Um documento escondido no deserto durante 1700 anos
Foi nos anos 70 que o único manuscrito conhecido do Evangelho de Judas, escrito em copta por volta do século III ou IV, a partir, provavelmente, de um original grego do século II, foi encontrado por indivíduos que procuravam antiguidades para vender, perto de El Minya, no Egipto.
Estava há 1700 anos escondido no deserto. Na altura ninguém se apercebeu da sua importância e os estudiosos só deram por ele em 1983, quando um negociante de antiguidades egípcio tentou vendê-lo a investigadores americanos, aos quais pediu três milhões de dólares. O documento passou por várias mãos e esteve durante 16 anos num depósito em Nova Iorque, onde se deteriorou ainda mais.Acabou por ser comprado em 2000 por um coleccionador suíço que o entregou à Fundação Maecenas para a Arte Antiga, em Basileia, Suíça, e a sua existência foi tornada pública em 2004. Foram precisos cinco anos para reconstruir o puzzle, traduzir o texto e fazer os testes de autenticação.
Em 2004, a National Geographic Society chegou a acordo com a fundação suíça para financiar o projecto em troca dos direitos de divulgação. Depois de ter gasto, segundo diz, mais de um milhão de euros, a National Geographic lançou uma impressionante operação de marketing que inclui um documentário no seu canal por cabo, uma exposição, um número da sua revista e dois livros sobre o tema. "[A Fundação Maecenas e a National Geographic] têm que recuperar o dinheiro que investiram e estão a tentar vender livros em todo o lado", explicou ao Washington Post o teólogo James M. Robinson. "É por isso que estão a fazer o lançamento na Páscoa e antes da estreia do filme O Código Da Vinci." A.P.C.
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Tomé.
Os quatro envagelhos canónicos resultam da vitória da ortodoxia sobre as heresias
Foi o bispo Ireneu,em 180 d.C., quem propôs que se retivessem apenas os quatro evangelhos canónicos que integram o Novo Testamento
O Evangelho de Judas é apenas um de muitos textos que terão sido escritos por volta do século II tentando recolher ensinamentos e histórias da vida de Jesus. Em 180 d.C. Ireneu, bispo de Lyon, tentou pôr ordem na proliferação de textos religiosos e separar as águas entre os que acusa de serem "heréticos" e os que elege como canónicos.No seu tratado Adversus Haeress (Contra os Hereges), Ireneu cita inúmeros documentos e evangelhos que acusa de estarem "cheios de blasfémias" e constituem um "abismo de loucura [...] contra Cristo". E defende que o número certo de evangelhos (expressão que significa "boas novas") deve ser de quatro, argumentando que são quatro os pontos cardeais, os ventos e as bestas do Apocalipse. É a partir desta campanha do bispo Ireneu que surge o Novo Testamento na forma que hoje tem nas Bíblias cristãs e que exclui todos os considerados apócrifos (que significa textos cuja veracidade não foi provada). O padre carmelita Armindo Vaz admite que, se não fosse o argumento do bispo a favor dos quatro, algum apócrifo poderia ter sido incluído no cânone, "talvez o de Nazarenus".
Os quatro canónicos são relatos da vida, da paixão, morte e ressurreição de Jesus, embora os três primeiros sejam mais semelhantes entre si (por isso são chamados "sinópticos"), enquanto o de João tem algumas diferenças e é geralmente considerado o mais espiritual. O evangelho de Marcos é, julga-se, o primeiro e terá sido escrito por volta do ano 70; o de Mateus data de 85 e, segundo os peritos, o de Lucas terá sido redigido entre 85 e 95. O último é o de João, provavelmente composto entre 90 e 100. À medida que o cânone se foi estabelecendo com os quatro evangelhos, e depois de o cristianismo se tornar religião oficial com a conversão do imperador romano Constantino, os textos apócrifos foram suprimidos ou escondidos. Possuir um livro herético era um crime.
Quase dois mil anos depois - em Dezembro de 1945 -, dois camponeses árabes fizeram no Alto Egipto uma descoberta extraordinária, completamente por acaso: encontraram, escondida em grutas perto da localidade de Nag Hammadi, uma biblioteca com 13 textos dos séculos III ou IV (mas que eram cópias de originais gregos que se supõe serem dos séculos I e II), escritos em papiro, envoltos em capas de couro e guardados dentro de vasos selados. Sem saber o tinham entre mãoslevaram-nos para casa e a mãe usou vários textos para fazer lume.Só mais tarde a biblioteca de Nag Hammadi foi parar às mãos de alguém que soube reconhecer-lhe o valor e passou por um complexo processo de venda no mercado negro do Cairo, até a totalidade dos documentos ir parar ao Museu Copta.
O Evangelho de Judas foi encontrado em 1970, também numa gruta no deserto egípcio. Trata-se de um texto gnóstico traduzido do grego original para o copta por volta do ano 300 d.C. Sabe-se, contudo, que o original é anterior a 180 d.C., porque o texto faz parte da lista de documentos heréticos elaborada nesse ano pelo bispo Ireneu.
in Publico
Dan Brown e as teses sobre Maria Madalena
Várias das teses que sustentam o best-seller de Dan Brown, O Código Da Vinci, e muitos outros livros que surgiram na sequência deste, têm como base os textos apócrifos que foram descobertos desde meados do século XX. Dois evangelhos em particular, o de Filipe e o de Maria (Madalena), dão a Maria Madalena um papel de destaque maior do que o que tem nos textos canónicos (nos quais é, apesar de tudo, a mulher mais presente, embora haja referências confusas quanto à sua identidade).
Nos textos apócrifos, Maria Madalena aparece frequentemente como a discípula dilecta (tal como Judas no Evangelho de Judas), com uma relação privilegiada com Jesus (no Evangelho de Filipe ela é identificada como a "companheira" de Jesus). Mas entre os documentos encontrados junto da localidade egípcia de Nag Hammadi em 1945, considera-se que o mais importante é o Evangelho de Tomás (cujo original alguns peritos defendem ser anterior aos evangelhos canónicos), que começa da seguinte forma: "Estas são as palavras secretas que Jesus vivo disse, e que o gémeo, Judas Tomás, escreveu."
Apesar de repetir palavras de Jesus dos evangelhos canónicos (não se trata de um evangelho que conta a história de Jesus, como os outros, mas reproduz apenas o que ele teria dito), este documento coloca-as em contextos diferentes, o que parece abrir-lhes novos significados. Muitas leituras actuais destes documentos dão a algumas figuras - como Maria Madalena, S. João Baptista, Judas ou outros - uma importância maior do que a que parecem ter no Novo Testamento. A.P.C.
in Publico
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