domingo, janeiro 29, 2006

a caverna de pacheco pereira

[Sinto-me fascinado por pessoas como Pacheco Pereira. Não só que coleccionam muita coisa, como têm uma cultura imensa, e uma "caverna" repleta de motivos de interesse. Adoraria poder passar uns dias na casa de Rio Maior de JPP, para poder folhear alguns dos manuscritos, para poder tirar muitas fotos e escrever muitos posts sobre o assunto. Claro, uma longa entrevista, ou talvez documentário com ele, seria ainda mais fantástico... ideias!]

Actual
A fábrica do biógrafo de Cunhal
Jorge Leitão Ramos
A Vila da Marmeleira é uma pequena povoação, sede de freguesia de pouco mais de 400 habitantes, a sueste de Rio Maior. É aí, a uma hora de viagem de Lisboa, que José Pacheco Pereira fez reconstruir uma casa onde instalou a sua biblioteca.
Aí funciona a «oficina» do biógrafo de Álvaro Cunhal, mas, quando lhe digo isto, Pacheco Pereira corrige-me: não é uma oficina, é uma fábrica. E se eu prefiro a primeira designação, pelo grau de artesanato que lhe está associado (um homem solitário a esculpir pacientemente a sua obra), Pacheco Pereira provavelmente tem razão em lhe chamar fábrica, pela sua dimensão e pela sofisticação dos meios com que labora. Embora lá habite com carácter de permanência, a casa é, sobretudo, uma enorme caverna, labiríntica e sucessivamente ampliada pela aquisição e transformação de construções em volta, salas atrás de salas onde se alberga uma colossal biblioteca. E chamar-lhe biblioteca, já é recorrer a uma palavra reconhecível, porque o que lá está é um centro de documentação multimédia, repositório onde tanto podemos encontrar milhares de livros, como cartazes, cartas, uma vasta hemeroteca, arquivos inteiros de organizações políticas que se extinguiram, manuscritos, folhetos, papéis, enfim, de que Pacheco Pereira é um coleccionador bulímico e apaixonado, mas também gravações áudio e vídeo, objectos vários. Ele guia-me e aqui mostra-me uma colecção rara de «O Camponês», com alguns números a policopiador a álcool e outros corrigidos à mão, ali o espólio do Chico da CUF, mais adiante um livro de propaganda albanês, logo ali uma caixa com materiais de campanhas eleitorais recentes (lápis, aventais, sacos de plástico...), acolá um cartaz da campanha de Norton de Matos, tudo por entre uma floresta de prateleiras, estantes, arquivadores, alguns «quilómetros lineares» de documentação, segundo as próprias palavras de Pacheco Pereira - e montes de livros acumulados por todos os lados. São os que esperam pelo seu olhar e manipulação, antes de entrar nas estantes. Porque, confessa-me, «entra um metro linear de documentos por semana. Tenho problemas de espaço, sempre... Nesta fábrica, o meu rendimento vai todo».
mais in Expresso

Sem comentários: