terça-feira, outubro 05, 2004

Kate Walsh | Uma voz de anjo inglesa



Há quem diga que tem uma voz de anjo. Kate Walsh tem 21 anos e apesar de vir do frio de Inglaterra canta músicas quentes, melódicas e com uma calma tranquilizante. O seu album de estreia, Clocktower Park, valeu-lhe muitos elogios e faz dela uma promessa do Reino Unido. Para inicio de carreira as coisas não lhe podiam estar a correr melhor. Com muitas parecenças e influências de Tori Amos e Joni Mitchell, ela é autêntica e tem uma música muito própria. O que pretende é simples: transmitir muita emoção nas letras e na voz. Ainda vive em casa do pais, numa pequena localidade inglesa em Essex e com uma voz muito doce e jovem, bem diferente quando canta, falou com o Destak esta semana. Kate actua esta noite, em Lisboa, no bar Santiago Alquimista, pelas 22h, depois de já cá ter estado em Junho.

João Tomé
[Fiz esta entrevista há duas semanas, por telefone, ela estava em casa em Inglaterra. Kate tem uma voz de menina. É fantástico como aquela voz ainda tão de criança consegue projectar-se no palco e de forma tão madura. Ela própria é uma jovem que vive com os pais, muito "normal", com poucos sonhos e que apenas adora música. Esteve no Herman SIC no passado fim de semana.]

Porquê o regresso a Portugal depois de cá ter estado há tão pouco tempo? Conhece Portugal?
Estou a regressar porque as pessoas reagiram muito bem ao meu album, e por isso vamos tentar publicitar a minha música e fazer com que mais pessoas conheçam o album. Antes de ir a Portugal em Junho não sabia nada do país, mas gostei muito, até aprendi um pouco de português. Estou ansiosa tocar novamente aí.
Da outra vez estive aí 5 ou 6 dias, e o primeiro concerto foi no Porto, que gostei muito, mas na altura, lembro-me que estavam todos muito preocupados com o futebol e o Euro 2004.

Quais as suas influências musicais? Jewel, Tori Amos, Joni Mitchell são nomes que aparecem associados à sua música, concorda com a associação?
Sem dúvida. Não tenho a certeza quanto à Jewel, apesar de perceber porque as pessoas me associam a ela. Mas Tori Hamos foi mesmo a razão que me levou a começar a escrever canções aos 14 anos, e não apenas música e a Joni Mitchell é uma referência também, por isso sinto-me orgulhosa por associarem o meu nome ao delas. Elas influenciaram-me porque gostam muito de utilizar a voz, são evoluidas a nivel vocal e harmonioso, não estão apenas a cantar por cantar. Toni Hamos e Joni Mitchell fazem muito mais do apenas usar a voz como por exemplo fazia o Bob Dylan , elas exprimem as emoções com a voz.

A sua cidade, Burnham, no Reino Unido, é uma das suas maiores inspirações para as músicas?
Uso nas minhas letras as minhas experiências na minha cidade, porque até há alguns anos tudo o que eu conhecia era Burnham, esse era todo o meu mundo e tudo o que me aconteceu foi lá. Mas os temas que estão nas minhas músicas são tanto reais como ficcionais. Os poemas são sempre criados com realidade e ficção, para serem mais emocionantes. São temas baseados na minha vida como adolescente e o que foi crescer.

O que deseja transmitir com a sua música, com as suas letras? Para quando o próximo album de originais?
Só tento fazer com que as pessoas percebam um pouco como sou e o que passei, mas também gosto de pensar que relacionam as músicas às suas vidas. Em relação ao próximo album não sei datas, mas acho que já escrevi as letras todas, estou desejosa de ir para o estúdio. Tenho escrito muitas músicas ultimamente, estou constantemente a escrever é uma paixão que tenho desde os 14 anos.

Foi fácil conseguir fazer impor a sua música, conseguir uma editora?
Eu tive muita sorte com tudo. Não sabia que podia cantar, mas o meu produtor Russell, incitou-me a cantar e convenceu-me a fazer um album com ele. Os distribuidores, a editora, todos gostaram da música logo e foi muito fácil para mim, tive muita sorte.

Que tipo de pessoas pensa que ouvem a sua música?
Gosto de pensar que qualquer tipo de pessoa pode gostar de1 ouvir o meu album, por razões diferentes. Sei que muitas pessoas que o ouviram e compraram são de diferentes contextos e idades. É bom poder falar a diferentes pessoas. Com os concertos tenho visto isso, pessoas novas e mais velhas, talvez por a minha música ser mais calma.
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É dificil ser jovem hoje em dia? Porquê? Expressa isso nas músicas.
Não temos uma vida muito dificil. Pelo menos não é tão dificil como a dos nossos pais. As complicações são diferentes, não temos tanto com que nos preocupar, como de onde vem a nossa próxima refeição, mas nós damos a nós mesmo coisas para nos preocupar. Nós fazemos outras complicações na nossa vida e transmito isso nas músicas.

O mundo da música é cruel? Já sentiu isso?
Sim, já vi uma parte dessa crueldade. A industria musical pode ser muito dura, mas temos tantas coisas boas com ela, que também tem de haver coisas más, é industria em que estamos.

Se não estivesse ligada à música, gostaria de fazer outra coisa? O quê?
Não faço ideia o que faria. Sempre foi a música, desde que era pequenina, com quatro ou cinco anos então não faço ideia.

E escrever livros, poesia ou literatura?
Acho que não era capaz, não tenho paciência para isso. Prefiro a música, porque uma música temos de encaixar em 3/4/5 minutos de espaço e dá para abordar tantos aspectos da vida.

Vive ainda com os seus pais?
Sim.

Defina em três ideias o single “It´s never over”
É sobre amor, promessas e esperar por algo.

Jeff Buckley é uma referência? Em que sentido?
Acho que tem uma voz fantástica, sempre tentei ouvir Jeff Buckley antes de subir para o palco, porque ele simplesmente não tem inibições em levantar-se e cantar de forma tão poderosa e emocional, aspiro muito a isso.

Livro, música, filme que mais a marcaram.
Um livro é o First time. É sobre um jovem que começa a misturar-se com as pessoas erradas, começa a fumar e beber. O album da Joni Mitchelll, Blue, é muito tocante. O meu filme favorito é o Godfellas, adoro filmes com gangsters, mesmo muito.

Sonho para o futuro, para ti e para o planeta.
Eu não sei o que esperar do futuro. O que estou a fazer agora é mais do que podia sonhar. Só espero que possa continuar ano após ano a fazer albums e que as pessoas saibam que o meu album está ali, que gostem para que possa fazer mais um.

trabalho publicado no jornal Destak, edição 139

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