TENHO O NOME DE UMA FLOR
Tenho o nome de uma flor
quando me chamas.
Quando me tocas, nem eu sei
se sou água, rapariga,
ou algum pomar que atravessei.
Eugénio de Andrade, in «As Mãos e os Frutos», 1948
CHUVA DE MARÇO
A chuva detrás dos vidros,
a chuva de março,
acesa até aos lábios, dança.
Mas a maravilha
não é a primavera chegar assim
como se não fora nada,
a maravilha são os versos
de Williams
sobre a rasteira e amarela
flor da mostarda.
in "Rente ao Dizer" (1992)
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
(...)
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
in «Os Amantes sem Dinheiro» (1950)
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segunda-feira, junho 13, 2005
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