Acabei por contar, nas operações de distribuição de comida aos passageiros deste pássaro mecânico voador, uns 5 a 10% de tempo em que assistente de voo (antiga hospedeira de bordo – designações leva-as os vento, ao estilo fiscal de linha vs árbitro assistente) não estava a sorrir. É obra. Deve ser difícil conseguir sorrir tanto tempo. Só uma pessoa de sorriso fácil conseguiria tamanha tarefa hércula. Ainda assim com o passar dos anos pergunto-me quanto se perdeu de sorriso genuíno e o acto de sorrir não passou a ser mais obrigação.
Claro que nem todas as assistentes de bordo sorriem assim, há algumas mal encaradas, pouco sorridentes (ou com sorrisos bem mais forçados e pouco credíveis). Este sorriso é credível, mas deixa margem para me questionar quem é esta rapariga, quão genuíno é o seu sorriso e porque é que as pessoas têm o dever de sorrir em certas ocupações. É perceptível que se incentive a simpatia.
O sorriso é um bem que não devia ser transaccionado. Será que neste caso está a ser. Provavelmente vem mais da pessoa do que da mera obrigação. Não me queixo do belo sorriso da rapariga loura, bem pelo contrário. Mas um sorriso tão duradouro deixou-me na dúvida.
Lembro-me de um estudo que dizia, com alguma propriedade, presumo, que sorrir é contagiante e as humanos deviam tentar sorrir mais porque só esse acto pode ser positivo para a sua alegria e felicidade diárias. Eu sou daqueles que acha que um sorriso constante, ininterrupto, esconde qualquer coisa mais negra em algumas situações, pode funcionar como uma capa, máscara, pouco real e que mascara a realidade.
Mas uns quantos sorrisos por dia, nem sabem o bem que vos fazia (ok, até sabem, foi só para rimar). Despeco-me como comecei:
Muitos sorrisos para todos.
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segunda-feira, fevereiro 16, 2015
pela casa cimeira
É humanamente notável ver como as pessoas genuínas se abrem com desconhecidos. O casal que gere a Casa da Cimeira - em Valença do Douro - tem aquele conhecido lado falador, aberto, genuíno e social das pessoas do Norte (tradicionalmente). Mais: têm gosto em receber as pessoas vindas de longe (portugueses ou estrangeiros), têm gosto em dar sempre um pouco mais do seu vinho, dos seus enchidos - tudo feito por ali, claro -, dos seus manjares.
Gostam de contar histórias, especialmente a sua história. Gostam de conhecer um pouco de quem os visita. Isto no meio da labuta sem parar do dia a dia. É gente humilde, trabalhadora e com tempo para ter consciência plena de quem são e do que é a sua vida.
São bem humorados, divertidos e não se levam demasiado a sério. Gente fácil, de quem nos aproximamos com facilidade e que dá gosto ouvir, história a história, sorriso a sorriso, lembrança em lembrança, sonhos em sonhos.
Durante 9 meses não têm um dia de folga e fazem jantar para uma casa cheia de hóspedes todos os dias. Contam esta inevitabilidade com consciência que é bom terem trabalho e o lamento de que ficam esgotados e era bom não terem de fazer jantarada 'farta' todos os dias. Que corrupio!
Que energia contagiante têm estes dois durientes. Como se a boa conversa, a simpatia, a generosidade e a atenção ao detalhe - tratam-nos como se fôssemos da família, oferecendo tudo o que têm sem restrições com um prazer incrível em bem receber - não bastassem, a comida e, por Deus, a bebida é divinal. Um apelo aos sentidos humanos mais apurados.
Na Casa da Dona Maria da Luz não há cerimónias. O vinho escorre sem parar. Veio das vinhas e da adega da própria casa até à mesa. É divinal. Como só os bons vinhos do Porto o são. E se a garrafa está perto de terminar, há logo outra a chegar, aqui não se admite copo de vinho vazio (à descrição). A última refeição foi um bacalhau com broa e batata a murro tostadinha divinal. De saborear garfada a garfada, com os sabores bem vivos e enfatizados com o soberbo azeite do Douro, feito por ali, a acompanhar.
Os convites para ir para a sala comum, perto da lareira, e beber um porto aperitivo acontecem assim que chegamos. A grande mesa de família é onde comem todos os hóspedes, seja qual for a nacionalidade, crença religiosa ou preferência gastronómica. Todos são bem vindos, desde que venham por bem.
