quarta-feira, agosto 27, 2014

entrevista entre o médio oriente e tarantino

Entrevista a Ziad Doueiri.

“Para os árabes não se pode dar voz aos judeus”


‘Rejeitou’ Quentin Tarantino, que o chamou para Kill Bill, porque queria ser realizador e o seu terceiro filme, O Atentado, chegou em abril a Portugal.

João Tomé

O Atentado é escrito e realizado pelo libanês, durante muitos anos cameraman de Quentin Tarantino, Ziad Doueiri. Falámos com ele sobre a sua carreira e o filme que acompanha um médico israelo-palestianino em conflito pessoal depois de descobrir que a mulher é bombista.

Como é que foi ter aos EUA a trabalhar para talentos como Tarantino?
Nunca planeei. Deixei Beirute com 19 e fui estudar cinema na Califórnia. Depois comecei à procura de trabalho na cidade e comecei a ganhar experiência como técnico, na câmara, na grua, nas luzes. Nunca tive intenção de realizar. O meu primeiro filme era do Roger Corman [conhecido produtor] e chamava-se Munchie (1992) – uma versão barata, série B, dos Gremlins. Ganhei muita experiência e aprendi muito nessa altura mesmo a trabalhar em filmes chamados ‘trashy’. O panorama independente em LA nos anos 80 foi muito interessante.

E como é que começou a trabalhar com o Tarantino?  
Tive uma entrevista com o director de fotografia, já tinha algum experiência em filmes B e consegui o trabalho. Desde aí continuámos sempre a trabalhar juntos. Depois de fazermos o Cães Danados (1992), o Tarantino continuou a utilizar a mesma equipa e fizemos o Pulp Fiction e outros. Se eu continuasse a fazer trabalho de câmara ainda estaria a trabalhar com ele. Ele pediu-me para participar no Kill Bill mas eu decidi que não queria continuar a trabalhar como câmara. Estava numa altura da minha vida em que queria fazer outras coisas. Mas ele manteve a lealdade com a equipa técnica é praticamente toda a mesma. A maioria dos realizadores usa a mesma equipa, o Scorsese faz o mesmo. Quando encontram a equipa certa mantém-na. 

Quando estava a fazer esses filmes, Reservoir Dogs, Pulp Fiction, o Tarantino não era tão conhecido como é hoje. Tinham noção que estavam a criar algo tão importante que se iria tornar um clássico?
Simplesmente não sabíamos. Nunca sabemos. Quando fizemos o Reservoir Dogs, olhei para o guião e não sabia se era bom ou mau. Nunca sabemos se é magnífico ou uma merda, só depois, porque era tão estranho e tão diferente. O Reservoir Dogs foi uma das minhas experiência preferidas num filme. 


Porquê?
Há dois anos vi algumas fotografias dessa altura, tiradas na rodagem e trouxe-me de volta aqueles tempos. Foi uma boa experiência. Compreendo que as pessoas queiram fazer um grande alarido do Tarantino porque ele é um realizador tão fantástico e é tão popular e de culto, por isso as pessoas pensam que a experiência de trabalhar com ele foi tão incrível e única quanto ele é como realizador. Foi, mas não mais do que noutros filmes, porque a rodagem é um ambiente técnico. O que é único em trabalhar com ele é que ele é muito entusiasta sobre o que faz. Ele simplesmente adora o seu trabalho, ele está-se a borrifar para política, para o amor, tem tudo a ver com a história em si. Ele é como uma criança numa rodagem e isso afecta-nos porque ele tem uma mente incrível, a forma como trabalha e tem uma memória de elefante, na forma como se lembra de tantos filmes. Todas as semanas ele faz um visionamento na sua casa de um filme projectado em 35 mm, porque ele tem uma coleção enorme de filmes. Ele é tão dedicado à profissão de fazer filmes, que o seu foco principal é sempre como transformar algo em filme. Tem uma mente tão eléctrica e cria personagens muito interessantes.

Depois decidiu realizar...
Sim, mas não foi pensado foi progressivo ao longo dos anos. Percebi que aprendi a arte o suficiente e a comandar o cenário – fazer filmes é uma arte artesenal – e queria contar as minhas histórias. Comecei a sentir-me nostálgico – estive 15 anos sem voltar a Beirute – e escrevi em LA o West Beyrouth [filme político que lhe valeu vários prémios] e o Entre as Pernas de Lila.

Ainda estava em Los Angeles na altura em que escreveu o guião para o filme West Beirute (1998), que lhe valeu prémios em Cannes e Toronto?
Sim, sem dúvida. Escrevi lá esse, o Entre as Pernas de Lila (que estreou em 2004) e o guião do Man in the Middle, para o qual estou a tentar financiamento, todos escritos em LA. LA é um local muito criativo, bizarro mas criativo.

