quinta-feira, março 09, 2006

lello


José Lello
Entrevista in jornal Destak (edição do Porto, para a secção Meu Porto)
João Tomé
Com a responsabilidade de diversos cargos públicos, de deputado do PS, a vice-presidente do Parlamento da NATO, José Lello é um homem de paixões, e o Porto é uma delas, assim com o futebol e a política. Conheça o homem e o político.

O que significa o Porto para si enquanto cidade?
A cidade onde eu nasci. A cidade em que vivo e em que gosto de viver.

Quais as principais diferenças que encontra entre o Porto nos seus tempos de jovem e o actual? Mudou sobretudo a convivência, na medida em que desertificou-se, e o centro histórico é uma caricatura dos tempos da minha infância. Depois temos melhoria em termos de infra-estrututuras, quer viárias, quer sociais. Mas temos também muito betão, demasiada construção e o Porto perdeu um carácter muito próprio com esta modernização sem valores. Mesmo assim, a cidade teve uma revitalização forte a nível cultural. Hoje há expressões culturais que no meu tempo não havia: a Casa da Música, o Coliseu, e o Rivoli. Há o Museu Serralves que veio colocar o Porto na escala de valores culturais a nível europeu.

Quais as suas melhores recordações?
Dos meus tempos de estudante, da boa convivência que existia, onde não havia alguns dos estereótipos de uma cultura urbana importada de outros países que existe hoje. Gostava muito do centro da cidade, de passar em Santa Catarina para ver as miúdas giras. Na Confeitaria Atneia, onde nos encontrávamos todos. E depois o desporto que fazia, que me arranjou amigos que perduram até hoje.

O que mudaria na cidade, se pudesse?
Hoje a cidade é pequena demais para as exigências da metrópole que deveria ser. As políticas da cidade não se esgotam já, na cidade. E deveríamos encontrar um modelo superior de gestão, que integrasse não apenas o Porto, mas Gaia e Matosinhos, para que no Porto estivessem o aeroporto, o Porto mar, o Palácio de Congressos. Para que fossemos um maior pólo de desenvolvimento europeu. Assim, é um pólo desertificado, rodeado de um dormitório desorganizado.

Quais as maiores diferenças entre Lisboa e Porto?
Em Lisboa está-se a assistir a um processo de regresso ao centro e melhoria da qualidade de vida. No Porto é ao contrário. Por outro lado, tem-se verificado uma perda económica do Porto. Os centros de decisão transferiram-se para Lisboa e Madrid, o que retira a afirmação à cidade.

Como classificaria as pessoas do Porto?
Gente fixe. De um tripeiro ou se tem amizade e lealdade, ou um inimigo feroz.

Como figura pública não o incomodam quando passeia?
Interpelam-me muitas vezes. Falam sobre o sistema social e político português. E quando fui Ministro, na altura do Euro, era interpelado de 10 em 10 metros.

Qual consideraria o ex-libris por excelência da cidade?
A ribeira. Porque é uma imagem de muita força e carácter que revela bem aquela ligação do Porto laborioso com o Porto afirmativo da cidade alta.

O que faz de momento?
Sou: deputado pelo PS; presidente do Conselho de Administração da Assembleia da República; Vice-presidente do Parlamento da NATO; Membro da Comissão permanente executiva do PS; Secretário internacional do PS; presidente do conselho fiscal do Boavista.

Tem vários cargos, o que o fascina neles?
Ser deputado e estar no PS é muito estimulante, na medida em que é bom trabalhar em proximidade com o secretário-geral e contribuir para a afirmação do partido. No tocante a deputado, o conselho de administração dá-me responsabilidades e possibilidade de contribuir para a eficácia do parlamento, bem como para a melhoria da imagem envolvente. Na NATO, é a possibilidade de participar a nível internacional num debate de ideias muito importante num sector fundamental para a estabilização da paz no continente. Se há algo que vale a pena lutar é pela paz. A guerra é a opção dos fracos.

Tem ambições ainda de ser primeiro-ministro?
Já fui governante e ministro. Sou um individuo feliz e realizado. A minha ambição é, em cada cargo que ocupe, o faça com eficácia e paixão. As ambições de querer ser primeiro-ministro são legítimas, mas temos de ter uma ideia de proporcionalidade: eu confesso, não me vejo nessa posição. Também não gostava de ser papa, para isso, em Portugal, já dizem que existe um aqui no Porto.

Sem comentários: