domingo, agosto 19, 2012

o que é demais é moléstia... 'mister' jesus

Os bons e os óptimos. Há uma linha que separa os treinadores de topo e Jorge Jesus. Olhamos para o Real Madrid, para o Man. United, ou mesmo para o Bayern Munique e uma situação como a de Melgarejo... começar a titular no primeiro jogo da época, seria impensável. Não se pode arriscar nesses clubes de forma tão perigosa. A teimosia não pega (lembro-me da teimosia de Jesus em deixar o Roberto dar fífias seguidas em jogos a fio, da teimosia de por o Cardozo a marcar penáltis, da teimosia de por na esquerda o Bruno César e deixar no banco o melhor marcador com menos minutos da época passada: Nolito, da teimosia de jogar com 2 avançados).
Diz-se que Mourinho elogiou Jesus pela adaptação de Melgarejo a lateral. O elogio não invalida que Mourinho nunca arriscaria em colocá-lo a titular desta forma, até porque um erro poderia ter efeitos nefastos para o jogador. Viu-se isso esta época.

Psicologia do futebol. O jogo de hoje tinha ainda uma condicionante incrivelmente importante que, parece, Jorge Jesus voltou a esquecer. Nas últimas sete épocas (3 das quais com Jorge Jesus ao leme), o Benfica não venceu uma única vez a primeira jornada do campeonato.
As sete épocas sem vencer nesse primeiro jogo têm um registo curioso nos títulos obtidos.1 título nacional. Foi em 2009/10, a primeira época de Jesus no Benfica (já parece uma miragem) e conjugaram-se alguns factores incríveis e, ainda assim, o Benfica teve ir à negra na última jornada para evitar o título do Sp. Braga.
Os factores extraordinários foram a conjugação de dois jogadores nas alas únicos no mundo: o mais ofensivo (e actual jóia do Real Madrid, campeão espanhol em título) Di María e o mais defensivo (incansável, resistente, rápido, ofensivo quando quer) Ramires (jóia do Chelsea, campeão europeu em título).
Outro dos factores extraordinários (e muito relevante) foi o desgaste claro de Jesualdo Ferreira no FC Porto, numa época em que teve de lidar com a perda dos esteios/motores da equipa, Lucho e Lisandro.

Hoje, frente ao Sp. Braga, no jogo de estreia de José Peseiro nos minhotos e em pleno Estádio da Luz, o Benfica voltou a não vencer na 1ª jornada do campeonato. São oito anos/épocas sem vencer! Oito! É um registo incrível para um dos favoritos à vitória em qualquer Liga no mundo.

Qualquer 'José Mourinho' (treinador de topo) no mundo, iria fazer deste jogo o mais importante da época, valorizando-o, incentivando e pressionando os jogadores para a necessidade de acabar com uma malapata tão negativa e relevante (começar um campeonato atrás dos rivais é sempre mau sinal, especialmente quando é o habitual ano após ano). Isso ia-se ver em campo, com os jogadores a jogarem o dobro, isso ia-se ver em campo com o treinador a correr o mínimo de riscos possível. Jogaria a lateral esquerdo alguém rotinado com a posição e seguro, nem que fosse o Emerson (que ainda pertence ao Benfica mas está afastado), nunca se iria apostar numa táctica pouco testada/rotinada e que desprotege o meio campo, como o uso de dois avançados (Rodrigo/Cardozo) em vez do médio criativo (Carlos Martins ou Aimar).

O que é demais é moléstia. São pequenas grandes coisas que fazem a diferença. Para além do facto de já ser habitual o FC Porto ganhar todos os anos o campeonato, Jorge Jesus parece destinado em reduzir as hipóteses da sua equipa registando mais um desaire à malapata que cumpre o seu oitavo ano.
Só que este ano não há Di María, nem Ramires, nem o FC Porto perdeu o motor do meio campo e o esteio do ataque (mesmo que perca Hulk já tem alternativas credíveis com James Rodríguez rotinado em ser Incrível).

Dizem que Vítor Pereira é um treinador mediano e fraco. O senhor de Espinho pode ser fraco e não ter "inventado" Coentrão a lateral, feito render bons jogadores como Di María ou Witsel, mas tem menos tendência para inventar e deixar que o seu ego, teimosia, embirração com certos jogadores (paixões exageradas por outros) e mania da grandeza (antes da grandeza se verificar, existir ou chegar) atrapalhe em demasia. Num campeonato como o nosso, não estragar o que está bem, especialmente quando se treina o FC Porto, é uma virtude de dá títulos.

PS: Na época a seguir a ser campeão pelo Benfica, 2010/11, Jorge Jesus foi para a Supertaça frente ao FC Porto com a confiança no máximo, inventou à grande e à francesa e o FCP do sedento André Villas-Boas jogou com uma vontade inesgotável como se fosse o jogo mais importante das suas vidas (até porque AVB sabe bem a importância desse primeiro momento frente a um rival). Resultado? O FC Porto venceu a Supertaça por 2-0 e vergou o Benfica nesse jogo. O Benfica perdeu 3 dos 4 primeiros jogos da Liga!!! O FC Porto goleou o Benfica por 5-0 três meses depois, no campeonato, no Dragão e ganhou confiança para Janeiro e Fevereiro, quando jogou mal como tudo mas continuou a vencer. O Benfica saiu chamuscado no resto da época e terminou em 2.º... só que a 21 pontos do campeão FCP.
Jesus tem competência e muitos méritos, mas tem graves problemas na falta de capacidade em aprender com os seus próprios erros. E isso leva a que nos momentos chave, fracasse. De que vale a um clube como o Benfica golear por 5-0 durante oito jogos seguidos, se não consegue vencer os jogos principais com o rival número um, se não consegue vencer uma única vez a primeira jornada de uma Liga, se não consegue aguentar-se depois de um desaire e vencer, mesmo que a custo, o jogo seguinte?
O Benfica de Jesus empata pouco, 'prefere' perder. O Benfica de Jesus não costuma deixar um desaire sozinho. Se perde um jogo, empata o próximo ou perde os próximos dois. Ou seja, de que vale marcar muitos golos, estar 10 jogos só com vitórias, se depois segue-se um ciclo de três derrotas?

Resumindo, ao Jorge Jesus falta um bocadinho assim para ser um treinador de topo, mas esse bocadinho assim faz toda a diferença, especialmente porque não treina um clube único no mundo (onde os puxões de orelha do presidente ao treinador valem títulos no final da época), o FCP.

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