quarta-feira, janeiro 14, 2009

bordalo tem futuro, dêem futuro ao mestre

As Caldas não são só objectos fálicos e a malandrice tão conhecida. Rafael Bordalo Pinheiro deixou na minha terra-natal muita da sua arte, que é tão diversa quanto bela, útil (sim, a arte pode ser útil para se utilizar, por exemplo, como louça) e única. Esta reportagem da talentosa Alexandra Prado Coelho tinha de aparecer neste blogue de um caldense...




Os animais gigantes de Bordalo lutam pela vida
Centenas de moldes centenários das peças de cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro estão guardados numa cave da Fábrica de Faiança das Caldas da Rainha. Com a fábrica em risco de fechar, o que irá acontecer à vespa, às rãs, aos golfinhos mitológicos e a toda a fauna e flora criados por Bordalo? Há quem apele ao Estado para que ajude a manter vivo este património. A artista plástica Joana Vasconcelos, que tem vendido muitas peças feitas a partir de Bordalo, garante que esta produção tem toda a viabilidade económica.
Por Alexandra Prado Coelho (texto) e Pedro Cunha (fotos)

Na sexta-feira, a vespa gigante ainda estava no forno. Só dois dias depois é que se saberia se o animal, criado há mais de um século por Rafael Bordalo Pinheiro e recriado agora a partir do molde original, sairia bem. "É a primeira que se fabrica desde 1900. Isto é histórico", diz a técnica de cerâmica Elsa Rebelo. Só há uma vespa igual a esta, é centenária, e está ali mesmo ao lado, num muro da fábrica de cerâmica das Caldas da Rainha.
Na loja da fábrica já resta muito pouco. As prateleiras foram-se esvaziando ao longo das últimas semanas ao ritmo das notícias sobre a crise económica e os riscos de encerramento das Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro.
Mas quem passar para lá da loja, atravessar o jardim, com o laguinho em redor do qual ainda estão alguns dos animais do tempo de Bordalo Pinheiro, passar pelo lobo, pelo golfinho mitológico, pela abelha gigante, e seguir até às oficinas da fábrica, vai encontrar alguns operários (trabalham aqui cerca de 12 ou 13 pessoas) agarrados às peças que fazem à mão há anos.

versão completa no site do Ipsilon





Ainda há na edição de hoje, terça-feira, do P2 do Público a opinião curiosa e pertinente de José Vítor Malheiros sobre Bordalo, com o título: Um manguito para Bordalo? (não está online para não assinantes)

Destaco esta passagem:

"Uma das originalidades da fábrica de Bordalo era a estreita ligação entre a indústria e a arte (“indústria de arte” chamava-lhe Ramalho Ortigão, um dos seus mentores), no espírito do movimento Arts and Crafts, então no seu apogeu e que era uma das suas referências artísticas. E esse espírito traduziu-se, nomeadamente, na entusiástica aposta na formação profissional, que desde o início constituiu uma das marcas da fábrica.
Desde o início – e até hoje – a fábrica Bordalo Pinheiro assumiu como marca essa cultura de mestres artesãos orgulhosos do seu trabalho, empenhados em formar os melhores aprendizes e desejosos de colocar o melhor design ao alcance do grande público.
O que é espantoso na actual crise é que ela possa ameaçar a sobrevivência de algo que continua hoje a ser sinal de excelência e a ter um mercado que se estende muito para além das fronteiras. Não é crível que não haja encomendas na faiança artística da fábrica Bordalo Pinheiro e, se não as há, é porque o sector terá sido descurado pelo marketing."

1 comentário:

margarida disse...

Esta não é uma causa local. É nacional. É um pedaço da cultura de um povo que está na berlinda .
Haja sentido pátrio, também neste capítulo!
O que é preciso? Comprar paletes de objectos e distribuir pelos amigos além-fronteiras?
Comprem-se!
O governo que ofereça aos amigalhaços congéneres!
Espalhem-se falos e vasos, bonecos e jarras também pelas nossas embaixadas por aí fora.
Toca a evitar que, como os nossos sumidos e lindos vidros e cristais, em troca se pejem as casas com chinesices patéticas!
Viva o original e bom!
Viva Portugal!