sábado, abril 30, 2005

may rufus be with you


Rufus trouxe magia e fetiche ao Coliseu
Concerto de 24 de Abril 2005 (domingo). Com muita conversa, ritmos contagiantes, uma voz grave e pitadas de ópera o cantautor Rufus Wainwright voltou a Portugal para levar ao delírio o Coliseu de Lisboa que, apesar de não ter enchido teve uma intimidade inesquecível.

João Tomé

Quem é Rufus Wainwright? Quem esteve durante as quase duas horas de concerto do americano residente do Canadá no passado domingo em Lisboa percebeu quem ele realmente é. Depois de uma primeira parte com os sons harmoniosos e calmos de cantora Joan Wasser, que é membro integrante da banda de Rufus, o espectáculo que jovens, adultos e mais velhos esperavam começou ao som exótico de Agnus Dei.
Houve muita pop-ópera vinda do piano de Rufus – que passou a noite entre o piano e a guitarra, sentado e em pé, como é habitual –, e da sua banda composta por violoncelo, violino, guitarras acústicas, guitarra eléctrica, bateria (com tambores), dependendo das músicas. O cantor usa muita bem a sua bonita voz, grave, e que nem sempre foi bem captada pelo microfone. Assumidamente homossexual, tem uma forma de escrever, cantar e dançar descontraída e particular.
O que Rufus pretende? «Ser único e original», disse no passado sábado em entrevista ao Frescas e Boas (a ser brevemente publicada). E isso já ele o conseguiu.
A primeira parte do espectáculo contou com as músicas do último álbum Want Two. «Esta é a primeira música em muitos anos que consegui escrever sem ser sobre mim», explicava o cantor antes de cantar The Art Teacher. Do último álbum também cantou as aplaudidas This Love Affair e The One You Love.

Falador, descontraído e divertido Rufus tem sempre o público atento, gosta de falar antes de cada música, explicar como ela surgiu e também falar sobre a sua vida. Logo no início falou que adora a palavra ‘Lisboa’, dá ares de anos 30 e falou no jogo Estoril-Benfica – que motivou gritos benfiquistas. Mas Rufus dedicou a música seguinte aos derrotados. «Vou para Roma e esperava que não houvesse nenhum Papa», diz antes de começar a cantar a música Gay Messiah, que dedica com ironia a todos os Papas mortos e vivos.
Depois fez ainda uma dupla homenagem ao falecido Jeff Buckley, primeiro com Memphis Skyline, depois com a fabulosa canção Hallelujah – de Leonard Cohen, mas celebrizada pela fantástica interpretação de Buckley. Outra das partes dos concerto foi dedicada à sua família, todos eles também cantores e autores e que curiosamente estão em digressão pela Europa.
Começou por contar, com o seu jeito muito próprio e comunicativo, uma história ‘maluca’ vivida no próprio dia pela mãe – com quem fala todos os dias –, em digressão na Holanda. E de seguida cantou Beauty Mark, a música dedicada à sua mãe, Kate McGarrigle.


Ainda teve a sinceridade para pedir que todos comprassem discos da irmã, Martha Wainwright, a quem dedicou Little Sister – onde ele acreditava ser Mozart 'himself'. Rufus é muito sincero e não se põe com falsas modéstias, bem pelo contrário. Terminou a parte dedicada à família com a música em honra do pai, que confessa amar apesar de ter estado muito ausente na sua vida. «Ele é um letrista fantástico», explica antes de cantar a música muito aplaudida Dinner at Eight sobre o pai, Loudon Wainwright III.
Na etapa seguinte do concerto somos levados para um outro universo, místico e etéreo com Across The Universe. A música mais esperada, Cigarettes and Chocolate Milk, foi bem tocada e fez as delícias da audiência já totalmente rendida. Rufus ainda nos guiou pela sua cidade de sempre, Montreal, no Canada, com Hometown Waltz e falou nos muitos portugueses que existem por lá: «adorava a comida portuguesa».




Para o primeiro encore estava reservada a parte mais inesquecível e que demonstra as várias facetas do cantor. A banda e Rufus começam a despir-se. Quando parece uma pequena brincadeira, todos continuam até ficarem em trajes menores muito divertidos. O público ria-se e aplaudia de pé em êxtase. Rufus ficou de saltos altos vermelhos e cueca fio dental, com uma asas de borboleta e uma varinha mágica. Uma espécie de Sininho. As duas raparigas da banda ficam em roupa interior provocante, e os outros alternavam trajes menores muito divertidos.
Tocaram assim vestidos e ao terceiro encore vestiram roupões turcos e ainda tiveram tempo para a linda canção Califórnia. Rufus ainda perguntou: «ficaram chocados?». A resposta foi não e o público dificilmente vai esquecer um concerto que foi tão diversificado quanto apetecível.



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