sábado, maio 08, 2004

The Day After Tomorrow, mais uma polémica

Filme-catástrofe Sobre Os Efeitos do Aquecimento Global Causa Polémica nos EUA
Por ANDREW BRIDGES, AP
Sexta-feira, 07 de Maio de 2004

Uma mega tempestade envolve o planeta, provocando tornados que varrem Los Angeles.Tóquio é arrasada por bolas de granizo do tamanho de toranjas, e Nova Deli é soterrada por neve. Após décadas a lidar com vulcões, extraterrestres, tremores de terra, asteróides e todos as catástrofes imagináveis, Hollywood voltou a atenção para um dos mais quentes assuntos científicos e políticos na ordem do dia: as alterações climáticas.

Não se pense que o filme "The Day After Tomorrow", brevemente nas salas de cinema, conta uma história plausível. No filme, que custou 125 milhões de dólares, o aquecimento global provoca uma sequência de acontecimentos que congelam o planeta num abrir e fechar de olhos.

Ninguém acredita que isto pudesse passar-se com a velocidade que acontece no filme, e muito menos os produtores da 20th Century Fox. "É muito cinematográfico escolher o cenário mais trágico, e foi o que nós fizemos", afirmou o co-autor do guião, Jeffrey Nachmanoff.

De qualquer modo, os cientistas estão a aceitar o filme - o que é fora do comum, dado que os investigadores trabalham com factos.

"A minha primeira reacção foi 'Meu Deus, isto é um desastre porque é uma enorme distorção da ciência. De certeza que vai provocar reacções adversas", disse Dan Schrag, um paleoclimatológo da Universidade de Harvard. "Mas acalmei-me, porque acho que o público é suficientemente sensato para distinguir Hollywood do mundo real."

Dan Schrag espera que o filme leve as pessoas a interessar-se pelo fenómeno do aquecimento global, assim como "Jurassic Park" despertou o interesse do público pelos dinossauros.

No filme, programado para ser exibido nos Estados Unidos no fim deste mês, o aquecimento global derrete as calotes polares, enviando torrentes de água fria para os oceanos. Essas cheias arrefecem a corrente do Atlântico Norte e desencadeiam uma nova idade do gelo, a nível planetário.

No filme, dirigido por Roland Emmerich (de "Independence Day"), surgem todo o tipo de fenómenos meteorológicos violentos. Muitos foram inseridos como uma justificação para utilizar modernos efeitos especiais, disse Nachmanoff.

Vários cientistas que viram o filme mostram-se tolerantes, fechando até os olhos à rapidez com que os acontecimentos se vão sucedendo. "A ciência é má, mas talvez esta seja uma oportunidade para intensificar o diálogo sobre o papel dos seres humanos nas alterações climáticas", disse William Patzert, investigador oceanográfico da NASA.

Muitas pessoas, incluindo os produtores, reconheceram que o tempo tinha que ser comprimido, para manter o interesse da audiência. Quando os cientistas que estudam o clima falam sobre alterações bruscas, estão a referir-se a centenas de milhares de anos. "A Fox não vai produzir um filme que se prolonga por 10 mil anos", comentou Patzert.

Tim Barnett, físico marinho do Instituto de Oceanografia Scripps, viu um "trailer" mais extensa do filme, e diz que mesmo alterações mais lentas podem causar estragos maciços. Mudanças subtis nos padrões de precipitação podem ter efeitos drásticos para as civilizações que não se consigam adaptar ou deslocar, de armas e bagagens, para outro ponto do globo.

Vários cientistas concordam que as alterações climáticas estão a acontecer, e que a actividade humana, sobretudo a queima de combustíveis fósseis, tem efeitos nessas mudanças. Mas o debate prossegue entre os políticos, sobretudo nos EUA.

No início, a NASA reagiu ao filme, ordenando aos cientistas que não o discutissem com os meios de comunicação. Mais tarde, a agência espacial clarificou as instruções, dizendo que não tencionava silenciar os cientistas. Alguns afirmaram que se estava a tentar limitar a discussão acerca do aquecimento global.

No filme, a actividade humana ajuda a desencadear a sequência de acontecimentos climáticos. As consequências são ilustradas pelos refugiados que, numa irónica inversão dos padrões de imigração correntes, escapam ao gelo dirigindo-se para o sul, ao longo da fronteira dos EUA com o México. "O que vai acontecer vai ser francamente pior do que aquilo que o filme mostra. A nossa forma de vida vai sofrer pressões enormes, e vão ocorrer conflitos intensos", disse Barnett.

O filme também mobilizou os activistas, que estão a aproveitar a ocasião para fomentar a discussão pública sobre um assunto que sentem que está a receber pouca atenção por parte do público e dos políticos. Lembram o que aconteceu com "The Day After", um filme de 1983 feito para televisão e que retratava o pós-guerra nuclear, e gerou um grande debate.


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