Não é uma questão de dinheiro ou de venda ou comércio, aqui somos da casa, sentimo-nos em casa e a comida e bebida é como se nascessem das paredes e viessem sempre confeccionados de um modo divinal. Nunca nos sentimos clientes, mas convidados de um local que tem muito de paraíso e a dona Maria da Luz e o seu Artur são anjos a facilitarem-nos a vida.
A ajudar a este ramalhete está a beleza natural da zona, as vistas dos quartos para o rio Douro e para as escadas de vinha e as boas condições (até tem piscina) desta casa burguesa do século XIX com mistura entre palacete e casa rural, inclusive com um quarto de xisto peculiar.
Até a história da casa de arquitectura burguesa rural tem um encanto especial. Foi construída em 1814 pelos Pacheco, uma família militar galega, que tinha as vinhas da Quinta da Corte e do Panascal e vivia na casa de Valença do Douro, bem perto das quintas. A Dona Maria da Luz e o senhor Artur eram os caseiros da Casa Cimeira, desde os anos 80 (se não estou em erro).
Depois de muitos anos a tomar conta da Casa Cimeira, perante as ordens "rígidas, ao estilo militar" do último dos Pacheco, começaram a construir a sua própria casa. Quis o destino que depois de vários anos a tentar terminar o seu lar, tiveram uma surpresa: o último dos Pacheco morreu e, por não ter família directa, deixou-lhes a Casa da Cimeira e alguns terrenos. "O senhor podia ter dito alguma coisa... mas nunca nos disse nada", diz a Dona Maria da Luz.
Do dinheiro das vinhas foi possível investir e tornar a Casa Cimeira simpática para hóspedes, com piscina, um total de seis quartos e boas condições - que jeito dá o ar condicionado no frio da zona do Douro nesta altura do ano. A vista incrível já existia e mantiveram-se os quadros da família Pacheco, bem como os livros centenários, a decoração e toda a história da Casa, a mesma que a Dona Maria da Luz gosta de contar.
Obrigado por tudo, especialmente pela generosidade rara e por serem genuínos. Queremos voltar em breve.
"Não há problemas, só soluções", diz o senhor Artur. Ele e a Maria da Luz são facilitadores.
Gostam de contar histórias, especialmente a sua história. Gostam de conhecer um pouco de quem os visita. Isto no meio da labuta sem parar do dia a dia. É gente humilde, trabalhadora e com tempo para ter consciência plena de quem são e do que é a sua vida.
São bem humorados, divertidos e não se levam demasiado a sério. Gente fácil, de quem nos aproximamos com facilidade e que dá gosto ouvir, história a história, sorriso a sorriso, lembrança em lembrança, sonhos em sonhos.
Durante 9 meses não têm um dia de folga e fazem jantar para uma casa cheia de hóspedes todos os dias. Contam esta inevitabilidade com consciência que é bom terem trabalho e o lamento de que ficam esgotados e era bom não terem de fazer jantarada 'farta' todos os dias. Que corrupio!
Que energia contagiante têm estes dois durientes. Como se a boa conversa, a simpatia, a generosidade e a atenção ao detalhe - tratam-nos como se fôssemos da família, oferecendo tudo o que têm sem restrições com um prazer incrível em bem receber - não bastassem, a comida e, por Deus, a bebida é divinal. Um apelo aos sentidos humanos mais apurados.
Na Casa da Dona Maria da Luz não há cerimónias. O vinho escorre sem parar. Veio das vinhas e da adega da própria casa até à mesa. É divinal. Como só os bons vinhos do Porto o são. E se a garrafa está perto de terminar, há logo outra a chegar, aqui não se admite copo de vinho vazio (à descrição). A última refeição foi um bacalhau com broa e batata a murro tostadinha divinal. De saborear garfada a garfada, com os sabores bem vivos e enfatizados com o soberbo azeite do Douro, feito por ali, a acompanhar.
Os convites para ir para a sala comum, perto da lareira, e beber um porto aperitivo acontecem assim que chegamos. A grande mesa de família é onde comem todos os hóspedes, seja qual for a nacionalidade, crença religiosa ou preferência gastronómica. Todos são bem vindos, desde que venham por bem.
