domingo, dezembro 07, 2008

os 100 anos










Manoel de Oliveira
, em entrevista a Sérgio C. Andrade para a Pública



Antes de casar, diz-se que era um dandy, um playboy. Mudou o seu comportamento depois do casamento?

Todos os jovens, normais, são playboys. Ou quase, ou muito, ou menos ou mais...


No seu caso, era menos ou mais?
Nesse tempo, as coisas eram muito diferentes do que são hoje: uma rapariga que não estivesse virgem, não havia nenhum rapaz que quisesse casar com ela. Ou, se isso acontecia, era um caso extraordinariamente raro. E os anjos salvadores das virtudes das meninas de família eram as prostitutas, às quais a juventude recorria para satisfazer os seus normais desejos sexuais.


Depois de casar, alterou o seu comportamento?
Naturalmente que sim. Quando se casa, a não ser que se case por interesses outros, que não sejam o da ligação amorosa... Mas, quando há uma ligação amorosa, há a diferença entre o homem ser solteiro, livre, e ser um homem casado, que já deixou de ter essa liberdade.

Agora está na ordem do dia o casamento homossexual. Acha que os homossexuais devem ter direito a casar-se?
O que sei é que não é normal a ligação mulher com mulher e homem com homem. Mas é tolerável. Eles que façam lá o que entenderem. É que o casamento tem um único fim:
preservar a continuidade da espécie. [ao estilo Manuela Ferreira Leite]




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Paulo Branco, sobre Manoel de Oliveira, em entrevista a Anabela Mota Ribeiro para a Pública


Acha que o incomoda [a Manoel de Oliveira] o desdém com que por vezes é tratado em Portugal?
Há todo um reconhecimento internacional e sobretudo um reconhecimento nacional; e há
uma mágoa, que nunca desaparece, por achar que é tardio ou que não é suficiente. Eu não queria muito falar do Manoel agora. Com a idade, a memória começa a ser selectiva. E a memória do Manoel é muito selectiva. Lembra-se de coisas muito precisas, de há 30 ou 40 anos, que não correram bem… O Manoel não chegou lá sozinho, há colaboradores que está a esquecer, e isso é pena — não estou a falar da colaboração comigo. Eu tenho o meu trajecto, tenho também uma ligação forte com outros realizadores, o que provocou a certa altura...

Ciumeira?
Alguma ciumeira, penso eu.

Agustina escreveu: “Eu não creio que Manoel de Oliveira ame o sucesso (…) Ao Manoel de Oliveira agrada irritar ou decepcionar, porque disso tira uma espécie de glória íntima.”
Acho que isso não é verdade. O Manoel sempre gostou do reconhecimento, como qualquer
grande artista. E à medida que o foi tendo, cada vez gostava mais desse reconhecimento e achava que o merecia.



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