Os pescadores perceberam que fazer greve causa uma comichão demasiado ligeira ao país e ao governo. É coisa mais perto de picada de mosca do que propriamente picada de abelhão. A pesca portuguesa, embora tenhamos um potencial marítimo incrível, sofre do mesmo problema que a agricultura portuguesa: é pobre, insignificante e muito minoritária quando se trata de servir o país. Nós, por cá (como diz uma rubrica informativa da SIC), preferimos recorrer ao estrangeiro. É assim que os governos têm agido com essas áreas consideradas terceárias, até porque a agricultura e pescas eram áreas primárias do Estado Novo, e como isso parece ser tabu, desde então que se deixou cair toda essa indústria. É um problema antigo de estrutura e de base...
Voltando à pescaria e à greve dos pescadores, como viram que se ia mas era comprar a Espanha o peixinho começou a haver peixeirada da grossa. Tudo começou, claro, em Matosinhos, onde peixeiradas são prato do dia, sempre pronto a ser servido a qualquer hora e em qualquer estabelecimento. Os pescadores andaram a atirar o peixinho espanhol pelo chão.
No Algarve os pescadores em greve, com muito tempo entre mãos e um ganha pão em risco para salvar, mostrarem-se hábeis em seguir uma nova profissão: fiscalizadores da ASAE (esses mesmo, que são tão criticados por pescadores e outros). Na saída das docas, onde muitos iam buscar peixinho para restaurantes e coisas do género, os pescadores fizeram uma espera. Cada carro que passava era obrigado a parar, para os pescadores, ou deverei dizer os fiscalizadores, puderem inspeccionar a bagageira do carro em busca de peixe.
Os pescadores mantiveram-se na sua actividade principal: procurar peixe. Mas em vez de ser no mar, agora procuram o peixe em terra. É que a gasolina está cada vez mais cara, especialmente em Portugal, por isso há que fazer adaptações à profissão. Parece-me legítimo e bem pensado.
O que é mais cómico neste país e neste governo é que os pescadores podem fazer greve, mas só se estão a prejudicar (se só fizerem greve e não andarem aí a fazer peixeiradas a sério). É que com eles a fazer greve, todos começam a perceber que sai mais barato ir buscar peixe a Espanha. É que os hipermercados, os restaurantes, os mercados e a cozinha do primeiro-ministro já perceberam que compensa ir ali a Espanha comprar peixinho ligeiramente mais barato (já que o IVA lá é bem mais baixo que em Portugal). É que ainda podem abastecer o depósito ao preço da uva mijona (muito mais barato do que por cá) e só isso já paga a viagem e ainda dá uns belos trocos de ganhos. Tudo isto é possível graças ao governo e à conjuntura actual (especialmente à portuguesa visto que Espanha também faz parte do planeta Terra, segundo ouvi dizer). Ora aí está um belo cenário que se arranjou aqui neste canto da Penísula Ibérica e que pode dar uma notícia deste género num futuro próximo: portugueses passam a comprar maior parte dos produtos em Espanha. E os hipermercados que se ponham a pau! Porque não tarda e as compras grandes passam a ser feitas também em Espanha, em fins-de-semana familiares a que se junta um passeio patrocinado pelo combustível barato espanhol. Bonito, hein!
NOTICIA DE ÚLTIMA HORA: A Câmara de Tavira poupa 250 euros por dia por ir abastecer os seus autocarros a Espanha! Já que o Estado ganha, por litro, uns 50%, é legítimo dizer que a Câmara acaba por "roubar" ao Estado para poupar nas suas próprias contas. O que tenho a dizer sobre isto? Acho bem!!!
* Talvez possam começar a pescar ali para os lados de São Bento. É só uma sugestão. Ouvi dizer que o primeiro-ministro tinha arcas e arcas com peixinho espanhol pronto a ser despachado para os seus restaurantes lisboetas preferidos.
sábado, maio 31, 2008
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