Está a dar um documentário na RTP2 chamado Casas com História. Basicamente passa por algumas casas-museu do país. Hoje fala na Casa Museu Camilo Castelo Branco.
Sem querer discutir o modo de construir e fazer o programa, a ideia faz-me lembrar uma curiosidade minha de infância / adolescência.
A minha avó Maria vivia numa pequena casa na Rua Capitão Filipe de Sousa, nas Caldas da Rainha. Ao lado existia uma enorme e luxuosa casa-prédio, que tinha pertencido a uma família de posses mas estava, nos anos 80, abandonada há alguns anos. A estória conhecida era que a última pessoa a viver nela tinha sido um senhor de boas famílias que tinha enlouquecido. Quando morreu, não tinha deixado a casa a ninguém e ela tinha ficado num impasse. Presa no tempo.
Só isto já suscitava um interesse desmesurado num miúdo curioso e com imaginação muito fértil como eu era. Ia dezenas de vezes para o telhado da minha avó, fazendo equilibrismo nas telhas, para tentar espreitar por uma pequena janela com vista para a casa. Pouco vi, mas a imaginação criava aquela sensação de medo, de me sentir observado... ao estar a tentar observar.
Noutro tipo de tentativas, espreitava para a varanda da parte de trás da casa, que tinha uma vedação alta e difícil de transpor. Via-se pouco. Uma cozinha grande e muito antiga, com pedras de mármore bonitas, muitas silvas e musgo na varanda, com vista para o que teria sido, outrora, um jardim, que mais não era agora do que um monte de madeira, silvas e ervas altas.
O meu primo, cinco anos mais velho do que eu, chegou a conseguir entrar na varanda umas vezes. Andou por ali, espreitou e voltou. Fiquei com inveja, mas havia pouco para ver.
A janela que ficava no telhado da minha avó, tinha um pequeno pilar que estava já mal tratado. Depois de algumas tentativas frustradas de o derrubar, foi numa tarde solarenga de domingo que com mais facilidade do que poderia supor, derrubei o pilar e perante o olhar meio incrédulo, meio invejoso da minha prima Judite, entrei na casa, numa zona de escadaria. A sensação de descoberta e algum medo começou...
sábado, janeiro 23, 2010
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