sexta-feira, dezembro 09, 2005

lembranças de lennon

[Este belo artigo do Mário Lopes no Público faz-me recordar a forma como fiquei a saber e tentei compreender como morreu John Lennon. E porquê.]

Ex-Beatle foi assassinado há 25 anos
Vinte e cinco anos depois, quem é John Lennon?
A imagem que dele se guarda é a do activista cantando Imagine ao piano. A música que dele se ouve é a criada com os Beatles. John Lennon é hoje, felizmente, um mito paradoxal
Uma voz na cabeça de Mark Chapman impelia-o a não ter contemplações. Falhara umas horas antes, quando pediu a Lennon que lhe autografasse Double Fantasy. Não podia falhar agora, quando o ex-Beatle por ele passava à entrada do Dakota Building, em Nova Iorque, de regresso a casa depois de uma rotineira sessão de gravação. Cinco tiros e cumpria o que as vozes lhe exigiam: matar o mito a que moldou a sua vida e que havia descoberto ser, afinal, um embuste.

Tragicamente, os tiros de Mark Chapman foram certeiros - ainda assim, falhou o alvo. Matou o homem, assinalou o nascimento definitivo do mito. A 8 de Dezembro de 1980, morreu o Beatle genial com uma errática carreira a solo, nasceu o Lennon que se implantou no imaginário comum sentado ao piano branco de Imagine.
Vinte e cinco anos depois da sua morte, quem é John Lennon? Muitas coisas, tal como o foi em vida. O activista liderando manifestações nas ruas enquanto declarava que "a propriedade não são nove décimos da lei, são nove décimos do problema", o vanguardista psicadélico criando obras-primas como A day in the life ou Tomorrow never knows e justificando-as resgatando o surrealismo como influência ("com ele percebi que as imagens na minha cabeça não eram sinal de insanidade"), o iconoclasta provocando um auto-de-fé contra os Beatles ("neste momento somos mais populares que Jesus; não sei quem desaparecerá primeiro, o rock"n"roll ou o cristianismo") ou o introspectivo dos primeiros anos a solo, utilizando a música como terapia para se libertar dos seus demónios interiores ("I don"t believe in Beatles/ Just believe in me/ Yoko and me", cantou em God).
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