Não é uma questão de dinheiro ou de venda ou comércio, aqui somos da casa, sentimo-nos em casa e a comida e bebida é como se nascessem das paredes e viessem sempre confeccionados de um modo divinal. Nunca nos sentimos clientes, mas convidados de um local que tem muito de paraíso e a dona Maria da Luz e o seu Artur são anjos a facilitarem-nos a vida.
A ajudar a este ramalhete está a beleza natural da zona, as vistas dos quartos para o rio Douro e para as escadas de vinha e as boas condições (até tem piscina) desta casa burguesa do século XIX com mistura entre palacete e casa rural, inclusive com um quarto de xisto peculiar.
Até a história da casa de arquitectura burguesa rural tem um encanto especial. Foi construída em 1814 pelos Pacheco, uma família militar galega, que tinha as vinhas da Quinta da Corte e do Panascal e vivia na casa de Valença do Douro, bem perto das quintas. A Dona Maria da Luz e o senhor Artur eram os caseiros da Casa Cimeira, desde os anos 80 (se não estou em erro).
Depois de muitos anos a tomar conta da Casa Cimeira, perante as ordens "rígidas, ao estilo militar" do último dos Pacheco, começaram a construir a sua própria casa. Quis o destino que depois de vários anos a tentar terminar o seu lar, tiveram uma surpresa: o último dos Pacheco morreu e, por não ter família directa, deixou-lhes a Casa da Cimeira e alguns terrenos. "O senhor podia ter dito alguma coisa... mas nunca nos disse nada", diz a Dona Maria da Luz.
Do dinheiro das vinhas foi possível investir e tornar a Casa Cimeira simpática para hóspedes, com piscina, um total de seis quartos e boas condições - que jeito dá o ar condicionado no frio da zona do Douro nesta altura do ano. A vista incrível já existia e mantiveram-se os quadros da família Pacheco, bem como os livros centenários, a decoração e toda a história da Casa, a mesma que a Dona Maria da Luz gosta de contar.
Obrigado por tudo, especialmente pela generosidade rara e por serem genuínos. Queremos voltar em breve.
"Não há problemas, só soluções", diz o senhor Artur. Ele e a Maria da Luz são facilitadores.
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domingo, fevereiro 15, 2015
em construção eterna - los angeles
(escrito em 2009)
Em dois dias vi dois filmes passados em Los Angeles, onde revi locais por onde passei na minha curta passagem por lá há uns meses. Caça Polícias e Dia dos Namorados. E ainda vi a referência a outro filme por LA - Beverly Hills, Hollywood -, Pretty Woman.
No enorme amontoado de cidades que é Los Angeles, onde o carro é o único meio de transporte decente e onde as colinas estão cheias de casas de estrelas e a planície está cheia de memórias cinematográficas, apetece alugar o carro típico e fazermo-nos à estrada até San Francisco. Dizem que o cenário é parecido com a costa portuguesa, curiosamente está virada para o mesmo lado (oeste), só que para outro oceano, o Pacífico.
A Terra das Oportunidades, onde logo no aeroporto há referências às profissões ligadas ao showbiz, começa de forma humilde para muitos. Nos roteiros turísticos não falta referências à casa de frangos onde Brad Pitt se chegou a vestir de frango antes de ter sucesso como actor, ou outros locais modestos onde outros tantos actores trabalharam. Depois há aqueles que nunca passaram de empregados de mesa e actores wannabe.
As estradas são longas, as auto-estradas e vias rápidas muito largas, com cinco e seis faixas, os carros luxuosos nas cidades como Beverly Hills e Hollywood (mas também se vêem pick-ups pobres nestas zonas finas)...
Em dois dias vi dois filmes passados em Los Angeles, onde revi locais por onde passei na minha curta passagem por lá há uns meses. Caça Polícias e Dia dos Namorados. E ainda vi a referência a outro filme por LA - Beverly Hills, Hollywood -, Pretty Woman.
No enorme amontoado de cidades que é Los Angeles, onde o carro é o único meio de transporte decente e onde as colinas estão cheias de casas de estrelas e a planície está cheia de memórias cinematográficas, apetece alugar o carro típico e fazermo-nos à estrada até San Francisco. Dizem que o cenário é parecido com a costa portuguesa, curiosamente está virada para o mesmo lado (oeste), só que para outro oceano, o Pacífico.
