[Para mim, deveria de existir uma Ordem dos Jornalistas, por várias situações. Não só para regular melhor o panorama ético e deontológico dos jornalistas, que bem precisa de auxílio, como para ajudar a definir com clareza, bom senso e rigor, quem é jornalista, dando também uma ajuda e organização preciosa a quem está a começar a profissão!]
Opinião de Vicente Jorge Silva
Ordem e desordem jornalística
Há dias, num colóquio organizado pela revista Cais, perguntaram- -me o que é que pensava sobre a criação de uma Ordem dos Jornalistas. A questão era oportuna mas também incómoda - por vários motivos. Primeiro, porque tenho uma aversão epidérmica às organizações de tipo corporativo (que habitualmente tendem a defender os seus associados mesmo quando estes têm comportamentos eticamente indefensáveis); segundo, porque certas tentativas passadas de formação de uma Ordem dos Jornalistas foram inspiradas pelo mero desejo de protagonismo mitómano dos seus promotores, o que lhes retirava qualquer credibilidade; terceiro, porque tenho fundadas dúvidas de que a actual maioria dos jornalistas portugueses, nestes tempos de tabloidização galopante, estejam efectivamente interessados em bater-se por uma autêntica ética profissional.
Em todo o caso, acabei por responder que sim, apesar dos engulhos que me provocam a palavra Ordem e as suas conotações corporativas, preferindo talvez um termo menos carregado, como Associação. É que nunca, numa já longa experiência de jornalista, senti tanto a falta de uma organização que tivesse o objectivo específico de enquadrar, no plano ético e deontológico, o exercício da profissão. Nunca como agora me pareceu que a condição do jornalista estivesse tão permeável à degradação dos padrões éticos e profissionais - e, por isso mesmo, tão vulnerável à pressão intrusiva dos poderes (político, judicial, económico) que visam condicionar, tutelar e submeter a actividade jornalística a uma lógica que lhe é estranha, destruindo a sua autonomia, instrumentalizando a sua função mediadora, promovendo a promiscuidade com outros géneros e convertendo o jornalista num servil agente propagandístico de interesses alheios ao seu estatuto na sociedade.
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quarta-feira, março 29, 2006
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