As boas e as más notícias - Opinião de Mário Crespo
Em dias de temporal, às cinco da tarde, em Novembro, a Rua 57, entre a 10.ª e a 11.ª avenidas, deve ser dos sítios mais frios de Manhattan. O vento vem canalizado desde os cais do Hudson (onde em 1954 Elia Kazan filmou Há Lodo no Cais), vergastando colina acima armazéns e prédios indescritíveis.
Terá sido num dia assim, em 1984, que Don Hewitt ali chegou, vindo de uma reunião na 5.ª Avenida com os executivos da Westinghouse, a empresa de electrodomésticos, material de guerra e equipas de hóquei sobre gelo, a que tinha adicionado o controlo da CBS.
Havia grande expectativa na redacção. Com a informalidade que os seus mais de 30 anos de carreira na CBS lhe permitiam, ribombou logo à chegada ao open space no sexto andar, onde se acotovelam produtores, estagiários, editores de vídeo e a inevitável máquina de café, sempre a funcionar "Tenho boas e más notícias! Quais é que querem primeiro?"
É o decano Mike Wallace, com a respeitabilidade que lhe dava ser o mais antigo repórter do programa e ter acabado de instalar um pace-maker para regular um coração agitado desde a guerra civil do Líbano, quem rompe o silêncio, pedindo as boas primeiro. "As boas notícias são que, pela primeira vez, em 20 anos o 60 Minutos fez dinheiro!", disse Hewitt, enchendo uma daquelas temíveis canecas de café que os americanos têm sempre na mão.
"And the bad news?", pediu o diminuto Andy Rooney, o mais incisivo editorialista de televisão na América. "As más são que o 60 Minutos fez dinheiro pela primeira vez em 20 anos!"
Por paradoxal que pareça, gerar dinheiro é muito bom e muito mau para este género de conteúdo mediático. O futuro veio para o 60 Minutos, não tanto em cortes orçamentais, mas nas buscas insistentes de optimização de recursos, de modo a conseguir folhas de caixa sempre mais agradáveis de ler em Wall Street.
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sexta-feira, janeiro 20, 2006
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