Um desporto que marca a diferença
Por: David Andrade, em Paris
O râguebi (ainda) não é um desporto muito conhecido em Portugal, apesar de uma competição como o Mundial que hoje se inicia ter audiências televisivas superiores a três biliões de espectadores em todo o mundo. No entanto, para quem pratica, praticou ou simplesmente aprecia, esta é uma modalidade diferente de todas as outras. Ao contrário do que os menos conhecedores deste desporto podem pensar, o râguebi está longe de ser uma modalidade violenta. Arrisco mesmo a dizer (sendo apreciador dos dois desportos) que o futebol é muito mais violento. O râguebi é, isso sim, um desporto de muito contacto físico. Mas isso não é sinónimo de violência. Mas afinal o que tem o râguebi de tão diferente? Acima de tudo existe uma mentalidade pouco habitual noutro tipo de desportos. A melhor forma de o explicar, é citando uma frase de Tomaz Morais em entrevista ao PÚBLICO em 2004: “Costumo dizer que o râguebi é um ensaio para a vida. Nós não queremos que os atletas cheguem aos 30/32 anos e não tenham mais nada para fazer. Queremos o râguebi de uma forma pedagógica e que construa um indivíduo.” E o râguebi é, sem dúvida, uma escola onde se aprende, acima de tudo, a respeitar os adversários e a trabalhar em equipa. No râguebi nenhum jogador pode brilhar sozinho e os quinze jogadores que estão em campo precisam, todos, de ter o apoio do colega do lado. Mas o râguebi não se distingue só pelo enorme respeito e camaradagem que, regra geral, todos os seus atletas praticam. No dia 20, em Saint-Etienne, será disputado um Escócia-Itália. O mais certo é os adeptos das suas selecções assistirem ao jogo lado-a-lado, em clima de festa. Alguém imagina o que teria que ser feito, por parte das forças de segurança, se se tratasse de um jogo de futebol? E também não há registo de qualquer lista de adeptos ingleses proibidos de se deslocarem a França para apoiarem a sua selecção. Situações impensáveis num Campeonato do Mundo de futebol. Vasco Uva, capitão da selecção, numa entrevista publicada no fim-de-semana passado na revista “Notícias Sábado” contou que os jogadores da selecção de râguebi se divertem a assistir às simulações dos jogadores de futebol. “Essas simulações não fazem parte do jogo, é falta de ‘fair-play’, não é essa imagem que o desportista deve passar para a sociedade”, referiu. E foi mais longe: “Para jogar na selecção e cantar o hino, é preciso sentir. Nós sentimos, os futebolistas nem tanto”. É esta a cultura que faz do râguebi um desporto que marca a diferença.
Uma última nota: Se for assistir, pela primeira vez, a um jogo de râguebi e não vir nem adeptos, nem jogadores, a insultar o árbitro, não se assuste. Isso é normal.
sábado, setembro 08, 2007
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