segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Castells e Crato - tecnologia

"É a cultura que produz a tecnologia"
A sociedade da informação entrou para a primeira linha da actualidade nacional, através do choque tecnológico. Manuel Castells tem seguido a evolução portuguesa e considera que o país está numa etapa de transição para o que apelida de modelo informacional de desenvolvimento. O modelo da sociedade em rede, baseado na informação, no conhecimento e na organização não hierarquizada. Mas o choque tecnológico faz-se só com... tecnologia?

A resposta do autor de A Galáxia Internet é negativa. "É a cultura que produz a tecnologia", afirma. A prova é a própria existência da Internet, cuja raiz é cultural. "A ideia da livre comunicação, que existia nas universidades americanas dos anos 70, é que gerou este tipo de tecnologia. A ideia de que a Internet nasceu como uma tecnologia para resistir a um ataque nuclear é um disparate", afirma o sociólogo. "Para desenvolver a Internet, foi preciso primeiro pensar numa tecnologia de comunicação sem centro. Os franceses fizerem um modelo com a mesma tecnologia, mas vertical, o Minitel francês. Foi varrido."

O conceito de rede, onde não exitem hierarquias mas "nós" horizontais, todos com o mesmo poder, é a essência da Internet. Para Castells, não se trata apenas de um modelo tecnológico. Também as sociedades evoluem para uma organização em rede, a partir do momento em que dispuseram de uma tecnologia de comunicação horizontal, a Internet.
Os Estados Unidos e a Finlândia são exemplos de países que deram o salto para a sociedade em rede. Representam, respectivamente, um modelo liberal e um modelo social- -democrata, europeu. Castells considera-os incompatíveis.
Para o sociólogo, o sector público não é um travão, mas um motor, que não dispensa, naturalmente, o sector privado. "A diferença é que, de um lado, há apenas o modelo empresarial e no outro é o Governo que primeiro cria condições para a inovação e garante que os benefícios são redistribuídos por toda a sociedade. Um sistema de segurança social não detém a inovação", explica.

mais in DN

sociology.berkeley.edu/faculty/castells/

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Opinião de Nuno Crato - in Expresso
Encavacado
Há palavras tão gastas que perdem o seu significado. Uma delas é inovação. Parece que basta mudar para progredir. Mas há mudanças boas e mudanças más. Ou será que todas as inovações são boas?
Ontem à tarde estive numa reunião de discussão de programas de ensino. Um dos oradores explicava as suas ideias e repetia de minuto a minuto: «é um programa diferente», «é um programa inovador», «é um programa diferente», «é um programa inovador», «é diferente», «é inovador»...

Disse-o tantas vezes que um dos professores na sala o interrompeu e perguntou «Já percebemos que é diferente. Mas é melhor?» O orador ficou encavacado. Encavacadíssimo. Como se nunca tivesse pensado nesse problema insólito. Balbuciou umas justificações e passou à frente.
Hoje de manhã passei pela Rotunda da Boavista, no Porto, e fui surpreendido com um anúncio de uma escola de línguas. Uma larga faixa estendida no edifício afirmava, orgulhosa: «Aqui não há computadores»!

Curioso! Como se pode ter orgulho em não seguir a moda das novas tecnologias?! Lembrei-me de um laboratório de línguas que existiu durante uns tempos no meu liceu. Tínhamos de falar para um gravador, com uns auscultadores na cabeça, e ouvir a nossa própria voz, para depois corrigir a pronúncia. Na altura aprendia-se francês.

Foi um fracasso, porque se exagerou. Ninguém tinha paciência para ficar muito tempo sozinho às voltas com uns auscultadores e uns microfones. Ao fim de pouco tempo regressámos por completo ao ensino presencial, com uma professora, com diálogos, com leituras, com ditados, com redacções.

Está-se hoje a passar por uma fase semelhante. Há vantagens imensas no uso dos computadores, mas as novas tecnologias têm um papel que não deve ser exagerado. O filósofo pós-moderno Lyotard afirmou, triunfante, que os computadores iam expulsar os professores, mas o bom senso prevaleceu. Pelo menos na Boavista há uma escola que está orgulhosa de ter professores. Daqueles vivos, de carne e osso.
mais in Expresso

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