A Terra das Oportunidades, onde logo no aeroporto há referências às profissões ligadas ao showbiz, começa de forma humilde para muitos. Nos roteiros turísticos não falta referências à casa de frangos onde Brad Pitt se chegou a vestir de frango antes de ter sucesso como actor, ou outros locais modestos onde outros tantos actores trabalharam. Depois há aqueles que nunca passaram de empregados de mesa e actores wannabe.
As estradas são longas, as auto-estradas e vias rápidas muito largas, com cinco e seis faixas, os carros luxuosos nas cidades como Beverly Hills e Hollywood (mas também se vêem pick-ups pobres nestas zonas finas)...
jeepers creepers
Jeepers creepers, where you get those peepers.
De um filme de terror para a minha memória ;)
quarta-feira, fevereiro 04, 2015
"Hate harms the hated, but it destroys the hater.”
Jonathan Sacks, filósofo e académico do judaísmo, WSJ
segunda-feira, fevereiro 02, 2015
colhe o dia, porque és ele - carpe diem versão Pessoa
Colhe o Dia, porque És Ele
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Ricardo Reis, in "Odes"
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poesia
me stephen, you jane. a vida dos Hawking com e sem ELA
A Teoria de Tudo. A Theory of Everything.
23 janeiro.
A arte imita a vida. Esta
podia ser a máxima da edição dos Óscares deste ano, com cinco dos oito filmes
nomeados para a categoria mais desejada a serem histórias reais. É esse o caso
deste A Teoria de Tudo (nomeado para melhor filme, ator, atriz, guião adaptado
e banda sonora), onde acompanhamos a vida em comum de Jane e o físico Stephen
Hawking, desde os tempos da universidade, onde Stephen descobre que tem a
doença degenerativa ELA (esclerose lateral amiotrófica).
É ainda enquanto jovem estudante,
apaixonado por Jane, que ele descobre não só que tem esta doença como vai
deixar de conseguir controlar o seu próprio corpo, incluindo a fala, e tem uma
esperança média de vida de dois anos.
Como todos os bons filmes,
esta história real tem o condão de nos deixar a pensar, imaginar e questionar a
vida tão peculiar e rica que vimos passar em duas horas de filme. De uma
situação impossível houve esperança, tal como diz Hawking a certa altura. E
houve esperança nos anos de vida que vemos passar em filme, mas esperança com
dificuldades incríveis, períodos sombrios, algum egoísmo próprio dos humanos e
momentos brilhantes seja para a física como para as vidas daquelas pessoas.
Muito bem realizado por
James Marsh, com conta peso e medida, as interpretações são notáveis num filme
emotivo q.b.. Eddie Redmayne é cativante e brilhante como Hawking e é
acompanhado na perfeição por Felicity Jones como Jane. A ver.
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cinema
patriota e nem por isso anti-guerra
American Sniper
24 janeiro 2015.
Clint Eastwood domina com perfeição, simplicidade e argúcia
a arte de contar uma história sem querer dourar a pílula, exagerar ou ser
protagonista. Para Eastwood é a história e as emoções de uma personagem que
devem ser protagonistas e ele não se coíbe, e ainda bem, de ter uma realização
e banda sonora a condizer, menos
invasiva para que a história saia mais genuína e deixe espaço para a imaginação
do espectador para encher o que não se diz.
Se fosse árbitro de futebol Eastwood seria um daqueles que
nem se dá por ele, e por isso é que é tão bom e competente. Deixa que a
história/jogo tome o seu curso e as vezes que intervém são tão naturais e apropriados
que nem damos por ele.
American Sniper dá a Bradley Cooper a interpretação de uma
vida. Eastwood foca-se muito nos olhos de Cooper que dão uma dimensão complexa
e interessante a este atirador preciso que parece agir da forma mais correcta
possível: com o único intuito de defender a sua pátria mas acima de tudo os
seus colegas marines em apuros no terreno. O terreno é o Iraque e a guerrilha
urbana tão desgastante.
O filme é um belo retrato – não sei se não será demasiado
favorável ao atirador Kyle do que a pessoa que ele era na realidade, é possível
– do soldado e do homem perturbado pela guerra, com dificuldades para desligar
a “ficha” de soldado quando regressa a casa.
Kyle fez quatro ‘tours’ no Iraque,
passou por lá mais de 1000 dias, o que é pouco habitual. O filme foca (e bem)
uma luta dele com um atirador sírio, bem como o desejo dele de cumprir missão
após missão à medida que a sua lenda vai crescendo.
