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Jovens, estudantes ou com empregos precários, e com uma tendência para eternizar a adolescência. É este o perfil habitual dos elementos das claques, de acordo com o antropólogo Daniel Seabra, e que o será apresentado no seminário Futebol, Ciências Sociais e Imagem, a decorrer no Instituto Superior das Ciências do trabalho e da Empresa (ISCTE) de quinta-feira a sábado.
A partir de uma análise da claque Super Dragões, do Futebol Clube do Porto, o antropólogo traça um quadro explicativo do que envolve estes grupos. Este é sobretudo um fenómeno geracional, já que se trata de pessoas que, sendo «fisiologicamente adultos, não o são socialmente» adianta Seabra. Ou seja, são jovens que ainda não têm o tipo de responsabilidades normalmente atribuído à idade adulta, como o casamento, os filhos, um emprego estável, assumidas tendencialmente tarde.
A adesão à claque tem a ver com um sentimento de entrega ao clube e à sua defesa. Um fenómeno que se insere no Movimento Ultra – movimento radical surgido em Itália no fim da década de 60, relacionado com conflitos sociais e políticos. Na linha desta ideologia, os elementos da claque caracterizam-se pelo seu alto grau de militância, «apoiando o clube acima de tudo, em qualquer circunstância», explica Daniel Seabra.
O elemento da claque é sujeito a uma «aprendizagem», a uma «socialização» às normas e aos valores do grupo. No caso, o principal valor a apreender é a exaltação do clube, das suas exibições e dos seus jogadores. Directamente ligada a isto está a «depreciação do adversário, a negação de qualquer valor que este possa ter». Ao mesmo tempo, o adepto deve solidariedade com os outros membros da claque, e deve participar em todas as actividades que o grupo desenvolva.
A violência normalmente atribuída às claques, sublinha Daniel Seabra, tem a ver exactamente com esta exaltação do clube. O confronto entre rivais surge quando há um excesso da defesa do valor da equipa. Por outro lado, o próprio contexto do futebol, «quase que a encenação de uma batalha», é extremamente importante no exacerbar das emoções e dos impulsos. Fenómenos de violência sem confronto, como a destruição de áreas de serviço, por exemplo, são atribuíveis a alguns elementos do grupo e aos valores que estas pessoas incluem «no seu próprio quotidiano».
O antropólogo admite que paralelamente existe um fenómeno de violência planeada, que surge como consequência da vontade das pessoas, e assume os contornos do hooliganismo. Este é, no entanto, um «efeito perverso que ocorre menos vezes». Daí que, considera, a mediatização da violência destes grupos seja uma «visão parcial» do fenómeno.
Daniel Seabra dedicou-se ao estudo das claques no âmbito do seu trabalho de doutoramento. No ISCTE, o antropólogo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa vai apresentar esta sexta-feira o estudo Por ti Porto Campeão – A Claque Super Dragões no Contexto Local e Nacional.
12-05-2004 17:26:01
quarta-feira, maio 12, 2004
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