terça-feira, abril 14, 2009

divagar meio acordado...

Vir viver para Lisboa, em Outubro de 1999, para estudar, deu-me um outro olhar sobre Portugal e os portugueses.
Na Faculdade eu era o João das Caldas, havia depois uma panóplia de pessoas e respectivos nomes, todos portugueses, que, no entanto, vinham de sítios tão distantes quanto Macau, África, Açores, Madeira, Trás-os-Montes, Guarda, Covilhã, Évora, Algarve, Setúbal, Margem Sul, Odivelas, Aveiro, Porto, Ovar, Odemira. Tudo portugueses. Pessoas de origens diferentes, culturas ligeiramente diferentes, com um curso, uma universidade ou uma cidade em comum. Foi aí que senti na pele a verdadeira dimensão do país onde nasci e a que chamo casa.
Não faltavam pessoas de Macau, África, Madeira e Açores. Os sítios mais longe da minha terra natal. No entanto, todos eles eram tão portugueses quanto eu. Apesar de serem muitos os que vinham de Macau, foram esses (vindos de mais longe) que primeiro me acolheram quando era eu o novato e o estranho por ali.
Sempre achei fascinante conviver diariamente com portugueses de Macau (não que isso se note no dia a dia ou no trato normal com as pessoas). Vinham de tão longe mas tinham tanto em comum comigo, a começar pela língua, sem sotaque ou pronúncia.
Ao primeiro contacto ficava-se logo a saber que vinham de Macau. Da mesma forma como eles ficavam a saber que eu era das Caldas. É requisito. "De onde és?" Era pergunta recorrente. Quando os conhecia melhor ficava fascinado por tudo aquilo que, culturalmente, nos unia e, culturalmente, nos distinguia. A experiência asiática tinha os seus encantos. Não me esqueço de estar a contar à Marta como tinha achado fascinante ter estado num 12º andar de um prédio lisboeta, e ela me explicar que vivia, em Macau, no 46º andar (ou qualquer coisa do género). Pormenores, é certo, mas que demonstravam os sítios diferentes por onde tínhamos passado (nas Caldas um prédio com 10 andares é muito muito raro).
Não conheci, na faculdade, que eu saiba, portugueses de Goa, ou de outras paragens. Mas isso fez-me despertar o apetite de viajar pelo mundo, mas acima de tudo pelo mundo português.
Isto tudo para dizer que nunca fui à Madeira nem aos Açores, muito menos a Macau ou Angola, São Tomé, Guiné Bissau ou Moçambique... mas quero cumprir esse desejo em breve.
Madeira e Açores, em pleno Atlântico, são sítios daquilo a que chamamos Portugal, diferentes de tudo o que eu conheço no Continente. De certeza que existem várias ilhas no mundo do mesmo género de Madeira e Açores, mas nestas vivem e sempre viveram (desde que foram descobertas) portugueses. Ou seja, nascer em Portugal também é nascer numa ilha tropical. Da mesma forma que nascer em Portugal já foi nascer em África ou mesmo em Macau ou, em tempos idos, em Goa. É estranho mas ao mesmo tempo fascinante.


2 comentários:

anDrEIA disse...

Fascinante, sim senhor :) Curioso que o meu primeiro contacto com ppl da faculdade foi com portugueses de Moçambique, que também me acolheram na confusão que foi o nosso início de curso com direito a aulas suspensas num determinado período.
ahhh... parece-me que te esqueceste de referir a zona centro na tua enumeraçãodas diversas origens dos alunos de CC :P

She knows disse...

Para quem até ao ano passado nunca tinha andado de avião, não estás nada mal de viagens! Beijo e boas andanças por ai