O mundo está um lugar estranho e completamente diferente do que era em dezembro, por estes dias.
23 março 2020
As conferências de imprensa diárias (boletins diários) de final de dia nos EUA são uma pequena preciosidade peculiar e sociologicamente cativante - ao estilo reality crisis show - no meu dia de isolamento.
Começaram há umas 2 semanas, com um surpreendentemente estadista, esclarecido e cativante Mike Pence a liderar e partilhar boa parte do tempo com médicos, cientistas e militares - Pence referia era, de 2 em 2 frases a importância do presidente Trump em cada medida e ação......... .
Pence, a liderar a task force Covid-19 já que Trump achava que ia ser um vírus passageiro, foi elogiado e, Trump, claro, ficou com ciúmes. Desde quinta ou sexta-feira que passou a ser ele mesmo a liderar as conferências de imprensa - até porque ficou sem os seus comícios de campanha.
Curioso ver como Trump também consegue mudar de estilo e de opinião sobre países de dia para dia, entre o agressivo contra a China (começou por fazer questão de chamar o vírus da China). Depois devem-lhe ter dito que precisam de dados e estão a receber apoio vário da China, convém ele não criar mais uma crise diplomática. Segunda-feira (que até foi o dia em que comecei a ver as conferencias de forma mais regular) já ele era todo meloso para a “afável China”.
Há muito para ver nestas conferências. Numa sala pequena, jornalistas espalhados para manterem a distância fazem perguntas ao presidente e aos especialistas.
Segunda-feira Trump não quis contar com o médico e cientista especialista em doenças infeciosas que o tem desmentido quase em tempo real, Anthony Fauci (79 anos de homem da ciência, pequeno junto ao gigante Trump, mas que não se deixa intimidar). A imprensa e as redes sociais ficaram em pânico...
Terça lá voltou Fauci à conferência. Desde segunda-feira - numa conferência de imprensa que durou 2h - que Trump repete a mesma coisa, com pequenas variações: quer que a economia do país esteja a operar normalmente a partir de 12 de abril (mesmo deixando algum poder aos governadores para gerir os seus estados); o melhor país do mundo a gerir o Covid-19 é os EUA, é tudo GREAT e HUGE, desde as máscaras, aos testes e tudo o que estão a fazer IS REALLY WORKING LIKE NOONE IN THE WORLD HAS SEEN;
E depois vai dizendo barbaridades várias (por entre alguns números que lhe puseram num papel em letras grandes); ontem disse umas contra a China e os jornalistas pediram a Fauci, logo de seguida para o desmentir... o cientista de 79 anos teve de dizer que a China tem ajudado com dados importantes e, muito atrapalhado..., de dizer que coisas políticas não comenta. Tudo é espetáculo e show para Trump. Mesmo quando são os outros que estão a falar, a sua postura física é de estar na dianteira, a tapar todos os que pode e a tentar ser visto (não sabe estar quieto e não ser o centro das atenções). As conferências tornaram-se mais curtas, felizmente, mas mesmo apanhar 5min delas dá sempre para tirar algum entretenimento, alguns pensamentos sociológicos (e também alguma informação útil sobre os EUA) em época de pandemia. Keep safe @home, make the world GREAT again.
https://m.youtube.com/watch?v=98-B16TGXqk
Será o coronavírus o empurrão que a China precisava para bater economicamente os EUA na liderança mundial (à medida que a economia chinesa está a voltar ao trabalho e as restantes estão a parar...) ? Países como Portugal podem ficar ainda mais dependentes da China (e não só em testes e máscaras contra o Covid)? Como quem sai melhor da crise pandémica pode reinar e ser o rei do crescimento este ano - daí que Trump não queira fechar o país a todo o custo...
(E como a postura anti China de Trump pode ter custos numa união mundial contra a pandemia... )
quinta-feira, março 26, 2020
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