quarta-feira, outubro 29, 2014

um aston martin 'racing' nas mãos

Conduzir um Aston Martin.
Há vários tipos, de várias décadas, em vários estados. Mas há denominadores comuns.
Um Aston Martin é um carro especial, com uma história especial e que, claro, dá um status especial. Quem o compra pensa no status e que está a conduzir um carro belo e de uma elegância extrema. Sim. Mas nas poucas horas (são sempre poucas) em que pude conduzir uma versão mais, vamos dizê-lo, 'racing', fiquei impressionado pelos outros detalhes.



Qual Aston Martin? O Vantage N430. O nome pode parecer complexo, mas a explicação é simples e... 'racing'. Vantage é uma espécie de gama de entrada na Aston Martin (marca inglesa histórica de luxo que atingiu píncaros da fama mundial com os filmes de James Bond), com valores ali um pouco acima dos 100 mil euros. N430 é a versão do Vantage mais desportiva, leve e com promessa de sensações de corrida, neste caso com o motor V8 (mais leve do que o V12). A sigla N está associada a alguns modelos recentes da Aston Martin e refere-se ao facto de serem testados durante singelos 10 mil quilómetros na mítica pista de Nürbürgring, no meio de um bosque alemão e a umas dezenas de quilómetros de Colónia e Frankfurt. Curiosamente foi junto à mítica e antiga pista - cuja versão antiga (Nordschleife) tem mais de 20 quilómetros - que andei neste belo espécime da marca londrina, que fez este ano 101 anos de história (parte dela ligada ao mundo das corridas automóvel).



E as sensações iniciais? O aspecto não engana. As cores vivas e o amarelo e verde que a Aston Martin utilizou em vários carros de corrida estão presentes. Estar ao lado de um Aston Martin é diferente de o ver nas fotos. As dimensões/proporções são diferentes. O encanto e a forma como a elegância suprema nos deslumbra também. Apetece entrar e 'sentir' o volante. Foi o que fiz.
A pega é à antiga: pressiona-se a parte da frente (estilo botão) e surge, como se de um gadget ao estilo 007 se tratasse, o puxador para podermos abrir a porta. Uma porta sólida, com o peso suficiente (até porque não falta o uso de fibra de carbono para torná-lo leve) para nos dizer: sou um carro especial.

O veludo cuidadosamente costurado está por todo o lado e é com orgulho de o Vantage apresenta as suas costuras - este modelo mais 'racing' tem um interior mais rebelde e desportivo do que o luxo normal da Aston (até já tratamos a marca por 'tu').
O banco fica mais em baixo do que parecia, ou não fosse a suspensão do N430 rebaixada para trazer ao de cima (ao condutor) as emoções da estrada. Faz lembrar os Lotus. O centro de gravidade também é bem baixo, como se quer para as curvas.

Ficamos encaixados no banco (suave ao toque, rígido q.b. e ultra fino) repleto de suporte lateral para evitar que o nosso corpo fuja numa curva mais apertada e para mantê-lo todo concentrado na condução - transformando assim, como se quer, homem e máquina num só (dentro do possível).
O primeiro pensamento: "não quero sair daqui". O segundo, enquanto sinto a suavidade do veludo do volante nas mãos: 'wow'. Como se costuma dizer, mal pego no volante percebo que 'isto é outra louça'.
O interior luxuoso inclui um requintado relógio analógico, mantendo os pergaminhos da Aston Martin em ordem. Se pararmos para olhar, nota-se neste modelo a atenção ao detalhe, onde até o fio usado nas costuras no tabliê é amarelo, a combinar com o topo do bólide.

A ignição? A ignição! VRUMMMMMM. A chave volta a fazer-nos lembrar o secreto James Bond. Isso e os cristais que o Super Homem usava para comunicar com o pai. A parte superior da chave/comando é em vidro e evidencia com o luxo necessário o símbolo da Aston Martin. O resto é um pequeno bloco que se insere não junto ao volante mas num local 'secreto' e reluzente, no centro da consola, por cima do rádio (ex-auto-rádio).

A penetração da chave no orifício (peço já desculpa pela linguagem gráfica) é uma acção que é obrigatoriamente feita de forma suave. Isto porque é ao penetrar aqueles centímetros extra que 'damos vida' ao motor a gasolina, de 4.7 litros e 430 cavalos (ou não fosse o nome da versão N430). Com a última estocada também nós ganhamos 'vida' e adrenalina com a explosão sonora (VRUMMM) da ignição do motor. E depois do susto, só podemos sorrir!

A manete da caixa de velocidades, suave ao toque, também de veludo, mas rígida, com sensação metálica q.b. e intensa na hora de 'encaixar' a mudança é o primeiro passo. O segundo (em simultâneo) é o travão de mão que, neste caso (para quem não esteja habituado) também tem segredo: está à esquerda do banco do condutor, escondido no pouco espaço que sobra e não se trata de o baixar para dar liberdade às rodas mas sim puxar de baixo, para cima, e novamente para baixo (não parece, mas é simples!).
Com as rodas sem amarras, o acelerador é accionado com o cuidado devido e o arranque atira-nos para a estrada... literalmente.



E a condução? É nervosa q.b., como se quer! A primeira sensação é de surpresa. "WOW! Está vivo!" Ao contrário de muitos Aston Martin, o N430 faz jus ao que a marca fiel à Rainha chama de 'pedigree racing': é nervoso à partida, ao primeiro carregar do acelerador. Ah... E QUER SEMPRE MAIS! Ao volante do N430 sentimo-nos parte máquina. Sentimos que ele pede mais velocidade, mais concentração do condutor, mais intensidade nas curvas, mais e mais e mais e MAIS.

A fibra de carbono e o alumínio permitiram tirar 80 kg ao Vantage N430. Os 430 cavalos não o tornam no mais potente do parque Aston Martin mas a forma como está concebido, para ser um 'bicho' nervoso e pronto para a acção tornam aqueles 430 cavalos em equíneos alimentados a esteróides - falando em cavalês, seria uma espécie de puro sangue árabe, sempre nervoso e pronto para o ataque.

E as curvas? DEUS. AS CURVAS! O N430 não lhe chama curvas, chama 'pedaços' de inferno flamejante. À primeira curva mais apertada sinto a facilidade com que ele patina (os saborosos slides) sobre o asfalto quando lhe damos 'gás' no momento certo. A direcção bem directa e imediata dá-nos as sensações da estrada necessárias para corrigirmos e controlarmos o 'bicho' assim que o 'slide' começa. Se tratarmos bem o N430, com concentração e mãos prontas a saborear as sensações do volante, temos amigo para a vida. Apetece acelerar mais e mais nas curvas.

À medida que a confiança vai aumentando entre homem e máquina, um ajuda o outro a saborear não só a curva como aquele momento perfeito em que voltamos a acelerar a full trottle para a recta que se segue. Apetece levá-lo para a pista e é lá que o N430 mais se sente em casa, à vontade, pronto para abusar e ser abusado por nós (por mim). A agilidade com que parece fugir de um criminoso repleto de armas poderosas (ao estilo 007) é incrível e é fácil fazer o que queremos com este peso pluma.
Faltou a pista de Nordschleife para ser um dia perfeito.

Passado uma hora ao volante, a direcção já não me parecia tão directa e perfeita e já queria um pouco mais de potência e sensação da estrada no volante. As emoções e a adrenalina, essas, continuaram sempre no topo e foi com pena e saudade que vi partir o pequeno coupé de dois lugares - bastava-me um -, rebelde. Adeus felino com 'pedigree racing', até à próxima. Queria-te mais.


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