sábado, abril 22, 2006

tv e media descartável e falsa

[O mundo das novelas revela situações caricatas e que muitas pessoas não fazem ideia. Ou melhor, tem ideias contrárias à realidade.]

Trabalhar seis dias por semana a mil euros por mês
É a rasgar. Seis dias por semana, de manhã à noite, sem intervalos, eles têm de estar perfeitos no ecrã. As jovens estrelas dos Morangos com Açúcar andam estoiradas, de gravação em gravação, a promover uma ideia de liberdade e energia que perderam quando assinaram de cruz o primeiro contrato como actores. Em dias, estão a dar milhões à casa. No fim do mês, recebem mil euros de ordenado.Quem está dentro da máquina tem reservas quanto a identificar-se - por não se querer comprometer -, mas não tem dúvidas: "A série vive da rotatividade, as personagens têm uma vida muito limitada e os jovens actores são peças da indústria." Por isso, "vivem no estúdio, deixam de ter vida, andam de rastos". E porque, muitas vezes, se consideram mal pagos, "vão dar autógrafos para as discotecas, onde ganham melhor do que na novela" (ver texto em baixo).A morte de Francisco Adam, o Dino na série em exibição, resultou de um acidente de viação ainda por explicar, no regresso de uma dessas sessões. Ninguém sabe se foi o cansaço que traiu o actor, mas sabe-se que a sua presença no Club in Campo, perto de Alcochete, só fez sentido para centenas de pessoas porque o jovem representava uma personagem central da série. E porque o fenómeno desta novela vive dos autógrafos e da relação histérica dos espectadores com tudo o que tenha a marca "MCA".
mais in DN


Tendência acentuou-se no último ano
Revistas de televisão estão cada vez mais paparazzi
O público "devora tudo o que seja informação do casa, descasa, zanga e reconcilia-se"
As letras gordas por cima de fotos com pouca definição de figuras conhecidas da televisão e dos meios artísticos enchem todas as semanas as capas das revistas de programação televisiva. Ali se espreitam novos romances, separações, jantares à luz da vela, carinhos meio à sucapa, passeios com os filhos ou simples mudanças de penteado. Não há grandes dúvidas: as revistas de televisão estão cada vez mais paparazzi e a fronteira entre títulos ditos de sociedade e de programação começa a ser difícil.

A culpa, dizem as revistas, é do público, que "devora tudo o que seja informação do casa, descasa, zanga e reconcilia-se". Nuno Farinha, director da TV Guia, explica: "Não há muitos leitores que comprem revistas de televisão para ver as grelhas. A programação está em todo o lado: na Net, no teletexto, nos telemóveis, nos jornais diários. Mas uma revista que tem no seu logótipo TV tem que ter as grelhas, mesmo que, por causa da contraprogramação, elas estejam sempre desactualizadas."

TV 7 Dias lidera

"Os abutres vão de carne em carne até se saciarem..."
Para obterem as imagens, as revistas de TV recorrem a fotógrafos seus, mas sobretudo a paparazzi, profissionais freelancer que trabalham para agências. As vítimas, como Clara de Sousa, têm um nome para eles: abutres
A jornalista da SIC Clara de Sousa saltou para as páginas das revistas de televisão e do social há poucas semanas devido, segundo os títulos, à sua separação do marido, o director de programas do canal de Carnaxide, Francisco Penim. "É desconfortável sair de casa com os meus filhos e ter pessoas atrás de mim a tirar fotografias, que depois publicam sem o meu consentimento. Mas o que me aborrece mais não é isso - estou num sítio público, não posso impedir -, é depois inventarem notícias sem sentido, só para baterem certo com os meus gestos. Se querem dizer que estou deprimida e com má cara, publicam uma foto em que estou de cabeça baixa, a olhar para o telemóvel, por exemplo."

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