terça-feira, maio 25, 2004

Sida na China É Uma "Bomba ao Retardador"

in Público
Terça-feira, 25 de Maio de 2004

Responsável da ONU em visita a Pequim diz que o número de novos casos reportados no ano passado duplicou

Uma "bomba ao retardador" - foi esta a expressão utilizada por Peter Piot, director-executivo da Onusida (agência das Nações Unidas que coordena os esforços globais de luta contra a sida), para classificar a situação da doença na China.

"O número de novos casos reportados pela China no ano passado duplicou. Passou de 10 mil, em 2002, para 21 mil", disse Piot, citado pela AFP, durante uma visita a Pequim. O responsável pediu às autoridades do país para não caírem no mesmo erro que a Rússia ou a Indonésia onde a reacção à epidemia chegou tarde de mais. "É preciso agir já", advertiu.

"Continuamos perante uma epidemia invisível, sem rosto" e para combatê-la é necessário "quebrar o silêncio que existe à volta da sida na sociedade chinesa", afirmou o director-executivo da Onusida à Reuters. A agência noticiosa recorda que, no passado, activistas que denunciavam a situação que se vive no país nesta matéria foram silenciados pelas autoridades.

Contudo, Piot fez questão de lembrar que a forma como a China tem vindo a lidar com a doença mudou, o que pode significar que as estimativas feitas pelas Nações Unidas - que apontam para que, caso nada seja feito, a infecção venha a atingir, em 2010, qualquer coisa como 10 milhões de pessoas - acabem por não se confirmar.

Os números oficiais falam de 840 mil pessoas seropositivas ou com sida na China. Mas as estimativas dos activistas no terreno são mais pessimistas. Dizem que só na província de Henan (Centro) deverá existir mais de um milhão de infectados, em grande medida graças a transfusões de sangue recolhido sem controlo.

Piot mostrou-se ontem "particularmente preocupado" com a propagação em províncias como Xangai e Guangdong - os motores do desenvolvimento económico do país. "É aqui que temos assistido ao maior aumento de novas infecções. É aqui que poderemos vir a ter uma nova onda de infecções por HIV na China, entre os mais empreendedores membros da nossa sociedade".

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