sexta-feira, novembro 25, 2005

gatos revoltados e sem papas na língua



entrevista Gato Fedorento Humoristas

"A SIC nunca nos convidou a regressar"
Cinco meses depois de ter batido com a porta de Carnaxide e na altura em que lança um novo DVD, o quarteto Gato Fedorento fala do passado e do seu futuro

Passaram-se quase cinco meses desde que vocês saíram da SIC. Agora que as cabeças esfriaram admitem a possibilidade de aquele bater com a porta ter sido um pouco precipitado?
Miguel Góis (MG) - Não foi de todo precipitado. Olhando para trás, faríamos tudo exactamente igual.

Ricardo Araújo Pereira (RAP) - Com a cabeça fria, quente ou morna, a decisão era inevitável. Contratualmente, a SIC tinha toda a legitimidade para passar o programa [um conjunto de sketches antigos transmitidos no acesso ao prime time do canal generalista]. No entanto, na SIC Radical sempre nos tinham dito que o nosso orçamento era muito reduzido porque se tratava de um canal por cabo, sem dinheiro, onde se trabalhava por amor à camisola. Quando vimos o programa que estávamos a fazer com esse espírito passar na SIC generalista sem sequer sermos consultados, concluímos que aquele acordo tácito fora violado.

Porque é que em vez de saírem não decidiram negociar um novo contrato?
RAP - É preciso esclarecer que, antes de transmitir aqueles episódios, a SIC generalista nunca mostrou o menor interesse no Gato Fedorento. Nós nunca dissemos que não faríamos um programa na SIC. Mas isso nunca esteve em cima da mesa. Nem antes dos episódios terem ido para o ar, nem depois.

Quanto é que a SIC pagava pelo Gato Fedorento?
Zé Diogo Quintela (ZDQ) - 250 contos [1250 euros] por programa. E isso incluía salário, guarda-roupa e outras despesas de produção.
RAP - Eram 250 contos para escrevermos, interpretarmos e co-produzirmos o programa. Fomos nós que comprámos inúmeros adereços os bigodes, as cabeleiras, os óculos. Houve um episódio em que precisámos de quatro bailarinas a sério e fomos nós a pagar-lhes 120 contos [600 euros] do nosso bolso.

Esse sketch é já da segunda série. Quer dizer que continuaram a pagar-vos 250 contos ?
ZDQ - Sim. Só a terceira série, depois de aceitarmos o recurso ao product placement, é que conseguimos que fosse mais bem paga.

Quanto?
ZDQ - Quatro vezes mais. Pode parecer um grande aumento, mas não é, pois o que nos pagavam antes nem sequer era um valor ridículo - era uma palhaçada. Só com o dinheiro que a SIC ganhou com o nosso primeiro DVD paga as três séries do Gato Fedorento, e sobra dinheiro.

Já depois da vossa saída, Francisco Penim deu uma entrevista ao Diário de Notícias em que afirma o seguinte "Sou amigo dos Gatos. Eu lembro-me do dia em que os Gatos chegaram à SIC com uma mão à frente e outra atrás e me disseram: 'Eh, pá, vê lá se isso tem piada...' Não me esqueço." Querem comentar?
MG - Essa frase do chegar à SIC "com uma mão à frente e outra atrás"... Nós só conseguimos fazer o Gato Fedorento com o preço que a SIC Radical nos propôs porque tínhamos uma situação muito confortável como guionistas, nomeadamente para os programas do Herman e da Maria Rueff. De outra forma, teria sido impossível.

RAP - Eu acho, aliás, um bocadinho deselegante ter de justificar se naquela altura eu era ou não um vagabundo. Quem me acusa de estar com uma mão à frente e outra atrás obviamente desconhecia a minha situação financeira.

Tendo em conta que o Francisco Penim se assume como vosso amigo, foi o final de uma bela amizade?
RAP - Na verdade, nunca fui amigo do Francisco Penim, embora também não seja seu inimigo. A relação que nós temos é cordata, simpática, mas não se lhe pode chamar amizade, a não ser num entendimento muito vasto da palavra. Como diz o treinador do Benfica, eu não o convido para a minha festa de anos, nem ele me convida para a dele. Nós chegámos à SIC Radical através de um convite do Fernando Alvim, que nos viu a fazer stand-up e nos convidou para o seu programa [O Perfeito Anormal]. Esses sketches evoluíram depois para um programa de 25 minutos. Em momento algum fomos ter com o Francisco Penim a perguntar-lhe "vê lá se isto tem piada".
entrevista (fantástica) completa in DN

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