domingo, dezembro 04, 2005

ser vagabundo

O frio é a minha morada
O saco-cama é a salvação do homem, diz Alberto. O pecado, nem precisa de o dizer, está no vinho entornado no chão de pedra onde há-de dormir esta noite. Quando o vento puxa a água, conta, é o primeiro a molhar-se. Problemas com a justiça mostraram-lhe o caminho da rua. É um dos 930 sem-abrigo da cidade de Lisboa que têm o frio como morada certa.
A massa de ar gelado que atravessou Portugal em Janeiro do ano passado provocando uma vaga de frio com mínimos históricos está na memória de todos os sem-abrigo da capital. Não precisam das previsões do Instituto de Meteorologia para afiançar "Este vai ser um Inverno daqueles." A adopção de medidas excepcionais de prevenção é apenas uma promessa da câmara municipal e "as promessas não aquecem".

Nas arcadas da Praça do Comércio, o frio aperta entre as 03.00 e as 06.00. E quando, pelas 07.00, o Ministério da Defesa abre as portas, Alberto é convidado a ir acordar para outro lugar. Já dormiu em pé, já descansou o corpo nos bancos das estações de metro da cidade, já passou noites acordado com medo. Não encontra conforto na música que lhe chega da maior árvore de Natal da Europa e teme notícias de mau tempo para o País.

Com uma camisola de gola alta, colete de lã e cachecol, Edmilton, 37 anos - menos um que Alberto -, está na rua há 60 dias. Nasceu e viveu em Minas Gerais, no Brasil, até "há quatro anos e sete meses", quando decidiu mudar de vida para melhor. O risco foi mal calculado e o emprego como cozinheiro e padeiro falhou quando mais precisava dele.

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