Mas voltou nesse período para Beirute, não foi?
Voltei para Beirute depois do 11 de Setembro (de 2001), porque conheci uma rapariga... conheci alguém e senti que como realizador não precisava de estar em Los Angeles, por isso deixei LA e mudei-me primeiro para o México, por uma mulher. Fui para Bordéus por uma mulher (risos). Parece-me que saio sempre de países porque conheço alguém. Mas primeiro voltei a Beirute porque conheci em LA uma rapariga que era de Beirute, apaixonei-me por ela e fiquei lá com ela. Agora resido em Paris, devido a um problema que prefiro não falar.

Em O Atentado volta ao contexto político israelo-palestiniano. Como chegou a esta história?
Embora seja uma história mais geral do que isso. Fui convidado em 2006 para realizar e adaptar o livro com o mesmo nome pela Focus Features e aceitei com condições. Eles queriam que fosse falado em inglês e prometiam, assim, o Tom Hanks. Com ele a bordo ia ganhar mais mas preferi que fosse em árabe e hebraico. Em inglês não fazia sentido. Pelo meio começou a guerra do Hezbollah quando estava a viver em Beirute e o projeto acabou por ficar na gaveta e voltámos a ele em 2011.

O protagonista, Ali Suliman, tal como a personagem, é israelo-palestiniano. Foi importante ter alguém com as duas culturas?
Ele percebe a confusão os iraelo-árabes sentem. É árabe mas é israelita e percebe que está numa situação difícil a nível pessoal. Cresceu em Israel, aprendeu hebraico, misturou-se com os israelitas judeus mas ainda tem a sua identidade árabe, tal como o protagonista. Quando leu o guião disse-me que sentia o mesmo que a personagem.


O filme teve críticas ferozes da parte árabe. Como foi a recepção?
Não fazia ideia como seriam as reações de judeus e árabes. Estava curioso mas não estava preocupado com isso. Assim que o filme estreou na América teve um grande sucesso junto da comunidade judaica, embora não seja nem a favor nem contra nenhuma das partes, tem muitas nuances. A comunidade árabe não reagiu tão bem, porque a mentalidade judaica permite questionar as suas próprias crenças, enquanto para os árabes não podemos dar voz aos judeus sobre nenhum pretexto. Não podemos, são maus da fita. Para o público judeu o facto de ter mostrado os dois lados foi bom, para os árabes foi mau, porque como é que podemos mostrar o ponto de vista judeu, eles não têm um ponto de vista, não merecem um ponto de vista. E agora é moda boicotar-se Israel e o facto de ter filmado em Tel Avic com técnicos israelitas e atores judeus foi mal visto e houve uma campanha contra o filme. Mas o que se pode fazer?
 
E quais os próximos projetos?
Estou a trabalhar com a Arte, a televisão francesa e alemã e a terminar um guião menos político e menos trágico que também se passa no Médio Oriente e chama-se Affaires étran-gères, que terá Gérard Depardieu. É baseado num acidente que tive. Vamos gravar em setembro.

sou um pinhão de um pinhal

Lembro-me de noites destas em casa, na casa onde cresci, no meio de um pinhal, de um campo. Eram noites diferentes, sem as luzes nem o barulho da cidade. Lembro-me de não dar particular importância à beleza a noite, da Lua, das estrelas, do grigri dos grilos e de tantos outros animais que por ali andavam. Nasci no meio de tudo aquilo, era o que eu conhecia. Era a única forma de acordar a meia da noite ou de manhã.

Pensava mais na insónia em si, no presente no passado ou num momento lixado. Imaginava mundos e histórias, inventava canções e respectivas letras que me parecia geniais mas se desvaneciam pela manhã. 

A tv também andava por ali, mas recordo-me melhor das noites de Verão em que abria a porta de casa, entrava e abraçava a semi-escuridão da noite. Os pirilampos  a piscar fascinavam-me sempre. Nunca me cansava. Era delicioso... Perseguia-os. Capturava-os. Tentava perceber porque piscavam, se piscavam dentro de casa, com luz artificial por perto, e depois soltava-os novamente nas suas casas. 

Pensando bem era bom não ter computador naquela altura. Ou melhor, até cheguei a ter cedo mas não o usava todos os dias nem era importante como é hoje para comunicar, partilhar, recolher informação e procrastinar. 

Adorava ficar deitado pela noite no pinhal, a minha rua, o meu bairro. Adorava fugir, correr mesmo, estrada fora, com medo do que se escondia no escuro do pinhal, fossem lobos, monstros ou outro tipo de males - a imaginação era fértil. 

Não há maior liberdade do que sair da porta fora e estarmos totalmente à vontade, só nós e a natureza. A possibilidade de dar um berro ou cantar toda uma canção antes de deitar ou ao acordar no meio da 'rua', fora da porta de casa, em cuecas, sem constrangimentos, é das maiores liberdades que se pode ter. Eu sei porque sempre tomei isso por adquirido, mais de 18 anos da minha vida. Anos em que fiz parte de um pequeno pinhal. Isolado. Meu. Onde sonhei, imaginei, brinquei, marquei golos, explorei, vivi aventuras, cantei, discuti, ralhei, chorei e amei. 

