[Kathleen Gomes sugere-nos hoje no Público algumas explicações para o facto de sermos o país dos "doutores" e "engenheiros". Curioso... Outra coisa do Público de hoje, Eduardo Prado Coelho está de volta às crónicas e hoje faz um relato sobre a vida num hospital, ou não tivesse passado por isso recentemente.]
Portugal, o país com mais "doutores" (e "engenheiros")
19.04.2007, Kathleen Gomes
Por que somos um país de "doutores"? Porque não somos um país de doutores. Não há nisto contradição, a diferença está nas aspas
É tão português quanto a sardinha assada, a roupa à janela ou "passar pelas brasas". Para um inglês, muito provavelmente, a expressão "I"m going to go through the heats" faz tanto sentido como ter "Dr." ("doctor") impresso no cartão de crédito antes do nome. Ou seja, sentido nenhum.O "senhor doutor", como o pastel de nata ou o fado, é uma especificidade do "ser português" - ou, pelo menos, assim surge consagrado no livro Nacional e Transmissível de Eduardo Prado Coelho (2006, edição Guerra e Paz). O "senhor doutor", em todas suas possíveis gradações (incluindo o não menos valorizado "senhor engenheiro), não é mera figura de retórica universitária: ele saiu da academia e permeou toda a sociedade, os nossos bairros, engrossou as filas nos bancos (alguém a protestar porque pediu que o seu nome viesse com "dr." e nada; um título no cartão multibanco é tão simples de pedir como o acompanhamento de um bife no restaurante), passou-nos à frente nas repartições, está na ponta da língua da secretária da direcção que nos atende o telefone: "Bom dia, é possível falar com X?" "O senhor doutor X...?", corrige ela, prontamente, como quem diz "mais respeitinho" e sabemos que a falta de reverência pode ter sido decisivo para nunca chegarmos à fala com X - perdão: senhor doutor X.
quinta-feira, abril 19, 2007
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