sábado, fevereiro 21, 2015
birdman, um homem passáro a voar de emoção em emoção
A comédia negra Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância, o filme de Alejandro González Iñárritu, com Edward Norton e Michael Keaton ao melhor nível de sempre é, com justiça, um dos favoritos aos Óscares - é um dos mais nomeados: melhor filme, ator (Michael Keaton), actor secundário (Edward Norton), actriz (Emma Stone), realizador, argumento original, cinematografia, mistura de som e edição de som. Aqui fica a crítica.
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O intricado, emocional, egocêntrico e perturbado mundo de um ator acabado que vive há décadas à sombra de um blockbuster de super-herói da década de 80 (Birdman) é exposto de uma forma intensa, emotiva e, diga-se, brilhante em Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância (um belo título).
O filme do mexicano Alejandro González Iñárritu, um dos favoritos aos Óscares e nomeado para sete Globos de Ouro, mostra sem medo de arriscar a preparação para uma peça de teatro que é nada mais nada menos do que a tentativa desesperada de Riggen Thomson, interpretado na perfeição por um revigorado Michael Keaton, de mostrar que ainda é alguém, que é capaz de surpreender. A decadência e caos parece estar a um pequeno passo do brilhantismo e do sucesso no mundo dos artistas atores.
À sua frente tem vários desafios: o ‘fantasma’ do super-herói da trilogia que interpretou, Birdman, que lhe segreda ao ouvido (ao estilo alter-ego) que ele é bom demais para o teatro e devia era voltar a tentar o sucesso com novo filme de Birdman; o agente preocupado e que tenta manter tudo sob controlo (Zach Galifianakis); a filha problemática com problemas de droga (a sarcástica Emma Stone) que é sua assistente; o genial no palco e extremamente problemático e instável fora dele ator de teatro Mike (Edward Norton); a sua namorada atriz na peça; a estreante na Broadway e namorada do instável Mike (Naomi Watts); uma crítica de teatro do New York Times anti-atores de Hollywood capaz de erguer ou destruir uma peça com uma crítica.
O resultado? Iñárritu usa de forma notável a técnica plano-sequência – que dá a ilusão que todo o filme é filmado em movimento contínuo da câmara com um só plano que se move de local em local, de personagem em personagem, de emoção em emoção. A ajudá-lo, para além da fotografia brilhante de Emmanuel Lubezki, tem uma banda sonora repleta de batimentos e sons bizarros de Antonio Sanchez.
Num filme repleto de dilemas emocionais representados de forma única e visceral por atores a interpretar atores, este tipo de realização não só assenta que nem uma luva à história caótica da psique de atores inseguros que estão com os nervos à flor da pele, como dá ritmo constante ao filme, mantendo o espetador sempre alerta, de discussão emotiva em dilema pessoal. É justo dizer que o elenco é notável e há verdadeira química intensa e visceral entre todos os atores nas várias cenas emocionais que partilham.
Michael Keaton e Edward Norton têm dos melhores desempenhos das suas carreiras já de si ‘cheias’ de momentos brilhantes.
Comédia negra. Montanha russa de emoções. Fábula teatral. Desvario psicológico. Energia vibrante de acção em acção. Birdman é tudo isto e muito mais. É certo que não vai agradar e todos mas promete ser uma experiência intensa e que mantém todos na sala de cinema alerta dando uma perspetiva das emoções que um grupo de atores no limite estão a experienciar.
Não deixa de ser curioso ver como o filme retrata na perfeição, numa espécie de bailado emocional, o caos que os atores vivem instantes antes da cortina subir, e são perfeitos e coordenados – tudo faz sentido e o caos torna-se em ordem – assim que a cortina do teatro sobe e eles entram naquele espaço ‘sagrado’ e mágico que parece ser o palco. Iñárritu, que também co-assina o guião, ilustra ainda vários dilemas no mundo do espectáculo, não só a ‘luta’ entre atores de cinema e de teatro mas também o mundo da internet VS o mundo do espectáculo convencional, entre outras dicotomias.
[Alerta de SPOILER]
Só o final do filme é menos intenso, vibrante e surpreendente – contrasta com o resto do filme e é, diríamos, ‘leve’ –, mas essa parece ser uma escolha/contraste consciente dos autores que parece tirar força ao fim mas tem algum sentido na história que parece tentar entrar na psique dos atores.
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Sabe-se agora que o realizador Alejandro Gonzalez Inarritu e o co-argumentista Alexander Dinelaris tinham planeado inicialmente que o fim do filme seria com Johnny Depp, sentado no camarim sozinho, enquanto tentava desesperadamente soltar-se das amarras de Pirata das Caraíbas e da personagem do Capitão Jack Sparrow.
Inarritu já tinha admitido o mês passado que tinha alterado o fim do filme porque decidiu que era «um fim embaraçoso». Agora Dinelaris revelou que final é que era:
«A câmara iria passear-se pelos corredores do backstage, como fez todo o filme, entrávamos no camarim onde estaria Johnny Depp sentado, a olhar-se no espelho, enquanto poria a peruca de Riggan Thomson (a personagem de Michael Keaton. Atrás estaria um poster do Pirata das Caraíbas. E na voz de Jack Sparrow, iria-se ouvir: 'O que é que estás aqui a fazer, mate?' Iria ser um fim em sátira.».
A explicação foi dada por Dinelaris no podcast 'The Q&A'. Este fim iria sugerir que Depp também teria problemas em ver-se livre da personagem de Jack Sparrow, tal como Thomson, a personagem central do filme.
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