sábado, agosto 25, 2007

choque :: prado coelho

[Já não bastava o autor deste blog sentir-se velho e triste com a morte da sua professora primária, agora foi um professor universitário. Uma notícia que chega como um choque para mim, embora fosse uma pessoa com uma saúde já um pouco débil (ainda há pouco tempo teve afastado das crónicas do Público por isso mesmo).
Era uma pessoa fora de consensos (suscitava amores e ódios) mas muito interessante, com um estilo peculiar e muito atento e curioso.
As suas aulas eram um grande reflexo da sua experiência pessoal, adorava falar dos seus tempos (e foram vários e em alturas diferentes) em Paris, em que foi na maior parte do tempo conselheiro-cultural da embaixada portuguesa. Como tinha histórias curiosas para contar, não se perdia nada nessas aulas que ganhavam um tom pessoal, mas que valiam bem a pena. O seu fascínio por Herberto Hélder também era transportado para as aulas, chegou a ler diversas vezes poemas do autor que adorava. Um homem positivo e encantado com livros, poemas e pessoas que "respirava" cultura. Até nas aulas notava-se que adorava mulheres, era a elas que mais queria convencer com o seu positivismo e experiência. Se havia sempre muitos alunos à sua volta, eram as alunas que mais o marcavam. Uma colega minha tornou-se amiga de EPC.]
As suas crónicas no Público fizeram história e derem-lhe uma visibilidade talvez maior, e sempre que se lia as opiniões variadas reconhecia-se sempre argumentos fortes e dignos, mesmo que nem sempre se concordasse com o que ele dizia. Quando deambulava em experiências culturais (desde a música ao cinema, passado pelos livros) ou experiências pessoais, era difícil não ficar surpreendido e encantado com o que se lia.
Um homem acima de tudo simpático e acessível de mentalidade aberta (o que é raro num homem com o seu estatuto), e que reflectia uma cultura do país, não toda, mas uma, sem dúvida.
As últimas vezes que contactei com EPC, após a faculdade, foi uma pequena entrevista por telefone há uns dois anos e vi-o num visionamento de um filme há cerca de um ano, em que ele encontrou por lá a filha, Alexandra Prado Coelho, jornalista do Público.]


Morreu Eduardo Prado Coelho
Faleceu hoje de manhã, na sua residência, vítima de doença súbita, Eduardo Prado Coelho. Tinha 63 anos. Professor, ensaísta e escritor, Eduardo Prado Coelho era colaborador do PÚBLICO desde o primeiro número, tendo mantido nos últimos dez anos uma coluna de segunda a sexta-feira, O Fio do Horizonte. O corpo de Eduardo Prado Coelho estará no Palácio Galveias hoje a partir das 18h00, de onde seguirá amanhã para o cemitério dos Prazeres, pelas 11h00.

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