segunda-feira, novembro 22, 2004

O futuro do futebol


Mariano Barreto - «Devo ficar apenas esta época»
«Os treinadores não devem ficar muito tempo num clube»

O actual treinador do Marítimo é um homem viajado, que nunca foi treinador principal em Portugal, mas que conheceu o sabor do sucesso nos dois anos que esteve ao serviço da selecção do Gana, levando a selecção aos Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Chegou ao clube na segunda jornada e desde então teve quatro vitória consecutivas e está em 4.º lugar no campeonato, à frente do Sporting. No passado fim-de-semana a sua equipa, com uma excelente exibição que mereceu elogios até de Giovanni Trappatoni, empatou com o Benfica (1-1) no Estádio dos Barreiros e o DESTAK falou com o homem que acha que os treinadores devem ficar pouco tempo nos clubes.

João Tomé [publicado no jornal Destak, edição 147, 20 Novembro 2004]

O empate frente ao Benfica é apenas um dos bons resultados que conseguiu ao serviço do Marítimo esta época. Quais os ingredientes fundamentais para estes bons resultados?
A capacidade de resposta que o grupo de trabalho está a ter ao que é proposto. Eles têm melhorado significativamente enquanto equipa porque entenderam o treinador e conseguiram pôr em prática as ideias do projecto que tenho para a equipa. Nem sempre isso acontece e felizmente tem havido até à altura uma boa resposta dos jogadores.

O seu regresso a Portugal, onde nunca foi treinador principal de uma equipa, aconteceu pelo desafio que lhe foi colocado?
O meu regresso não teve a ver directamente com o desafio feito pelo Marítimo. O projecto foi apresentado quando já tinha regressado a Portugal depois de ter saído da selecção do Gana. Vim cá para descansar e matar saudades mas já tinha várias propostas de clubes no estrangeiro e estava decidido a partir novamente. Quando surgiu o projecto do Marítimo acabei por aceitar pela dimensão do clube, as boas condições profissionais e o simbolismo de ter associados por todo o mundo devido a haver muitos emigrantes madeirenses. Além disso, ao escolher o Marítimo, que me oferecia muito menos dinheiro do que os clubes estrangeiros, tinha o privilégio de estar no meu país e encurtar um pouco a saudade que tive neste período. Tenho-me sentido um privilegiado nas minhas escolhas, essencialmente porque posso escolher o meu próximo destino e tenho conseguido estar onde me sinto bem, útil e me identifique com o projecto em que estou inserido. Isso é fundamental para qualquer profissão que se desempenhe.

Quais os seus objectivos para o Marítimo, nesta época e nas seguintes, caso se mantenha como treinador?
Espero deixar o clube com uma dimensão maior, seja pela experiência que transmiti ou pelos resultados. Aliás, penso que a classificação tem de reflectir o que nós fazemos nos clubes e por isso espero conseguir deixar o clube numa boa posição.
Mas pensa sair do clube no final da época?
Sim. Devo ficar apenas esta época. Tive 10 anos no Sporting como adjunto e cheguei à conclusão que os treinadores não devem ficar muito tempo num clube. Não devemos ficar muito colados a uma realidade que é muito própria dos adeptos. Gosto de criar condições de melhoria do clube, dar o meu contributo, enriquecer a minha experiência e em um ou dois anos sair. Penso que esse é o período máximo que um treinador deve-se manter num clube.

Tem algum sonho em particular para a sua carreira? Está nos seus objectivos futuros treinar um dos três clubes de maior expressão em Portugal?
Tenho um sonho fundamental e que tenho vindo a concretizar que é no fim de cada trabalho os jogadores com que trabalhei tornarem-se melhores e incentivar os mais jovens para que possam tornar-se realmente bons. E sinto-me muito feliz ao ver que alguns dos jovens que apoiei há alguns anos são hoje jogadores da selecção nacional. Sinto que está ali um pouco de mim. Relativamente aos clubes de maior dimensão não tenho nenhum objectivo em particular, mas espero até terminar a minha carreira ganhar o campeonato nacional, apesar de não definir um espaço temporal para que isso possa acontecer.

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