sexta-feira, outubro 24, 2014

entrevista robin williams

Dezembro de 2009. Breve entrevista para a SIC Notícias (programa 35mm) em versão publicada no jornal Destak.


Entrevista Robin Williams
«Os miúdos suportam-me»

Robin Williams mostra que é um homem de comédia - o motivo da conversa foi o novo filme 2 Amas de Gravata - mas também de muita melancolia. No fundo, é o retrato dos filmes tão díspares que já fez: Popeye e Clube dos Poetas Mortos, Bom Dia Vietnam e o Rei Pescador, Hook e Hamlet, Papá Para Sempre e Jack, Flubber e O Bom Rebelde.



Bryan Adams fez a banda sonora do filme e já tinha feito noutro seu, Jack. Está a persegui-lo?
Quem é Bryan Adams? A sério, não faço ideia. Ele não me está a perseguir de modo algum, porque tenho total falta de conhecimento sobre ele (risos). Neste momento vou ter de me chicotear porque não conheço o nome. (Risos)

Vamos então partir para a sua relação com John Travolta. Acha que ambos se complementam?
Acho que sim. Somos um bom ying e yang. Complementamo-nos. [Começa a cantar] Tu completas-me, de uma forma que mesmo assim não conheces o Bryan Adams. Cala-te Robin, deixa estar [em voz fina]. Sim, sem dúvida, o John é um homem tão generoso e carinhoso e já disse isto uma vez antes, na verdade quatro vezes... ele é o equivalente humano de um panda. Apetece chamá-lo "vem cá!". É destemido, divertido, mas também é um excelente actor.

A comédia dele é um pouco diferente da sua, não é?
Não é tão azul [triste]. Tenho tendência a ir um pouco abaixo e ele diz-me sempre "fica aqui na luz, fica comigo não te vás abaixo". Isso ajuda, porque traz-me de volta e digo [voz tristonha e infantil] "tens razão, não temos de ficar azuis, mas seria divertido". É tão simpático e generoso que fez vir ao de cima o meu lado bom. Está sempre a cativar-nos para experimentarmos coisas novas.

Neste filme não tem jeito nenhum para crianças... muito diferente de si, não?
Eu sou OK com os miúdos. Os miúdos pequenos suportam-me desde que… Uma vez estava a ler uma história à minha filha e ela disse "não faças as vozes, lê apenas a história". Fiquei surpreendido, mas a verdade é que com miúdos pequenos não podemos exagerar. Se fizermos algo muito louco eles não gostam. Por isso é que os miúdos não gostam de palhaços. Primeiro, parecem alcoólicos mortos. Segundo, aparecem assim [grita projectando a cara com sorriso forçado] "ei, eu vou divertir-me contigo". E os miúdos dizem [voz fina e infantil]: "tu assustas-me, tu és um pedófilo com grandes sapatos". O que funciona é divertirmo-nos com eles. Se começarmos de forma simples, podemos ir subindo e ir fazendo vozes. Eles exigem que sejamos muito honestos com eles. E estarmos concentrados, estarmos mesmo lá com eles, e não inventar coisas como: "tenho de atender esta chamada"; [voz final infantil] Não, não tens, os teus negócios estão na falência. Estás a investir no Google" - "Sim"; - "Não o faças".

Tem inveja do Seth Green por causa da longa cena dele com um gorila gigante?
De modo algum. Por acaso já tive um verdadeiro encontro. Conheci Coco, a gorila que faz linguagem gestual. Primeiro apertou-me os mamilos, o que… [risos] não é nada mau, deixe-me que lhe diga. Se tiver um gorila que lhe aperta os mamilos, aí está uma história para um bar. O tipo vai e diz "Sabem, uma vez estava com um anão". E vou eu e digo, "Ah é? A mim um gorila apertou-me os mamilos e foi bom". Dão-nos logo outra rodada [risos]. E a Coco tentou levar-me para o quarto dos fundos, o que foi um pouco o que acontece com o Seth no filme. O treinador estava a fazer sinais à Coco, a dizer [faz linguagem gestual]: "Coco, não, nada de truca truca Coco". Ele depois ainda me diz, que se ela me levar para o quarto dos fundos não me podia ajudar - ficaria descontrolada. Ouvia-se apenas: "Nãaaaooooo" e "Uh-uh-uh". Não fiquei ciumento. Disse apenas ao Seth… "já estive aí, vaca".

Para terminar, sabe imitar um português?
Conheço a língua, mas normalmente dou um toque brasileiro. Há uns anos tivemos um babysitter brasileiro, um homem chamado Alfredo Pedroto. E dizia sempre [fala em português]: "Robbie, tudo bem? Obrigado, boa noite". É mais brasileiro, sei disso. E aprendi a palavra [diz em português] "bom tempo". Em brasileiro tudo o que dizemos tem um tom do tipo "bom tempo". Perguntamos [em português] "o que vais fazer?"; "shiu, bom tempo, tudo bem Robbie, obrigado. Como vai você? Tudo bem". Vou lá ao Brasil para os Jogos Olímpicos. Sabes para quê? Para o espectáculo de depilação [faz barulho de depilação a cera e simula depilar as pernas com as mãos]. Boa sorte.

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Clube dos Poetas Mortos
Já fez filmes tão diferentes uns dos outros. Ainda se sente às vezes Captain, My Captain [referência à personagem John Keating, do filme Clube dos Poetas Mortos]?
Totalmente. Quer dizer, sinto-me tão orgulhoso desse filme em termos do que é e do que significa para mim. Mas também como um filme que pode mudar a vida das pessoas, como alguém uma vez disse. Foi a primeira vez que eu fiz um filme em que houve pessoas a chegarem-se a mim e a dizer que se tornaram professores por causa daquela personagem. E eu fiquei sem palavras… é uma escolha corajosa, especialmente na América onde não lhes pagam. Por isso… é mesmo um grande orgulho. Obrigado.


VERSÃO EM ÁUDIO:

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