Ir a pé sem pressa de chegar
RUI PEDRO VIEIRA
EM ESPANHA
Com a Igreja de San Juan de Ortega no horizonte, um homem de mochila enorme às costas atravessa um caminho de terra batida como uma seta o passo é acelerado (que nem o peso excessivo do material que traz consigo força a abrandar), o suor escorre pela testa, mas há tempo para uma expressão dita com prazer a quem se cruza neste longo passeio que só terminará algumas semanas depois em Santiago de Compostela: "Bon camiño!"
O cumprimento é tradição (tal como as pausas para trocar experiências com quem quer que passa) para os milhares de peregrinos que se distribuem por toda a Espanha e traçam rotas para chegar à catedral onde se aguarda um único momento "o abraço" ao apóstolo Santiago, o Maior, imortalizado em pedra, como prova do ritual que leva famílias inteiras, grupos de amigos e aventureiros solitários a palmilharem centenas de quilómetros, em busca de qualquer tipo de redenção - ou só pela necessidade de chegarem a uma meta simbólica.
O caminho francês é o mais antigo dos inúmeros percursos escolhidos para cruzar a Espanha numa peregrinação que é também um teste físico e um passeio cultural in loco pelo património arquitectónico, a gastronomia e belezas naturais. Baptizado de "francês" por ser frequentado maioritariamente por peregrinos desta nacionalidade (desde o século XII), o percurso tem início em Pamplona e foi distinguido pela UNESCO como Bem Património da Humanidade. Epíteto que significa 800 quilómetros difusores das manifestações culturais e de uma identidade comum entre a gente que se envolve na "missão". Um jogo de impressões e vivências que permite traçar uma breve rota por "paragens obrigatórias".
PAMPLONA. "O Caminho de Santiago pertence a cada um. É uma experiência profundamente pessoal que começa quando cada peregrino sai da porta da sua casa em direcção à catedral da Galiza", explica com um sorriso o guia turístico Mikel Ollo. Conhece os cantos da cidade de Pamplona e sublinha os pontos de maior atracção para os cerca de 35 mil visitantes anuais além do busto do escritor Hemingway ("padrinho" das largadas de touros imortalizadas no romance Fiesta) bem no centro da cidade feita de prédios com os vasos de cravos nas varandas, a segunda maior catedral do caminho francês de paredes amareladas chama a atenção na Praça de São José.
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História e dicas da jornada que dura semanas
Durante séculos, os portugueses contribuíram em larga escala para o crescimento do culto a Santiago. Apesar do caminho francês ser o mais mediático, as ligações entre Portugal e a região da Galiza sempre foram próximas (não só por razões geográficas). Para as peregrinações que partem das diversas zonas do País, Porto ou Chaves são pontos de reunião habituais. Mas, mais uma vez, cada grupo de peregrinos segue a sua própria direcção de Chaves, é habitual seguir para Verín e atravessar a Rota da Prata (que vem do Sul de Espanha, desde Sevilha); de Valença do Minho segue-se para Tui, Redondela, Pontevedra, Padrón e Milladoiro. O traçado da estrada N-550 que liga Vigo a Coruña sobrepôr-se um pouco ao percurso tradicional. Porém, mantêm-se as passagens por terras de labor, aldeias e cidades históricas, cursos de água, reservas naturais , igrejas ou conventos. Com uma actividade constante e convicções fortes no espírito do trajecto, a Associação dos Amigos do Caminho Português de Santiago dá a conhecer as suas iniciativas no site www.caminhoportuguesdesantiago.com.
domingo, outubro 23, 2005
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