domingo, março 01, 2009

reportagem de milão i




Começo aqui um périplo de reportagens sobre a minha ida a Milão, com o objectivo final de assistir ao Inter de Milão-Manchester United, da última terça-feira. As reportagens foram publicadas no site do Destak. A seguinte é de 22 de Fevereiro, o último domingo.



REPORTAGEM EM ITÁLIA
Milão, entre a moda e o Calcio

Estamos em Milão e contamos-lhe a ligação da cidade da moda, inundada pelos cartazes de Beckham e a mulher, Victoria, ao Calcio. Começamos com a ida ao jogo Milan-Cagliari, na tarde de hoje.

Em Milão, em vésperas de um Inter-Manchester United da Liga dos Campeões, três assuntos ocupam os jornais e as conversas: os Oscars, a Eutanásia e o Calcio (o futebol) – não necessariamente por esta ordem. Os italianos adoram o desporto-rei, não é por acaso que têm um dos três melhores campeonatos do mundo, o clube com mais títulos no mundo (o Milan) e o terceiro maior estádio da Europa, o Giuseppe Meazza, com lugar para umas impressionantes 82 mil pessoas.

Domingo de manhã é fácil encontrar um homem com o desportivo Gazzetta dello Sport debaixo do braço. A capa dizia "Balla Balotelli", numa referência à vitória do Internazionale graças ao golo do jovem italiano (os italianos são uma raridade no plantel do Inter e os nezarruzzi (os adeptos do Inter não gostam muito do facto). Falámos com dois destes homens que levavam o "Gazetta" debaixo do braço e cada um tem uma perspectiva diferente do Calcio e do novo "milanês", o português José Mourinho (falaremos mais sobre isso na reportagem a ser publicada no jornal em breve).

Teste de fogo a San Siro
Na verdade, o Calcio é o campeonato de topo europeu com menos espectadores e menos receitas de bilheteira (mesmo com estádios de grandes dimensões). Consegue ter menos adeptos que o campeonato alemão e o campeonato francês. O que significa que o amor pelo futebol é mais caseiro do que na euforia do estádio.

Depois de termos conhecido dois milaneses que não vão ao estádio por causa da confusão e de terem receios – preferem ver no conforto do sofá –, fomos a San Siro, testar os temidos tiffosi que vão aos estádios. O jogo (deste domingo) era o Milan-Cagliari e o clube da casa não podia perder para não deixar escapar ainda mais o Inter. O nervosismo era evidente nos exigentes tiffosi.

San Siro fica num extremo de Milão, com acesso relativamente perto de Metropolitano. A chegada ao estádio é feita de forma calma, sem cantorias nem grandes euforias pelos tiffosi. No entanto, as cores vermelho e preto acompanham todos os adeptos na longa caminhada até ao estádio. O Giuseppe Meazza, que fica na gigantesca e repleta de betão Piazzale (Praça) Angelo Moratti (pai do actual presidente do Inter, Massimo Moratti), é um gigante de betão envolto em planície cinzenta e vivendas de luxo. Sem jogos é uma zona pacata e deserta, com jogos é outra coisa.

Bilheteiras desorganizadas
A necessidade de vitória e proximidade com o jogo decisivo com o Werder Bremen, a contar para a Taça UEFA trouxe mais adeptos do que tem sido habitual. San Siro estava com pouco mais de meia casa (40 mil espectadores). Um grande número de adeptos decidiu comprar bilhete mesmo antes do jogo e a confusão era grande junto das complicadas bilheteiras, onde uma fila é uma misturada de empurrões e desorganização. Resultado? Pelo menos 45 minutos para comprar bilhete, mesmo numa fila pequena.

Cesare é tiffosi e adepto do Milan desde bebé. Embora habituado à confusão das bilheteiras, não deixa de reclamar para quem vem comprar sete ou oito bilhetes para os amigos. "É uma vergonha, despachem-se", diz. Está preocupado com o Cagliari, "uma equipa surpresa", mas mais ainda com o Inter, "que está imparável", mas "nós vamos lá esmagá-los".