Por isso e por muito mais serei sempre um tipo do campo, daquele pinhal, daquele céu e daquela liberdade, mesmo que nunca me tivesse identificado com alguma da 'típica' malta do campo que não ligava a filmes nem a música, nem a tipos como eu. 

Boa noite. E bons sonhos. 

quarta-feira, agosto 20, 2014

metáfora para a vida? nãaaaa

"Maçãs de amor
casamento

Se uma macieira produzir pouco, é sem dúvida porque lhe falta uma variedade para a fecundar. Plante perto dela uma macieira decorativa do tipo 'Everest' (de pequenos frutos amarelos, muito bonitos) e que serve, além disso, para fecundar muitas variedades."


in 1001 Segredos de Jardinagem

terça-feira, agosto 19, 2014

um, dó, li, tá

Como grande fã dos vários filmes incríveis em que Robin Williams participou, o facto dele se ter suicidado não é muito relevante. O importante e o que fica é a memória dos filmes e aquilo que aprendi e senti com esses pedaços de cinema, personagens inesquecíveis e boas histórias.
Ainda assim, sinto curiosidade pelas circunstâncias em que ele morreu. Mas como já se previa, chovem hipóteses, opiniões diversas de pseudo amigos e amigos. Aqui ficam algumas das várias hipóteses que têm surgido:


  •  uma depressão severa
  •  problemas financeiros por ter duas ex-mulheres e muitas despesas que o obrigaram a aceitar papéis que não queria e o regresso à TV
  •  início de Parkinson e depressão 
  • Parkinson tem tendência para piorar as depressões e tomava comprimidos cujos efeitos secundários referidos incluem suicídio
  • o flop e o cancelamento da série de TV em que aceitou participar tiveram um efeito devastador, agravaram a depressão e esse foi o motivo para ter sido internado uns meses antes
  • um dia antes de se suicidar estava a fazer planos para novos projectos e a trabalhar neles, portanto deduz-se que o suicídio foi espontâneo, não terá sido premeditado. 

Teorias. Nem todas podem estar certas mas as verdadeiras razões podem ser um misto de várias. Certo é que, como é habitual, as certezas de ontem não são as certezas de amanhã. Os jornais/tablóides e sites vão dando informação/entretenimento com certezas a mais e vão vendendo dia após dia numa espécie de novela que gostam sempre de alimentar. 

terça-feira, agosto 12, 2014

Oh Captain My Captain

São tantos os momentos e filmes memoráveis que Robin Williams nos deixa. Ele deu tanto a tantas histórias e personagens que me marcaram... Fiquei fã logo com o Bom Dia Vietnam (e lembro-me dele no Popeye!). Era perito na comédia física e desenfreada mas tinha uma solidão e sensibilidade nele muito grande. Foi isso que o tornou um dos grandes no cinema, a capacidade do drama. Dava entrevistas loucas, atirava os foguetes e apanhava as canas sozinho. Era de um talento humorístico natural impressionante, um mestre do improviso. Mas a espaços dava para perceber como usava o humor louco como subterfúgio para esconder o seu 'eu' mais só e complexo.

Nunca o vi como Mork, a personagem da tv americana que o celebrizou por lá. Mas nunca o vou esquecer por filmes tão diversos como...
- Bom Dia, Vietnam!!!
- O Clube dos Poetas Mortos (um filme que mudou a minha vida, e Keating foi o melhor professor que tive)
- Despertares (o médico dos malucos com um coração gigante)
- O Rei Pescador (o maluco de NY com capacidade de nos fazer sonhar)
- Hook (o Peter Pan (im)perfeito)
- Toys - O Fabricante de Sonhos (o homem-criança no seu habitat, uma fábrica de brinquedos) - o filme é fraquinho
- Papá Para Sempre (Mrs. Doubtfire só podia ser interpretada por Williams... O pai que eu quero ser)
- Gente como Nós - até um filme fraquito como este teve bons momentos
- Jumanji
- Jack (Williams criança preso no corpo de um adulto, perfeito para ele)
- O Bom Rebelde (ele e Matt Damon fazem o filme... Psicólogo com sensibilidade e bom senso)
- O Homem Bicentenário
- Câmara Indiscreta
- Insónia
- House of D
- O Melhor Pai do Mundo (quando achamos que Williams já não nos podia surpreender, ele volta a superar-se)

RIP

sexta-feira, agosto 01, 2014

um canto cheio de estrangeiros

Portugal pode estar numa extremidade da Europa, um canto nem sempre valorizado mas as auto-estradas portuguesas enchem-se nesta altura do ano de belgas, suíços e especialmente franceses e espanhóis. Mas mais junto ao Algarve também se vêem muitos carros ingleses e holandeses. Claro que carros suíços e franceses são na grande maioria de portugueses emigrantes. Também tenho reparado em muitos carros alugados. Uns estão identificados como tal (a Goldcar está na moda) e outros nem tanto.