domingo, outubro 19, 2008

workaholic *






O trabalho define-nos? Se há coisa que ser adulto, ou uma espécie de adulto, me tem ensinado é que a questão inicial depende por completo da pessoa, do trabalho que desempenha e do meio onde vive. Irrita-me pessoas que querem saber o que faço para me categorizarem. Acontece isso em alguns meios. Gosto do que faço. Identifico-me com o que faço. Sinto que posso ser eu próprio naquilo que faço e sinto-me um privilegiado por estar numa profissão que procura um equilibrio, uma imparcialidade e uma verdade, mesmo que isso também tenha trazido tantos inconvenientes.
Lido diariamente com pessoas de diversas profissões. É um pouco como o jogo do rato e do gato. Com umas sou eu que quero falar e não consigo, com outras são elas que tentam falar comigo, e eu não quero. Atendo sempre (não devia, é certo). Mas o que me têm para "vender" não serve, mesmo que elas tentem "vender" a todo o custo, embelezar o mais possível. Dentro das pessoas que têm o cargo de "tratar" com os media, há vários tipos. Aqueles que tentam "vender" a todo o custo e os outros que são mais moderados e mais sinceros naquilo que fazem.
Há ex-jornalistas que vão para o "outro lado". Ganham mais. Têm mais regalias. Fizeram bem. É um caminho que parece normal. Olho para eles, como olho para os jornalistas nas conferências de imprensa, visionamentos (de cinema) onde estão os críticos, e apresentações de automóveis, onde estão os "especializados" e penso que o que nos separa é mais o trabalho que desempenhamos do que as pessoas que somos. Simplesmente, por desempenharmos um trabalho, muitas vezes deixamos de ser as pessoas que somos, para sermos as empresas que representamos e os produtos que a empresa quer vender. Há mal nisso? Nenhum. Faz parte desta sociedade que foi criada por nós e que nós alimentámos.
Temos de fazer parte dela, também podemos refugiarmo-nos noutros lugares, ou noutras espécies de trabalhos.
Há quem escreva a sua opinião como trabalho. Quem faça humor como trabalho. Quem viaje e relate as suas experiências como trabalho. Há quem dê chutos numa bola como trabalho. Tudo profissões aparentemente mais "livres" mas que nos mantém agarrados ao mesmo sistema, talvez com horários e regras mais "livres" e mais adequados ao modo de vida que cada um escolheu. Nestas profissões liberais também é necessária aprovação e atenção, para que se possa continuar a praticá-las e se possa manter o estilo de vida. Querendo coisas diferentes, somos pessoas mais iguais do que os nossos empregos nos parecem fazer ser.


A ocasião faz o ladrão, mas também faz o profissional.
O rumo profissional nem sempre é diferente do rumo pessoal. Vai ao sabor das oportunidades e descobertas no dia-a-dia e só depois vem a nossa capacidade de escolha. Nesse aspecto acredito que as mulheres tenham mais capacidade de escolha que os homens... daí também advém a maior necessidade de se sentirem independentes. Terem casa (comprada mesmo) e carro.
Numa estatística caseira, posso dizer que 87% das mulheres que conheço tem ou está em vias de comprar casa - quase todas por decisão individual e vontade própria. Já nos homens, apenas 20% tem ou está em vias de comprar casa própria - e a grande maioria só vai comprar por insistência e ajuda dos pais. Ora, pecando pelo exagero estatístico caseiro, isto deixa-me intrigado.



* Sim. Eu às vezes sou workaholic, na perspectiva de continuar a fazer o que gosto, escrever, mesmo fora do período de trabalho...



Tyler Durden: You're not your job. You're not how much money you have in the bank. You're not the car you drive. You're not the contents of your wallet. You're not your fucking khakis. You're the all-singing, all-dancing crap of the world.
do filme Fight Club

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