O filme não dá muitas
respostas mas levanta boas questões e mostra de forma crua, dura e intensa as
dificuldades de um homem da guerra na tentativa de se reintegrar numa sociedade
pacífica, no regresso a casa. Na minha opinião o filme também retrata bem as
dificuldades da mulher de Kyle em perceber o marido e em lidar com aquele homem
que volta da guerra magoado e perturbado, que não a deixa entrar na sua mente e
a quem ela não consegue chegar. Menos bem conseguida parece-me ser a história
de amor entre os dois, que fica um pouco em segundo plano. Há um pormenor peculiar entre marido e mulher: Kyle liga à mulher com facilidade mesmo no meio da zona de guerra, uma facilidade das guerras modernas mas que prega alguns sustos à personagem bem desempenhada por Sienna Miller.
Ainda assim é um belíssimo filme, como lembra Eurico de Barros
(no Observador): com muitas das boas lições de John Ford incorporadas por
Eastwood – o seu fiel herdeiro “na forma e na moral” – desde o filmar dos olhos
tão expressivos e que podem contar tanto, até à simplicidade “sugerindo o
máximo e fazendo o mínimo” tanto de Eastwood na realização como de Cooper (que
ficou 15 kg mais pesado) na interpretação.
Outro aspecto que pensando bem o filme acaba por não
explorar bem – e seria mais complexo e interessante se o fizesse – foi dar
atenção aqueles soldados que tinham na guerra um problema de base. Questionavam
o que estavam ali a fazer e se estariam mesmo a combater os maus da fita. É que
a personagem de Chris Kyle e, pelo que li, a pessoa em si, era um soldado
patriota sem dúvidas sobre os motivos porque estava ali e que via tudo a preto
e branco, bons (americanos) e maus (iraquianos).
Não há grande – nenhuma mesmo
– compaixão pelo povo do outro lado que também sofria. E sempre que há algum
soldado com dúvidas, como acompanhamos de perto Kyle, o filme desvaloriza essa
perspectiva tal como o próprio Kyle. Mostra essa perspectiva como se fosse uma
mera cobardia sem interesse e, no entanto, era um ponto interessante e fulcral
que podia dar uma dose extra de tensão e complexidade moral ao filme, que é
demasiado republicano na forma de pensar a guerra, tal como a personagem.
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cinema
whiplash
Whiplash é uma espécie de um conto, realizado com um
pormenor, ritmo musical e quase cardíaco que nos empolga e mete na acção só com
a delícia que são os movimentos de câmara, os planos de pormenor dos batuques,
com cadência e vibração.
Em pleno e justo destaque está J.K. Simmons, o favorito na categoria de ator secundário para os Óscares, graças ao brilhante papel que desempenha neste filme que também é candidato a melhor filme.
O ator Miles Teller é um jovem estudante de bateria que embarca nesta viagem dura e sombria, onde a busca pela perfeição às mãos de um professor de jazz num conservatório (Simmons) assume contornos de abuso de poder e terror psicológico.
A banda sonora repleta de sons que apelam aos sentidos
(chega a parecer o bater do coração) é perfeita para a história a ser contada,
tal como se aconteceu com a banda sonora bizarra de Birdman.
Acompanhamos neste conto um jovem que quer ser o melhor
baterista que pode ser, um dos grandes, dos melhores. Pelo caminho, numa das
melhores escolas de jazz dos EUA, apanha um professor determinado em levar os
seus alunos para lá do que pensariam ser possível.
Ele busca génios à força, com sangue, suor e lágrimas
(literalmente), sem condescendência nem conversas moles ou inspiracionais. É
um instrutor militar do jazz com o objectivo de fazer com que todos se superem.
E quem não tem a ‘pele dura’ ou talento, depressa está fora
do seu esquadrão especial de corrida. A história faz-nos pensar neste mundo da
busca pela perfeição, da especialização. Da obsessão em ser o melhor, em fazer
mais, treinar mais, lutar mais, melhorar sempre – no filme há sempre espaço para
ser melhor, para atingir a genialidade.
Egos, exageros, obsessões pela perfeição estão ao rubro
neste filme peculiar, único e tão bem interpretado como realizado. É simples,
duro, rítmico, curto e brilhante.
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