Mourinho é sempre o último a fechar a porta
Uma eliminatória como aquela que opõe Inter de Milão e o Manchester United gera um turbilhão de emoções junto dos adeptos, que falam no encontro nas ruas, nos cafés, no local de trabalho e, claro, no caminho para o estádio de San Siro. Mas não são só os adeptos, ingleses e italianos, mas também estrangeiros, que vibram com este embate de titãs.
Os jornalistas italianos e ingleses, mas também chineses, norte-americanos, australianos e afins, andam numa roda vida que mistura o puro trabalho e o amor que também têm pelo jogo. Para eles, o embate entre Mourinho e Ferguson é o que mais cativa nesta eliminatória.
Na nossa passagem por Milão, as emoções aumentaram com o aproximar do jogo da primeira-mão, em San Siro, que terminou sem golos, mas foi profícuo em intensidade e em caracteres para escrever ou palavras para relatar. Os jornalistas foram chegando várias horas antes do jogo começar. Num estádio lotado de adeptos (foram 81 018), com filas bem grandes para entrar no recinto, também os jornalistas estão no limite da capacidade.
«Foram recusados dezenas de pedidos de jornalistas de vários países, por não termos mais espaço», disse-nos o assessor inglês do Inter de Milão, Stuart Park, um homem que acompanha as conferências de José Mourinho e tenta evitar o «frenesim de alguns jornalistas com os jogadores e o técnico».
Dentro do velhinho Giuseppe Meazza, os jornalistas italianos fazem o seu prognóstico para o jogo. A maior parte admira José Mourinho, mas ainda não o compreende na totalidade, especialmente as suas atitudes nas conferências de imprensa. Já os ingleses, que não vimos misturarem-se com os italianos, são mais galhofeiros e divertidos, e lamentam que este Inter tenha um estilo tão italiano de jogar. «Nós, britânicos, gostamos de espectáculo», diz-nos um repórter do The Times.
O final do jogo é a altura de maior intensidade de trabalho. Ultimam-se os textos para enviar para locais tão distantes quanto o site oficial do Inter, a Gazzetta dello Sport, o site da UEFA, os britânicos The Guardian, The Times, o site da BBC, entre muitos outros. Depois segue-se as conferências de imprensa com os técnicos e um local mais caótico, a zona mista.
A zona mista
Dezenas de jornalistas da televisão, sites, rádio, imprensa, inclusive uma simpática repórter chinesa, tentam a sua sorte com a passagem dos jogadores. Adriano e Figo são dois exemplos de jogadores que não queriam falar, nem mesmo em português, por isso não se manifestavam aos pedidos. Depois há as amizades. Uma jornalista com quem falámos no meio da confusão conhecia bem todos os jogadores do United, já que trabalhava há quatro anos no canal oficial do clube, e até viaja sempre com a equipa. «Adoro o meu trabalho, acho que é o melhor do mundo», dizia.
Um divertido jornalista veterano do Daily Express, adepto do United, explicou que o amor pelo futebol dos ingleses vai muito para além das vitórias. «Se a minha equipa vence e tem um péssima performance fico triste e preferia que não vencesse. Não quero apenas vencer. Quero que o United vença ao estilo United», disse. Outro, do The Guardian (e Observer), não compreendia porque os adeptos italianos «aplaudiam e comemoravam os lances em que o Inter pressionava o United, como se de um golo se tratasse».
À medida que iam passando os jogadores do Inter e do United, alguns só falavam com quem conheciam ou com quem os assessores dos respectivos clubes indicavam, vimos e ouvimos os mais faladores, Ryan Giggs, Rooney, Michael Carrick e Ibrahimovic. Alex Ferguson passou com o seu staff sorridente e sem parar. Cristiano Ronaldo parou para as televisões, primeiro inglesas e italianas e, depois, mais brevemente, as portuguesas.
Passaram todos, desde staff técnico a jogadores. O corredor da zona mista esvaziou-se de jornalistas. Ficámos por ali, sozinhos, na conversa com o repórter da TVI Henrique Mateus e já sem esperança de falar com José Mourinho.
O último a sair
Meia hora depois e com um trolley na mão, vimos José Mourinho, sozinho e sorridente. Foi um Mourinho mais franco e aberto do que aquele da conferência de imprensa que falou para os dois jornalistas portugueses. «O United tem jogadores muito rápidos em todas as posições, nós não temos isso… temos de trabalhar com o que temos», admitiu Mourinho sobre as limitações da sua equipa actual, que tem tido grande problemas na defesa.
«O Rivas não fez aquilo que pedi dele e a saída ao intervalo ajudou a equipa a ficar mais segura e organizada. Ganhámos a experiência do Córdoba», respondeu directamente o técnico a uma pergunta que fizemos. Num tom afável, prestável, simpático, sorridente e que espantaria muitos jornalistas italianos e ingleses, Mourinho despediu-se com um «Adeus e até à próxima» bem português, depois de mais um dia onde falou acima de tudo em inglês e italiano.
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