(escrito sentado num banco da Academia de Arte de Florença, a descansar os cansados pés).
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David, a minha pila.
Ora aí estão milhares de
turistinis a olhar para as formas de um rapaz novo com alguns músculos, os
clássicos, sem exageros, e a pilota de fora a dar a dar (mentira, que a
picolina não mexe por nada deste mundo, e do outro).
Diz a lenda que David matou o
gigante Golias numa tarde de sol. Ora, o David é gigante visto daqui (escrevo
isto sentado a uns bons metros dos ‘turistinis’, a ver o espectáculo com
distância).
O David tem umas mãozarras patudas – dizem que é pela perspectiva
do público, que observa a estátua de David cá de baixo –, tem a fisga que mal
se vê e faz pose amaricada, como quem está desinteressado em tudo mas tenta
parecer estiloso e cagão. É claramente italiano ou romano para Michaelangelo,
mas não era 'para' a lenda. O David da lenda dificilmente seria tão torneado e
musculado ou com linhas de cara tão direitas.
Mas este é o homem perfeito.
Jovem. Com saúde. Musculado qb. Com estilo. Convencido e idolatrado. Mariquices dos antepassados italianos (não é uma referência à preferência sexual por pessoas do mesmo
sexo).
Certo é que passam por aqui miúdas
holandesas, americanas, inglesas. Embonecadas, observam com atenção e prolongadamente o David,
tal como os homens e as idosas, mas nada acontece. Nada. A pila do jovem rapaz
será eternamente assim. Picolina e sem tusa.
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