Se eu fosse um actor bem sucedido, provavelmente acharia irritante que me analisassem por estar comigo numa sala durante uns minutos. No entanto...
Sir Ben Kingsley. É uma pessoa muito calma, parece um praticante frequente de meditação, porque é muito paciente, ouve quem está a falar com atenção e sem pressa de responder. Tem uma cabeça grande para o corpo muito magro, um nariz gigante e uma careca estranha. Tal como eu suspeitava, é uma pessoa muito sensível, e é-o desde criança, um actor com muita experiência de teatro e com uma preocupação impressionante em ensinar o melhor possível as novas gerações de actores. É alguém muito dedicado à profissão. Quando se solta é capaz de rir-se com facilidade e adora reflectir sobre os assuntos e dar-lhe uma perspectiva mais poética e inspirada.
Adora cuidar do seu jardim e de cozinhar para a sua mulher. Dá-se bem com a vida pacata sem a agitação do que envolve a indústria do cinema, mas faz parte da indústria à tanto tempo que já não lhe faz confusão a parte mais agitada.
Adora arte, especialmente pintura, e pessoas que o inspirem, os pintores estão no topo dos seus artistas favoritos, na sua dedicação imensa e até esgotante em transmitir algo de especial numa tela. É realmente um típico Sir, muito cavalheiresco mas com uma sensibilidade enquanto ser humano muito acima da média.
Gemma Arterton. Sim, é lindíssima, tem mais curvas do que a maioria das modelos e nota-se que não se importa nada com isso, tem uma cara pequena mas de uma beleza rara e antiga, como se fosse uma pedra preciosa. Um nariz pequeno, uns olhos um pouco rasgados e uns lábios lisos e grossos, talvez mais bonitos que os da Julia Roberts. Tem uns braços um pouco cheios para uma actriz, mas esbeltos q.b., tem o tique de se ir coçando quando está calor o que irrita um pouco a pele, nada que a incomode. Apesar de tudo isto, passados uns segundos de entrar na sala, é apenas uma jovem rapariga com quem dá gosto falar, sorridente, energética, faladora, despachada, que tem um à vontade impressionante, um humor de óptimo nível e um sorriso cândido de quem não tem nada a perder e tudo a ganhar. Não tem papas na língua nem problemas em dizer que vem de origens humildes, das classes operárias britânicas e em falar da família. Nota-se que sempre foi o que temos ali à nossa frente, fosse com os amigos num bairro pobre ou com as grandes estrelas.
E apesar de já ter sido Bond Girl, de ter protagonizado dois grandes blockbusters e feito filmes independentes incríveis como o que vi hoje (The Disappearence of Alice Creed - Lusomundo, se me estás a ouvir, tens de estrear isto nas salas portuguesas!), ainda tem aquele deslumbramento (que admite com histeria divertida), ou por ir trabalhar com estrelas que admira ou por ver num bar um artista que adora - contou que viu no outro dia um dos membros dos Sigur Rós (é fanática por música nórdica, ao estilo Bjork) e ia ficando histérica, só não o abordou porque sabe que ele é muito tímido e ia assustá-lo.
É uma daquelas hard headed woman, muito prática e um pouco maria rapaz na forma de agir, e que não se leva absolutamente nada a sério. Uma diversão, portanto. O que é fantástico quando ainda por cima é uma excelente actriz.
[E só para que fique registado, eu cá já encontrei a minha Hard Headed Woman, como cantava o Cat Stevens -
"I'm looking for a hard headed woman,
One who will make me do my best,
And if I find my hard headed woman
I know the rest of my life will be blessed"]
Jake Gyllenhaal. Tem umas mãos grandes, muito grandes. Tem um ar de menino perfeito, cuidado, com óptima preparação física (ou não adorasse correr e fazer ciclismo), mas um outro brilho acima disso, que lhe dá um certo ar de Cary Grant, até porque tem estilo e um óptimo sentido de humor. Mas o que salta, literalmente à vista são os olhos, são gigantes e mais azuis do que o azul do céu. Parecem uns faróis, até porque gosta de mantê-los bem abertos. Depois é um tipo muito cool, descontraído, que não se leva demasiado a sério (vem de uma família de actores) muito menos a sua fama e que, embora tenha um físico muito desenvolvido, é um tipo com uma sensibilidade para a profissão acima da média. Tem um talento natural mas também se esforça por tirar o melhor de si e perceber o melhor dos outros. É alto e ainda guarda um certo olhar de Donnie Darko.
Mike Newell. Este típico inglês gigante, largo de ombros, mãos gigantes e um ar simpático é um realizador exímio e com um talento para o timing cómico incrível. Quatro Casamentos e Um Funeral lançou-o na alta roda mundial, ao mesmo tempo que lançou Hugh Grant, e ainda bem. Newell adora Grant, apesar de não trabalhar com ele há algum tempo. "Não há ninguém a fazer comédia com tanto estilo quanto ele, é único e é sempre excelente fazer um filme com ele", um elogio muito honesto e sentido (e raro). É um tipo inteligente, preocupado com o que faz e sem problemas em assumir as suas opiniões: "num filme como Prince of Persia eu sou quase um Chefe de Divisão inteira, onde me dão coisas para decidir. Prefiro muito mais fazer um filme como Quatro Casamentos e um Funeral, com menos efeitos e mais diálogo entre os protagonistas". Faz sentido, porque vem do teatro e da televisão britânica e até nos filmes grandes que realizou como um dos Harry Potter e este Prince of Persia, conseguiu colocar esse humor delicioso entre personagens sem estragar a outra linha mais dramática do filme.
Jake Gyllenhaal em Londres, estou meio torto porque estava a aproveitar para falar um pouco no Donnie Darko, coisa que não deu para fazer na entrevista (ou só ligeiramente).