sábado, novembro 27, 2004

A procura incessante de Raquel

por João Tomé
A sala está cheia de pessoas com os olhos arregalados, a olhar avidamente para as peças de roupa que começam a diminuir de minuto a minuto. A secção feminina é sempre a mais requisitada nesta altura natalícia e também a mais extensa numa sala com tantos atractivos decorativos próprios da publicidade mágica e ilusória que enche todas as paredes, fazendo com que pareça que não se está numa sala qualquer.

"Raquel, anda lá! Não consigo mais estar aqui, estou farto de tanta compra, vamos!", persiste um jovem que tenta convencer a namorada a parar. Raquel nem olha para o seu companheiro, os seus olhos estão totalmente concentrados nas meias de marca neste expositor, nas malas lá ao fundo, nas luvas que estão mesmo ali ao lado, nas collants que lhe parecem tão engraçadas e ainda por cima estão a um excelente preço, nada a demove do objectivo de comprar o que esteticamente está mais na "moda", nada lhe tira o pequeno sorriso ao olhar para todas aquelas riquezas a preços mais acessíveis.

Para Raquel é como procurar um qualquer Santo Graal, ao descobrir uma peça que junta todos os requisitos o sorriso estende-se numa alegria imensa que preenche aqueles segundos de concretização.
É uma alegria éfemera a de Raquel, não existe propriamente uma concretização final na procura incessante consumista feminina.

O namorado de Raquel vai olhando para Raquel com cara aborrecida e que demonstra alguma habituação na procura incessante. Vai sorrindo levemente quando a companheira lhe mostra com o maior contentamento aquela camisola que procurava há tantas semanas, que combina com uma tal saia azul que lhe ofereceram no Natal passado. Raquel e o namorado saem pela saída principal deste centro consumista espanhol com nome de influências inglesas, ela leva dois sacos na mão, respeitantes às suas novas meias até ao joelho com características quentes para esta altura tão fria do ano e à sua nova blusa justa e fina a pensar nas estações do ano que se avizinham, ambos levam também duas horas de procura incessante...


Sem comentários: