domingo, março 27, 2005

magia aquática



As lendas celtas referem as focas que deixavam cair a pelagem e andavam em terra como os homens. Graças às correntes quentes da Irlanda, a vida eclode no Atlântico. Jennifer S. Holland - National Geo

Sobre um mar frio e encapelado, o dia soalheiro vai perdendo a luz à medida que as nuvens envolvem o céu numa névoa prateada. Como sempre, a chuva está pronta a cair. Quando partimos de Valentia, uma ilha junto à costa sudoeste da Irlanda, a “ilha Esmeralda”, o barco a motor bate na água de forma cadenciada, rumo aos rochedos afiados de uma série de ilhotas sem nome mais ao largo da ilha principal. Imobilizada pelo lastro e pelo incómodo fato seco de mergulho com o seu emaranhado de tubos, não consigo dobrar-me para calçar as barbatanas e, por isso, um dos membros da equipa fá-lo por mim. Ao aproximar-se das enormes escarpas de 100m de altura, o piloto abranda e sou conduzida até à amurada do barco, enquanto as ondas se agitam lá em baixo.

O mar acalma por um momento; coloco a máscara, respiro nervosamente pelo regulador e salto. O mergulho não é propriamente uma actividade típica da “ilha Esmeralda”, onde o céu plúmbeo, a aspereza da orla costeira e as colinas de veludo ensopadas impelem os visitantes até ao bar mais próximo. Que motivação pode levar uma pessoa a prescindir de beber uma cerveja coroada de espuma e mergulhar numa zona do Atlântico quase tão fria e desprovida de vida como um esqueleto?

Numa palavra: a surpresa. Assim que mergulho, com a água a 11º? C, sinto-me maravilhada com as anémonas que cintilam em tons vivos. Os linguados apresentam uma camuflagem sarapintada idêntica ao ambiente que os rodeia e não são visíveis à vista desarmada. Revelando um comportamento infantil, as focas cinzentas mordiscam a barbatana de outro mergulhador antes de dispararem para longe. O seu território, as ilhas Skelligs, não é mais do que um par de castelos de areia formados por arenito vermelho, cobertos de guano e habitados por milhares de gansos-patola e papagaios-do-mar. A maior ilha, Skellig Michael, ergue-se mais de 200m acima da água e mergulha 50m abaixo do oceano, fundindo-se com a plataforma continental. Mergulhar até à base deste rochedo coberto de kelp na companhia das lendárias focas e depois subir até à superfície, por entre as bolhas de ar que expirei, é para mim um raro privilégio.
in National Geographic


Something Fishy
Photograph by Brian Skerry
Some biologists thought that the finger-long red blenny (Parablennius ruber, also called a Portuguese blenny) lived exclusively in Portuguese waters. Turns out the little fish's home range is quite a bit bigger. Photographer Brian Skerry spied this one peeking from a crevice near Ireland's southwest coast. "We found they were common off Valentia Island," he says.

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