segunda-feira, agosto 20, 2012

uma história portuguesa, com certeza



Quem foi Vímara Peres?
A minha passagem pela Galiza este Verão levou-me a descobrir que foi este senhor galego quem usou pela primeira vez o nome Portucale para se referir à zona a sul do Rio Minho. Conquistou o Porto (Portucale) aos mouros com a ajuda de cavaleiros locais e foi o primeiro conde de Portucale (na altura já se estendia para lá do rio Douro), que gozava de alguma autonomia do reino da Galiza. Vímara Peres governou a partir da cidade (burgo) que ele próprio fundou e que tem o seu nome: Vimaranis (Guimarães!) Daí que quem viva em Guimarães seja 'vimarenense', ainda hoje, 1144 anos depois.
A sua descendência governou o condado (Portucale) por mais de 200 anos! Depois esse mesmo condado foi tomado por Afonso VI de Leão e Castela e oferecido a D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques.




Assim, acaba por ser um português bem importante na história portuguesa, tal como foi um tal de Egas Moniz, (não confundir com o prémio Nobel português do século XX) o homem nascido e criado em Entre-Douro-e-Minho que educou D. Afonso Henriques e lhe incutiu os valores e pretensões dos locais do Condado Portucalense.
Existe uma história muito peculiar sobre este português que transmitiu ao jovem rebelde e carismático Afonso Henriques os desejos e tendências autonomistas antigas do condado Portucalense:

Pouco depois da batalha de São Mamede, em que Afonso Henriques vence a sua mãe e dá um passo gigante na independência de Portucale, Afonso VII vai por cerco a Guimarães, então sede política do condado, e exige um juramento de vassalagem a seu primo Afonso Henriques; Egas Moniz dirigiu-se ao imperador, comunicando-lhe que o primo aceitava a submissão.
Contudo, depois de deslocar a sua capital para Coimbra (1131), Afonso Henriques sente-se com força para destruir os laços que o ligavam a Afonso VII; faz-lhe guerra e invade a Galiza, travando-se a batalha de Cerneja (1137), da qual saem vitoriosos os portucalenses.

Como Afonso Henriques não cumpriu o acordado por seu aio, Egas Moniz, segundo reza a lenda, ao saber do sucedido, deslocou-se a Toledo, a capital imperial, descalço e com um baraço ao pescoço. Acompanhado da sua esposa e filhos, colocou ao dispor do imperador a sua vida e a dos seus, como penhor pela manutenção do juramento de fidelidade de nove anos antes. Diz-se que o imperador, comovido com tanta honra, o perdoou e mandou em paz de volta a Portucale. Esta parte da vida de Egas Moniz é recontada por Camões no Canto III dos Lusíadas (estrofes 35-40). Wikipedia





Outros nomes curiosos que fiquei a conhecer: Sesnando Davides, um moçárabe (cristão a viver em território árabe) que foi capturado pelo reino de Leão e Castela e passou-se para o lado cristão, acabando por ajudar na reconquista Cristã,  nas negociações com os árabes e foi tornado governador da zona de Coimbra (está inclusivamente enterrado na Sé Velha de Coimbra), mantendo uma paz muito rara com os chefes árabes das redondezas.
Morreu antes de D. Afonso Henriques nascer, em 1109, e governou sem ligação ao condado Portucale da altura, desde 1064 (quando Coimbra foi conquistada aos mouros) até 1091.

"Foi o responsável pela construção ou reconstrução de diversos castelos entre os quais se destacam o de Castelo de Coimbra, o Castelo da Lousã, o Castelo de Montemor-o-Velho, o Castelo de Penacova e o Castelo de Penela." Wikipedia.
"Foi o responsável não apenas pela pacificação e defesa do território, mas principalmente pela sua reorganização, tornando Coimbra um centro florescente, onde a cultura moçárabe viria a conhecer o seu canto de cisne." Wikipedia.




Uma das coisas peculiares nesta procura pela história passada é ver como os cristãos viviam bem e integrados no território muçulmano e "pegavam" muitos dos seus hábitos evoluídos, na organização das cidades. Daí que tivessem essa designação, de moçárabes, até porque a língua também era influenciada.
A própria língua galego-portuguesa (como se chamava nos primórdios da sua existência conhecida, a partir do século XII) tinha um pouco de influência árabe, mas acima de tudo era um misto de latim (trazido pelos romanos) e dialectos locais da zona da Galiza e do sul do Oeste da península (a zona de Portugal, portanto).
Ir à Galiza é perceber essa ligação forte, não só pela forma de ser dos galegos, diferentes de outros "reinos" de Espanha, mas também pela língua. O galego é português antigo, ou melhor, é galego-português. E isso vê-se por todo o lado e é esmagador para um 'tuga' que goste de história e lá vá, como eu fui.

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