quinta-feira, outubro 07, 2004

Polémica Marcelo Rebelo de Sousa


Perguntas a Adelino Gomes
Grande Repórter do jornal Público

João Tomé

Acredita que houve ingerência política no caso da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI?
Neste momento não tenho dados concretos que permitam dizer isso declaradamente. Agora a saída dele vem num contexto de intervenção pública governamental inaceitável. As declarações do ministro dos Assuntos Parlamentares, com a ameaça ao pedir a intervenção da Alta Autoridade para a Comunicação Social é totalmente desajustada. Quando o ministro diz que é preciso aplicar o princípio do contraditório, vem exigir uma aplicação desse princípio que é impossível pôr em prática. Como se a TVI tivesse a obrigação de passar a ter na emissão de domingo outros políticos, depois de Marcelo Rebelo de Sousa, a dizerem a sua opinião só por ser diferente. Ou o Público tivesse de colocar outros colunistas só porque os que tem dizem determinadas coisas. Mesmo no equílibrio que os meios de comunicação devem ter, eles podem privilegiar determinados colunistas ou opiniões se acham que são mais eficazes. Claro que deve haver diferentes sensibilidades, neste caso não se aplica.
Há aqui uma pressão sobre os meios de comunicação, sobretudo numa empresa como a TVI que está economicamente dependente da PT.

As declarações do ministro implicam todo o governo? Quais as consequências da situação para o governo?
Esta situação contamina todo o governo. Aliás, o primeiro ministro repetiu a ideia do contraditório após o ministro ter tido aquelas declarações e além disso não o demitiu. Por isso, este contexto criado é da responsabilidade do governo como um todo. Esta situação é grave e demonstra também alguma desorientação táctica do governo na matéria da comunicação e na forma como tem abordado estas questões publicamente.

O que perde o público português com a saída do Marcelo após tantos anos de comentários na TVI?
Perde duas coisas. Em primeiro lugar perde um comentador inteligente e que privilegia e enriquece o espaço público. Por outro lado, o que a opinião pública perde mais neste momento é a confiança no sistema de comunicação, mesmo que não haja influência directa do governo. Já existem muitos mecanismos do Estado na comunicação, como a PT ou a RTP e se ainda há uma política de interferência nos privados as pessoas têm o direito a achar que o estado está a interferir directamente na comunicação que lhes chega a casa, mesmo que não tenha havido.

in Destak

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