sábado, novembro 08, 2008
genoveva esqueça a manicura...
Nuno Pacheco é capaz de ser a pessoa mais simpática, preocupada, dedicada e afável de todo o jornal Público - e é chefe. Além disso, ainda escreve crónicas como poucos, como se pode ver de seguida (com autorização do próprio) e na íntegra, sobre uma empresa portuguesa chamada Governo e um tal director de marketing chamado José Sócrates.
O Memorando - por Nuno Pacheco, in Público (P2), 3 Novembro 2008
Genoveva, hoje esqueça a manicura e adie o almoço. Temos um importante memorando para fazer. Ora abra o computador. Sim, esse, deixe lá a malinha verde que agora não há tempo para brincadeiras. Comecemos pelos tópicos. Como se fosse o aperitivo, bem vê. “A viagem do Primeiro às Américas foi um êxito. E o momento de promoção ainda mais. A malinha yankee de acabamento lusitano foi acolhida pelos indígenas, perdão, pelos governantes irmãos, como uma dádiva dos céus.
Há muito tempo, talvez mesmo desde a chegada das caravelas, que não viam coisa assim tão robusta. Nem Chávez o conseguiu partir, vejam lá, quando o atirou ao chão (anote, ao lado: não foi para lhe testar a resistência, foi porque não funcionava. Já lhe deram outro. Oxalá funcione). Genial, aquela do Tintim: ‘para ser usado dos 7 aos 77 anos’. Veia de vendedor, é o que é. Português, ibero-americano, última geração, resistente ao choque… as coisas de que ele se lembrou em seis minutos! E sem que o interrompessem ou lhe dissessem ‘porque não te calas’. Um verdadeiro prodígio.
Ficam, assim, determinadas desde já novas promoções para os próximos conclaves. Na transnacional dos 47, numa ilha do Pacífico, serão reservados cinco minutos para uma demonstração da eficácia das rolhas portuguesas. O Primeiro abrirá um tinto de colheita alentejana e passará a rolha de nariz em nariz, posto o que funcionários diligentes distribuirão o conteúdo em copos de fabrico nacional. Uma pequena anedota sobre rolhas e cristal (há-de aparecer alguma), brinde a condizer e negócio feito.
Na cimeira pluricontinental dos 38, em Vladivostok, há-de ser a vez dos pastéis de S. Bento (os de Belém que arranjem outro vendedor), com açúcar e canela, como deve ser. Também aqui usará de seis minutos (podem ser tirados ao já gasto discurso da crise e seus nefandos efeitos) para lhes gabar o inimitável creme, a casca estaladiça, o sabor incomparável. Devem ser dados dois a cada cliente, perdão, a cada participante, acompanhados de um guardanapo de genuíno linho lusitano que terá bordado a vermelho e verde Portugall for All. Mais uma anedota, para desanuviar o ambiente, sobre um pacóvio que se engasgava com pastéis em lugar de saber comê-los com decência e rectidão, e negócio fechado.
Já a cimeira dos 141 e meio, na Líbia, deverá servir para lançar a morcela e o chouriço de sangue. Pratinhos com acepipes serão distribuídos de surpresa na enorme tenda onde se realiza a reunião, com paliteiros de fabrico nacional (não esquecer a marca, para eventuais encomendas). No final haverá também trouxas de ovos, com um discurso sobre doçaria conventual e seus prazeres. E haverá uma anedota, subtilmente tirada às obras mais picarescas de Bocage.
A nível interno, encomendar uma versão positiva do livro de Arthur Miller, A Morte de um Caixeiro Viajante. Mas não será a morte, será a glória do caixeiro viajante. Um épico onde o protagonista verá, com gosto, as regras económicas sobreporem-se aos falsos valores da vida. E nada de se chamar Willy. Podem chamar-lhe… Magalhães?”
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