Um ucraniano milanês
Já Vitaliy é um tiffosi emprestado. Emigrante ucraniano há mais de duas décadas em Milão, é um habitual do estádio e ficou muito surpreendido por ver um português por aquelas paragens. "Não costumamos ver portugueses por aqui, a não ser no relvado e agora no banco a orientar", disse surpreendido, reconhecendo que, para além dos italianos vêem-se mais ingleses (em grande número agora com a chegada de Beckham) e os persistentes japoneses. Depois de falar na rigidez e inteligência de José Mourinho, depressa falou de Rui Costa: "que saudades daquela classe, mas que grande jogador".

Se o bilhete com presença do número de Bilhete de Identidade e com o nome impresso no próprio ingresso é de elevada tecnologia, o mesmo não se pode dizer do acesso ao lugar. Este gigante de betão tem quatro grandes espirais que servem de acesso (uma espécie de escalada muito longa) para o 3.º anel.

As comparações com o antigo Estádio da Luz são por demais evidentes. Se o acesso é difícil e ajuda ao exercício, o esforço é depressa compensado quando nos deparamos com a dimensão épica e bela do Giuseppe Meazza. Bem no topo do 3.º anel é possível ter vista para parte da cidade e ver um mundo de pessoas direccionadas para um relvado. Tal como no antigo Estádio da Luz a grandeza tem um preço: a visibilidade é reduzida, ou melhor, os jogadores estão muito longe.

A entrada para o estádio inclui outra particularidade: os adeptos, nomeadamente os membros da claque do Milan não se cansam de cantar, mesmo antes do jogo começar. Depois de um minuto de silêncio em honra de Candido Cannavò, director histórico do jornal Gazzetta dello Sport, que morreu este fim-de-semana – que valeu palmas de todo o estádio – começou a magia do futebol.

As cuecas de Beckham
Ao longo de todo o jogo deu para tirar algumas notas. Os tiffosi são impacientes com os seus jogadores. Seedorf, o autor do golo da difícil e sortuda vitória do Milan frente ao Cagliari foi muito assobiado sempre que perdeu a bola, isto antes de marcar o golo decisivo. Os adeptos não se cansaram de cantar e testar na perfeição a acústica incrível de San Siro. Beckham é dos jogadores mais elogiados e observados. Até os adversários o têm de observar, mesmo quando não estão a olhar para ele. Porquê? Porque a fotografia dele em cuecas da Emporio Armani apareceu na publicidade junto ao relvado várias vezes. Aliás, ele e a mulher, Victoria, estão espalhados em cartazes gigantescos por toda a cidade… ou não fosse esta a cidade da moda.

Há ainda vários adeptos japoneses totalmente equipados a rigor, com t-shirts com autógrafos e que filmam grande parte do jogo, bem como comemoram efusivamente um golo do Milan. São tiffosi-turistas muito especiais.

Com o fim do jogo, a larga avenida que dá acesso ao metro fica inundada de adeptos. A vitória escassa e muito sofrida não deu grandes alegrias, até porque o Inter de Mourinho continua bem longe.

Resumindo. Não vimos nenhum problema relacionado com a violência e insegurança, como alguns italianos nos falaram, mas reparámos numa desorganização e confusão na hora de conseguir bilhetes que torna uma ida ao estádio em Itália um processo algo moroso. Ainda assim vimos muitos pais e respectivos filhos, bem como os habituais vendedores de bilhetes da candonga. Num jogo que até teve um estádio composto, muitos para verem Beckham de perto, mais parece comodismo e situações pontuais violentas que mantém os estádios italianos com pouco público num dos principais campeonatos do mundo.

Amanhã há conferência de imprensa com José Mourinho no Centro de Treinos Appiano Gentile e terça-feira, em San Siro, o Inter-Man. United. Tentaremos estar presentes em ambos os eventos e contar o que vimos.






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